Ministro da Defesa e comandantes militares recusaram-se a fazer demonstração de força nas ruas em março de 2020 e acabaram demitidos por Bolsonaro um ano depois
247 - O desfile dos tanques e outros blindados pela Esplanada dos Ministérios convocado por Jair Bolsonaro para a manhã desta terça-feira é exatamente o que ele pediu ao então comandante do Exército, Edson Pujol, em março de 2020, no auge da crise que levou à demissão do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e dos três comandantes das Forças Armadas, um ano depois. A demissão foi causada pelo desgaste na relação da cúpula militar com Bolsonaro e deu-se pela recusa dos comandantes militares e do ministro da Defesa de atenderem à determinação presidencial. A informação é da jornalista Malu Gaspar, de O Globo.
“Na época, Pujol se negou a atender Bolsonaro – assim como Azevedo e Silva, que não encampou a ideia do presidente de promover um voo rasante com os caças suecos Gripen pela Esplanada”, lembra Gaspar.
Ao deixar o cargo, exonerado pelo presidente em 30 de março passado, Azevedo e Silva afirmou a auxiliares que havia saído porque não queria reviver maio de 2020. Referia-se ao sobrevoo de helicóptero que fez com o presidente sobre a Esplanada dos Ministérios durante uma manifestação pelo fechamento do STF e por intervenção militar, segundo a jornalista de O Globo.
Na ocasião, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica decidiram seguir Azevedo e Silva e colocar seus cargos à disposição, mas foram surpreendidos ao saber pelo novo ministro, Walter Braga Netto, que já estavam sendo exonerados.
“Ontem, diante da notícia de que a Marinha promoveria um desfile de blindados na Esplanada, no mesmo dia em que a Câmara deve derrubar a adoção do voto impresso, dois desses interlocutores me confirmaram a informação”, escreveu Gaspar.
Na época, o presidente da República estava em choque com o Supremo Tribunal Federal em razão das decisões da corte que permitiram a ação de governadores no combate à pandemia de Covid-19.
“Os comandantes anteriores se negaram a fazê-lo, mas os atuais pelo jeito não se importam”, informa a jornalista, acrescentando: “[a parada militar] servirá como uma mensagem ao Congresso de que o presidente não aceita a derrota prevista para hoje no plenário da Câmara, que deve derrubar a adoção do voto impresso nas eleições de 2022”.