"Da minha parte não haverá ruptura. Sei das consequências internas e externas de uma ruptura. Mas provocam-nos o tempo todo. Não é justo prender quem quer que seja sem o devido processo legal. Não é justo o TSE agora desmonetizar páginas que falam que o voto impresso é necessário, ou que desconfiam do voto eletrônico", disse ele
(Foto: Divulgação)
BRASÍLIA (Reuters) - Depois de fazer diversas ameaças ao longo das últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que da parte dele não haverá uma ruptura institucional porque sabe das consequências, mas reclamou que o "provocam o tempo todo" e que o país está sendo "sufocado" por uma minoria.
"Da minha parte não haverá ruptura. Sei das consequências internas e externas de uma ruptura. Mas provocam-nos o tempo todo. Não é justo prender quem quer que seja sem o devido processo legal. Não é justo o TSE agora desmonetizar páginas que falam que o voto impresso é necessário, ou que desconfiam do voto eletrônico", disse o presidente em um evento no Mato Grosso.
Esta semana, o corregedor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Felipe Salomão, ordenou a plataformas de mídia social que suspendam o pagamento por publicidade veiculada de 11 páginas acusadas de publicar notícias falsas e ataques ao sistema eleitoral brasileiro. Todas elas eram de apoiadores radicais de Bolsonaro e, em vários casos, se sustentam apenas com a chamada monetização.
Bolsonaro, que faz ataques constantes à imprensa tradicional e já atacou pessoalmente diversos jornalistas, usou o caso para defender o que chamou de liberdade de imprensa, e classificou o caso de "cerceamento de mídias sociais" e "ditadura branca".
"Liberdade de imprensa acima de tudo. Vocês tem que ser livres não importa que cause transtorno a quem quer que seja", disse, dirigindo-se aos jornalistas presentes no evento. "Queremos cumprir a Constituição. Nós jogamos dentro das quatro linhas da Constituição. Alguns pouquíssimos querem jogar fora dela. Não podemos aceitar uma ditadura branca em nosso país com cerceamento das mídias sociais".
Na mesma fala, o presidente afirmou que está aberto ao diálogo, ao mesmo tempo em que disse que vai continuar "usando sua voz" e que "algumas pessoas estão turvando as águas no Brasil".
"Quero paz e tranquilidade. Converso com senhor Alexandre de Moraes, se quiser conversar comigo; converso com senhor Barroso, se quiser conversar comigo; converso com senhor Salomão, se quiser conversar comigo. Ele fala o que acha que está certo, eu falo o que eu acho do lado de cá. E vamos chegar num acordo", disse. "É pedir muito o diálogo? Da minha parte eu nunca vou fechar as portas para ninguém."
Recentemente, depois de ataques constantes de Bolsonaro a ministros do STF, especialmente Moraes e Barroso, o presidente da corte, Luiz Fux, cancelou um encontro entre os chefes dos Três Poderes marcado anteriormente. Esta semana, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, estiveram com Fux para tentar remarcar a conversar, mas encontraram resistência.
Em uma fala depois dos encontros, Fux disse que irá analisar a possibilidade.
Apesar de agora falar em diálogo, e reclamar que a crise "mexe com o dólar, mexe com o combustível" e causa inflação, Bolsonaro nunca baixou o tom agressivo e mantém as ameaças.
Na mesma fala desta quinta, disse preferir até que as manifestações do dia 7 de setembro não acontecessem, mas emendou: "mas o que está em jogo é a nossa liberdade".
Depois, em outro discurso, voltou a falar do ato do dia 7 de setembro que está sendo organizado por seus apoiadores. Afirmou que as manifestações serão para "pedir liberdade" porque o país está sendo "sufocado por uma minoria" e que não há o que temer do "movimento 7 de setembro" porque o "nosso povo é ordeiro, pacífico".
"Movimento 7 de setembro" é como organizadores têm se referido às manifestações marcadas para o feriado da Independência, em que irão pedir o voto impresso e a dissolução do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em sua fala, Bolsonaro afirmou que foi "convidado" a participar, mas na verdade o próprio presidente provocou os atos ao dizer a seus apoiadores, por mais de uma vez, que se fosse organizada uma manifestação para dar um "último recado" sobre o voto impresso, ele se "prontificaria" a participar.
O presidente confirmou, como a Reuters havia antecipado, que participará dos atos tanto em São Paulo quanto em Brasília.
"Me perguntam onde vou estar no 7 de setembro. Vou estar onde o povo estiver. Posso adiantar? Pretendo estar na Esplanada dos Ministérios. Pretendo estar à tarde na Paulista. Eu fui convidado e convido qualquer político a estar presente. É a segunda independência nossa", afirmou.
Bolsonaro ainda voltou a criticar o STF, afirmando que é de "onde menos se esperava controles sobre a liberdade que está vindo uma mão pesada", e que "o povo" estaria apavorado com ações de "alguns poucos que habitam a Praça dos Três Poderes".