Na terça, sócio da empresa Belcher confirmou ter conversas periódicas
com Ricardo Barros, mas negou ter discutido vacina
ADRIANO MACHADO/REUTERS-10/06/2021
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
da Covid-19 ouve, nesta quarta-feira (25/8), o diretor-presidente do Fib Bank,
Roberto Pereira Ramos Júnior. A intenção dos senador é obter mais informações
sobre as negociações da empresa Precisa para a compra da vacina Covaxin.
A Fib
Bank presta serviço de garantia de fianças e atuou como garantidora do contrato
da Precisa Medicamentos, para a venda de 20 milhões de doses da Covacin, com o
Ministério da Saúde, segundo os senadores. a terça-feira (24/8), o
diretor tentou adiar o depoimento sob a
alegação de que precisaria levantar mais dados e documentos para apresentar à
CPI.
Depoimento
anterior
Na
terça-feira (24/8), os senadores ouviram o depoimento do sócio da Belcher
Farmacêutica, Emanuel Catori. Na avaliação dos integrantes da CPI, a audiência
reforçou a relação da empresa com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Ao longo
de toda a oitiva, na terça-feira , eles ressaltaram pontos em comum entre a
empresa, as negociações, e o líder do governo.
Foi ele,
por exemplo, que levou Catori a uma reunião no Ministério da Saúde, com a
presença do ministro Marcelo Queiroga, como admitiu o empresário, negando que
no encontro tenha sido discutido vacinas contra covid-19. Para o senador
Rogério Carvalho (PT-SE), a oitiva deixou clara a relação da Belcher com
Barros.
"A
presença do Barros com representantes da Belcher em reunião do Ministério da
Saúde... Barros tem o comando do Ministério da Saúde. Já foi ministro, e está
por trás de várias tentativas de intermediar negócios entre empresas e o
ministério", disse. O senador se refere às negociações envolvendo a
Precisa Medicamentos.
O nome de
Barros surgiu na CPI justamente no âmbito desta empresa, depois que o deputado
federal Luis Miranda (DEM-DF) disse que ao denunciar suspeitas envolvendo a
importação da vacina indiana Covaxin, do laboratório Bharat Biotech, o
prsidente Jair Bolsonaro disse que a situação parecia ser "rolo" de
Barros. O parlamentar sempre negou as acusações, e disse que nunca participou
de negociações de vacina.
"Hoje
tem importância porque é mais um fato que vai definir o modo operacional com
que o deputado Ricardo Barros atuava dentro do ministério", pontuou. Na
oitiva, Catori disse inicialmente que não foi levado à reunião por Barros, e
depois, admitiu que foi ele que o marcou o encontro.
O
depoente negou que a empresa tenha qualquer relação com Barros e que o deputado
não atuou como facilitador. Perguntado se em seu telefone seriam encontradas
conversas entre ele e Barros, ele negou, mas, imediatamente corrigiu. "Conversas...
Eu converso com ele normalmente, mas nada sobre negócios", afirmou,
admitindo manter conversas periódicas com o deputado.
"Em
nenhum momento, ele me ajudou em nada sobre a vacina. O Brasil todo soube da
nossa vacina. Para vacina, a gente não precisa de nenhuma interferência
política, ainda mais em se tratando de uma vacina de uma dose", disse
Catori.
Com sede
em Maringá (PR), cidade onde Barros foi prefeito, um dos sócios da Belcher é
filho de Francisco Feio Ribeiro Filho, que atuou na prefeitura da cidade na
gestão de Barros e é amigo do deputado. Além disso, o advogado Flávio
Pansieri, que foi contratado pela Belcher para atuar na área regulatória, já
foi advogado de Barros e sócio em um escritório de advocacia do genro do
deputado, Diego Campos. Perguntado pelo vice-presidente da CPI, Randolfe
Rodrigues (Rede-AP), Catori disse que a relação era "mera
coincidência".
O senador
Humberto Costa pontuou que ao longo da oitiva, o depoente disse que Barros não
tinha "nada a ver com isso". "Mas tudo tangencia: a empresa é de
Maringá, vossa senhoria é de Maringá, o sócio de vossa senhora é filho de uma
pessoa que já exerceu funções públicas na prefeitura de Maringá quando ele
(Barros) era prefeito, funções públicas no governo do Estado quando a esposa do
deputado era governadora", ressaltou.
Costa
afirmou que é difícil acreditar que o Ministério da Saúde simplesmente tenha
descoberto a empresa. "É difícil acreditar que não tenha havido algum tipo
de ajuda para que isso acontecesse e que isso tenha sido feito pelo senhor
Ricardo Barros. Eu vejo que ele teve papel de definir o marco legal, de indicar
a Belcher como intermediária para a compra dessa vacina", frisou.
Fonte: R7