Estagnação econômica, reformulação do Bolsa Família mesmo com a vigência do Teto de Gastos e alta do fundo eleitoral são alguns dos motivos que fazem empresários terem a percepção de incompetência do governo. Além da falta de retomada do crescimento, a elite também passa a criticar os questionamentos de Jair Bolsonaro sobre a lisura do sistema eleitoral
(Foto: Reuters)
247 - O empresariado passou a ter uma percepção crescente de que o governo Jair Bolsonaro é incompetente. Aumento do fundo eleitoral e valores do Bolsa Família fora do Teto de Gastos, por exemplo, são temas que começam a ganhar a atenção dos analistas, de acordo com informação publicada nesta sexta-feira (13) pela coluna de Laura Karpuska, no jornal O Estado de S.Paulo.
O Congresso se movimenta para adotar duas medidas que têm influência nas eleições do ano que vem: turbinar o Fundo Partidário, pago todos os anos às legendas, e retomar a propaganda das legendas no rádio e na TV fora do período eleitoral. Se a proposta receber o aval da Câmara e for sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, o valor dos dois fundos (eleitoral e partidário) pode chegar a R$ 7 bilhões, um patamar inédito, e não ficar nos R$ 5,7 bilhões.
Bolsonaro entregou à Câmara dos Deputados, na segunda-feira (9), as propostas na tentativa de viabilizar o Auxílio Brasil, programa que irá substituir o Bolsa Família. Pelas estimativas, o custo aumentará de cerca de R$ 30 bilhões anuais para R$ 56 bilhões por ano.
Além da estagnação econômica, os questionamentos de Jair Bolsonaro sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas viraram mais um motivo para empresários demonstrarem insatisfação com o governo. Segundo a presidente do conselho curador da Fundação Tide Setubal e herdeira do conglomerado Itaú, Maria Alice Setubal, 70 anos, por exemplo, "na hora em que você questiona o sistema eleitoral, você está questionando a democracia e gerando uma possível instabilidade que sempre assusta o mercado".
A atual gestão deu continuidade ao congelamento de investimentos públicos, medida aprovada no governo Michel Temer, e agora tenta driblar o teto dos gastos para implementar medidas que possam limitar o aumento da rejeição ao atual governo. Não é por acaso. Segundo dados oficiais, o Produto Interno Bruto (PIB) nacional cresceu apenas 1,4% em 2019, teve queda de 4,1% em 2020 e, atualmente, tem uma taxa de desemprego de 14% (14 milhões de desempregados.
Pelo menos 116,8 milhões de brasileiros conviviam com algum nível de insegurança alimentar no final do ano passado, de acordo com pesquisa realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan). Segundo o mesmo estudo, 9% da população (19,1 milhões) enfrentava o nível mais grave, o que se chama de fome.
O "índice de miséria" no Brasil bateu recorde e atingiu 23,47 pontos em maio, dado mais recente, no maior valor desde o início da série histórica, em março de 2012. Calculado pela LCA Consultores a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice mede a satisfação da sociedade com a economia.
Levando em consideração as estatísticas socioeconômicas, Bolsonaro terá de fazer um milagre para convencer os empresários e a população em geral de que ele é a melhor alternativa para o Brasil em 2022. Ele vem demonstrando que fazer articulações para um golpe é a única saída para se manter no cargo.
O país já sentiu, no entanto, as consequências da violação da soberania popular, em 2016, quando Dilma Rousseff foi afastada sem crime de responsabilidade, mesmo sendo inocentada pelo Ministério Público e por uma auditoria do Senado. Corte de direitos e investimentos, entrega de setores estratégicos para estrangeiros e deixar a iniciativa privada com a responsabilidade de retomar o crescimento são medidas que fazem parte de uma agenda sem resultado algum.