Renato Bolsonaro é chefe de gabinete do prefeito de Miracatu, que é do mesmo partido de Jair Bolsonaro (PL). A cidade recebeu R$ 35 milhões em dezembro
247 - O ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos), confirmou ao jornal O Globo que o irmão de Jair Bolsonaro, Renato, o procurou para que houvesse liberação de verbas da União, no final de 2021, para Miracatu (SP), cidade onde atua o familiar do presidente. O governo federal investiu R$ 35 milhões na cidade paulista. Deste montante, R$ 9 milhões saíram da pasta comandada por Roma.
“Ele é irmão do presidente, circulou (nas outras pastas) e, talvez até pelo jeito dele, suave, todo mundo tem vontade de ajudar o cara. Dá vontade de ajudar. Mas (ele) não é aquela pessoa que fica vendendo prestígio. Não é dessas criaturas que a gente vê em Brasília a vida toda”, destacou o ministro ao Globo.
“Eu estive com ele em novembro e ele comentou comigo que tinha uma ação lá no município. Encontrei com ele duas vezes, já. Em uma delas, lá no Planalto. Ele comentou: ‘Ministro, tem uma obra de uma quadra lá no município’. Tinha algum imbróglio burocrático, que obstruída”, explicou João Roma.
“Você sabe que eu recebi um apelido e eu tenho que fazer jus à minha fama, de ‘João Solução Roma’. Os outros ministros ficam me chamando assim, de João Solução. Ele (Renato) comentou comigo. Ele foi todo humildezinho: ‘Ô, ministro, têm um negócio para resolver no município'. Parece que ele estava há um ano e meio batendo cabeça com essa quadra. Aí, eu anotei e resolvi. Na semana seguinte, já tinha resolvido o assunto e eu tinha dotação orçamentária. Resolvi rápido”, completou.
Em seguida, Renato Bolsonaro agradeceu o ministro. “Ele me ligou, depois, todo humildezinho, todo bonzinho e tal e disse: ‘Ô, ministro, muito obrigado, pensei que isso não ia resolver mais. Não sei o que…tal’. Desse jeito”, conta Roma. Segundo o ministro, não há conflito de interesse em ajudar o irmão do presidente, seu chefe.
“Sinceramente, não vejo não (conflito de interesse). Ele é irmão do presidente, mas ele tem legitimidade, trabalha lá no município. A função dele é essa mesmo. Se ele tivesse um escritório de lobby, aí havia um grande conflito de interesse. O ruim são as coisas nebulosas, as coisas escondidas. O cara não é uma eminência parda”, afirmou.
Segundo ele, “o presidente nunca me pediu nada, nem sabia disso”.
O caso
Renato Bolsonaro é chefe de gabinete do prefeito de Miracatu, Vinícius Brandão, do PL, mesmo partido de Jair Bolsonaro. Entre os dias 17 e 30 de dezembro, foram enviados R$ 35 milhões de verbas federais para a cidade através dos ministérios do Desenvolvimento Regional; Agricultura; Cidadania e Turismo.
Segundo levantamento do Globo, com dados do Portal da Transparência, ao menos R$ 10 milhões do total de recursos são provenientes de emendas de relator do chamado orçamento secreto, que é um instrumento pelo qual um parlamentar destina recursos federais a uma determinada localidade.
“Além dos R$ 35 milhões empenhados, no final do ano, a cidade foi agraciada com o efetivo pagamento de emendas parlamentares. Uma delas partiu de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal e sobrinho do chefe de gabinete do prefeito”, informa a reportagem do Globo.
No dia 23 de dezembro, Renato Bolsonaro postou um vídeo celebrando a chegada de uma retroescavadeira comprada por meio da destinação feita pelo sobrinho: “estamos aqui acabando de receber uma PC, uma máquina zero bala, doada de emenda parlamentar do nosso amigo deputado Eduardo Bolsonaro. (...) Parceirão que deu essa oportunidade a Miracatu”.