A CPI da Covid está com registros de que Ivanildo Gonçalves da Silva, funcionário da transportadora VTC Log, foi ao Departamento de Logística do Ministério da Saúde em julho de 2020, quando a área era comandada por Roberto Dias. A comissão investiga o ex-diretor pela suspeita de ter recebido vantagem da Voetur, braço da VTC Log, através de viagens ou serviços
CPI e o ex-diretor da Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias (Foto: Pedro França/Agência Senado | Marcos Oliveira/Agência Senado)
247 - Registros em posse de senadores da CPI da Covid mostraram que Ivanildo Gonçalves da Silva, motoboy que sacou R$ 4,74 milhões em espécie da conta da transportadora VTC Log, esteve no Departamento de Logística do Ministério da Saúde em 12 de julho de 2020, de acordo com informação publicada nesta quarta-feira (1) pelo jornal O Globo. Àquela época, a área era comandada por Roberto Ferreira Dias, apontado pelo cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da empresa Davati, como autor de pedidos de propina para a distribuição de vacinas.
A CPI investiga Dias pela suspeita de ter recebido vantagem da Voetur, braço da VTC Log, através de viagens ou serviços. Senadores exibiram imagens de câmera de segurança de uma agência bancária e mostraram que o motoboy esteve no mesmo local nos dias 31 de maio, 22 de junho e 24 de junho deste ano. Nessas datas, de acordo com documentos apresentados pelos parlamentares, houve pagamentos em benefício de Ferreira Dias nos valores de R$ 6 mil, R$ 6 mil e R$ 13,5 mil, respectivamente.
Parlamentares da CPI identificaram nessa terça-feira (31) que motoboy esteve em uma agência bancária de Brasília (DF) no momento em que boletos no nome de Roberto Dias teriam sido pagos no local, em pelo menos três ocasiões. O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão, exibiu a imagem de Gonçalves da Silva entrando em um banco.
Os integrantes da CPI aprovaram uma nova convocação do motoboy, em decisão nessa terça, dia em que ele prestaria depoimento. A sua ida à comissão foi cancelada após um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Nunes Marques desobrigá-lo de comparecer ao Senado.
Outro lado
O advogado de Roberto Dias, Marcelo Jorge, justificou a presença de Gonçalves da Silva no Ministério da Saúde ao dizer que o motoboy é um dos funcionários responsáveis pela entrega de faturas da VTC Log à pasta. De acordo com o defensor, o sistema do Ministério da Saúde não permite o envio do documento por e-mail.
Em nota, a VTC Log afirmou que "Ivanildo Gonçalves, como portador da empresa VTCLog, esteve presente no Ministério da Saúde apenas para entregar documentos".
"Alguns documentos são enviados por e-mail, mas há limite de tamanho pra envio de alguns documentos eletrônicos. Por esse contexto, as faturas mensais, por exemplo, são enviadas em pen drive até a Coordenação Geral de Logística da Pasta", disse.
Propina
O nome do ex-diretor também foi citado no dia 1 de julho pelo cabo da PM de Minas Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da Davati. Segundo o militar, Dias pediu propina de US$ 1 por dose de vacina nas negociações com a Davati, que ofertava 400 milhões de doses. O pedido de dinheiro ilegal aconteceu em fevereiro deste ano, disse o cabo. O contrato não foi fechado.
Dias foi preso no dia 7 de julho, acusado de mentir na CPI. Foi solto depois de pagar fiança de R$ 1,1 mil. Em depoimento à comissão naquele dia, ele negou os pedidos de propinas.
"Acerca da alegação do senhor Dominghetti, nunca houve nenhum pedido meu a este senhor", disse. "O senhor Dominghetti, que aqui nessa CPI foi constatado ser um picareta que tentava aplicar golpes em prefeituras e no Ministério da Saúde e durante sua audiência deu mais uma prova de sua desonestidade", afirmou.