Na Declaração Confidencial de Informações (DCI), documento exigido para assumir o cargo de ministro, Paulo Guedes afirma que é o proprietário exclusivo do Descartes Fundo de Investimento Multimercado, gerido pelo Itaú e cuja valorização em um ano e meio foi de R$ 6,9 milhões
247 - O ministro da Economia, Paulo Guedes, mantém um fundo de investimento no Brasil, com lucro mensal de quase R$ 400 mil. Na Declaração Confidencial de Informações (DCI), documento exigido para assumir o cargo, Paulo Guedes afirma, na página 8, que é o proprietário exclusivo, o único cotista, do Descartes Fundo de Investimento Multimercado.
A revelação foi feita pelo deputado federal Elias Vaz (PSB-GO), durante audiência com Guedes na Câmara nesta terça-feira (23), onde foi chamado para explicar a offshore que possui nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal. Durante seu depoimento, o ministro admitiu que usou a offshore para fugir da cobrança de impostos dos Estados Unidos.
Segundo informações da Comissão de Valores Mobiliários, autarquia ligada ao Ministério da Economia, o Itaú assumiu a gestão desse fundo no dia 31 de janeiro de 2019, no valor de R$ 15,7 milhões. Relatório de 30 de junho de 2020 aponta um salto para R$ 22,6 milhões, valorização de R$ 6,9 milhões em apenas um ano e meio.
Questionado, Guedes evitou responder. O parlamentar precisou repetir a pergunta para conseguir um posicionamento do ministro. “Eu não sei quanto é que tem lá, não é o meu foco hoje”, se limitou a dizer.
O deputado que fez a revelação e é um dos autores do pedido de convocação do ministro criticou a resposta de Guedes: “essa informação faz o ministro cair no ridículo. Quem é que mantém um investimento e não liga para o que está acontecendo, não busca saber se está sendo lucrativo ou não? Ou será que para ele um lucro de R$400 mil por mês não faz diferença? Claramente, o ministro está escondendo um fundo milionário que, na minha opinião, tem conflito de interesse com o cargo que ele ocupa”.
Offshore
O deputado Elias Vaz foi quem revelou que Guedes omitiu à Comissão de Ética do governo que a filha continua como diretora da empresa. Por iniciativa do deputado, foi protocolada representação no Ministério Público Federal para que seja investigada a participação tanto da filha quanto da esposa de Guedes. O objetivo é que o MPF analise o extrato de operações realizadas pela Dreadnoughts International de janeiro de 2019, quando Guedes assumiu a pasta, até agora.
“Guedes mentiu ao dizer que não tinha familiares em nenhuma empresa que pudesse configurar conflito de interesses. Ele disse que deixou a direção da offshore em dezembro de 2018, mas não falou que a filha continuou como diretora. Essa empresa está sob suspeita de ter recebido informações privilegiadas”, afirma Elias Vaz.