Cineasta explica documentário '8 presidentes, 1 juramento' como aporte para retomar o fio da história, das Diretas Já até Bolsonaro
Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (06/12), o jornalista Breno Altman entrevistou a cineasta Carla Camurati, diretora do documentário "8 presidentes, 1 juramento- A História de um Tempo Presente”.
Camurati discorreu sobre o que a levou a produzir o longa-metragem, dizendo acreditar que o Brasil vive um momento em que é necessária a reflexão, pois “estamos entrando num descompasso político em que falta memória e as pessoas ficam facilmente manipuláveis”.
A diretora explicou que, apesar de retomar a história desde o período das Diretas Já terminando com a posse de Jair Bolsonaro, o filme "não é uma retrospectiva", nem uma crítica ou avaliação do que aconteceu, “é um espelho para que a gente visse o que tem feito com a nossa democracia”.
“A gente tem um problema sistêmico, os fatos se repetem, o Brasil é um desperdício porque tudo perdeu o valor. Então o filme não é uma crítica a um presidente ou outro, não quis julgar o que aconteceu, é uma maneira de olhar para o país”, reforçou.
Camurati rejeitou os comentários a respeito de sua obra de que, na tentativa de ser imparcial, não foi dura o suficiente com Bolsonaro, por exemplo, que estava em plena campanha eleitoral quando ela estava montando o longa: “É uma bobagem. As pessoas querem ver o que elas já sabem, mas a gente já sabe o que aconteceu. Eu queria fazer um recorte de uma sequência de altos e baixos, sem pegar leve com ninguém”.
A diretora enfatizou o caráter expositivo do documentário, levantando fatos e emoções, segundo ela, para gerar reflexão no espectador, sem apresentar opiniões prontas que as pessoas pudessem “comprar sem refletir”, “até porque a gente vive num mundo em que todo o mundo opina sobre tudo”.
Também por isso ela não quis entrevistar os presidentes mencionados, “porque se eu os entrevistasse, com certeza eles teriam mil razões para justificar o que fizeram, mas o que fica é o que aconteceu, independentemente dos motivos”.
Confessando que seu presidente favorito dos oito da obra é Itamar Franco, a diretora também ponderou sobre o processo eleitoral de 2022 e o projeto de país que quer construir.
“Hoje a manipulação é enorme, mais cruel e desenfreada e a gente precisa saber mais sobre o que estamos vendo. Temos que nos preparar muito bem para as próximas eleições porque não é só um voto, é o que a gente quer para o país. A gente tem que saber o que a gente quer, para além do desejo alheio dos programas dos políticos, para contratar direito na hora de votar. A questão é que o país avança e volta porque não temos uma população que fique marcando uma base da qual a gente não cai, e acabamos entrando com muita raiva na hora de votar”, defendeu.
Cinema brasileiro
Camurati comentou brevemente sobre a situação do cinema e do audiovisual brasileiro. Ao contrário de muitos críticos, ela não acredita que predomine trabalhos de costumes por conta da Lei Rouanet, que na prática permite às empresas ditar o conteúdo das obras para que deem mais bilheteria.
“Acho que o humor é uma coisa que sempre fez sucesso no Brasil. Mas o legal do cinema brasileiro é que temos muitas produções diferentes. Conseguimos uma riqueza que durante muito tempo não tivemos. Mas, claro, também não dá para achar que está maravilhoso porque não está, em nada”, argumentou, apontando problemas na gestão e legislação cultural brasileiras.