Depois de três anos na Venezuela, jornalista diz que vida está melhorando, liberdades seguem vigentes e mobilização popular é intensa
Michele de Mello (Foto: Reprodução)
Opera Mundi - No programa SUB40 desta quinta-feira (02/12), Breno Altman entrevistou a jornalista correspondente do Brasil de Fato, ex-apresentadora da teleSUR e colaboradora de Opera Mundi, Michele de Mello, que vive em Caracas desde março de 2018.
Mello, que foi à Venezuela por turismo e acabou, na mesma viagem, fazendo uma entrevista e sendo contratada como redatora na teleSUR, discorreu sobre seus anos vivendo no país, analisando as mudanças políticas e econômicas que presenciou.
Do ponto de vista cotidiano, ela afirmou que os venezuelanos se parecem muito aos brasileiros, e têm muito carinho pelo Brasil, lamentando a situação na qual o país se encontra sob o governo de Bolsonaro.
Com relação a aspectos culturais, ela diz ter estranhado a impontualidade. "Quando cheguei, era estranho também não ter a mesma liberdade de sair à noite que eu tinha no Brasil, mas era porque a Venezuela ainda estava em crise”, conta.
Das coisas que mais gosta do país, ela citou o modo de ser alegre dos venezuelanos, que, para ela, se relaciona com a própria luta bolivariana e chavista: “O processo de luta tem que ser feito com seriedade, mas também tem que ser feito com alegria.”
Presenciar o chavismo, aliás, foi algo muito marcante para a jornalista. Ela relembrou alguns importantes processos eleitorais do país, começando com a reeleição do presidente Nicolás Maduro em 2018. “O chavismo é uma força viva, que está constantemente se reinventando, e é uma democracia. Inclusive a Venezuela dá uma lição de democracia para o mundo. Foram 29 processos eleitorais realizados e os venezuelanos sempre tinham uma participação muito grande, iam votar, iam às ruas contestar. Existe um senso de justiça e coletividade, de exercício da democracia”.
O resultado disso é que ela viu o país mudar muito em pouco tempo. Contou que as condições de vida estão melhores graças à recuperação econômica e maior estabilidade da moeda, com o combate à hiperinflação.
“A gente viu muitos venezuelanos saírem do país, mas agora muitos estão retornando e abrindo seus negócios, ajudando a movimentar a economia, porque o país está mais estável e mais seguro. Por outro lado, também houve um aprofundamento das desigualdades”, refletiu.
Eleições regionais e o pleito de 2024
Mello também avaliou as mudanças que vêm sofrendo o chavismo e como ele tem sido visto pelo povo, por exemplo a partir dos resultados das últimas eleições regionais, celebradas há algumas semanas. Apesar de o Grande Polo Patriótico, coalizão chavista, ter saído como grande vencedor, ela destacou que a legenda não foi a mais votada. A oposição obteve um total de 51% dos votos, mas, como saiu dividida, perdeu para as forças governistas.
“Essas eleições serviram de termômetro para o chavismo, que perdeu alguns estados importantes e recebeu menos votos totais. Além disso, houve a participação de apenas 45% da população. Em anos anteriores, superava os 60%”, citou.
Segundo ela, o que acontece é que o povo venezuelano entende que a direita não tem nada a oferecer, mas, ao mesmo tempo, já vê desgaste em Nicolás Maduro.
“Acho que é o momento de o chavismo escutar as pessoas, resolver alguns problemas urgentes, como a questão dos salários. Atualmente o salário mínimo é de dois dólares, se a gente fizer o câmbio. A cesta básica familiar gira em torno de 300 dólares. O chavismo ainda é a maior força política do país, mas são 23 anos de governo, há muito desgaste”, reforçou.
Por isso, ela acredita que nas eleições presidenciais de 2024, Nicolás Maduro não será candidato. Ela citou nomes como o de Diosdado Cabello e Delcy Rodríguez como candidaturas possíveis.
Fonte: Brasil 247