Segundo o ministro do STF, "esse choque, com esse bloco de realidade" depois de 7 de setembro provocou o recuo de Bolsonaro, que teria "passado dos limites"
247 - Atual decano do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes afirmou que Jair Bolsonaro reconheceu na prática ter "passado de um dado limite" quando recuou das ameaças à Corte ao divulgar uma nota depois dos atos do 7 de setembro. De acordo com o magistrado, "esse choque, com esse bloco de realidade" deve ter produzido algum tipo de efeito em Bolsonaro.
"Nós tivemos, de fato, um momento muito tenso, não só no contexto verbal, com as várias falas que antecederam o 7 de setembro, como também na própria execução da manifestação", disse o ministro durante a "Live" do jornal Valor Econômico, na sexta-feira (24).
Ao comentar as manifestações daquele dia, o ministro afirmou que estamos "lidando com mentes muito perturbadas e desinformadas", ao lembrar do episódio em que bolsonaristas divulgaram um vídeo comemorando um falso estado de sítio.
"Depois do dia 7, vem o dia 8, vem o dia 9, vem o dia 10, e vocês, eu, e toda a torcida do Flamengo, do Corinthians e do Santos temos que continuar cuidando dos nossos afazeres, temos que continuar pagando nossas contas. O governo até agora não compôs devidamente o Orçamento, não sabe como vai enquadrar as contas de precatórios no teto, não sabe como vai administrar o auxílio emergencial", disse.
O ministro também afirmou ser "um grande equívoco, político e histórico, fazer do Tribunal o bode expiatório nessa crise". Ele fez referência à iniciativa de Bolsonaro em criticar as instituições, para fazer o povo pensar que elas são o problema da má governabilidade.
Na live, Gilmar ministro lembrou da importância do inquérito das "fake news", aberto para apurar ataques e ameaças contra o Supremo. "Eu não me canso de repetir que esse inquérito talvez tenha poupado o Brasil de uma derrapagem para um terreno autoritário. Evitou-se chegar a um quadro, que talvez fosse irreversível. Eu suponho que já havia ali a estruturação de milícias, havia empresários financiando esses grupos", disse.
Em discurso no dia 7 de setembro, Bolsonaro afirmou que não acataria decisões do ministro do STF Alexandre de Moraes. Em agosto, o magistrado incluiu Bolsonaro no inquérito das fake news.