À CPI da Covid, o coronel Marcelo Blanco da Costa, ex-assessor do Ministério da Saúde, admitiu negociações sobre vacinas com a iniciativa privada e afirmou que "gostaria de já ter algo desenhado", após o Congresso aprovar a distribuição de imunizantes por entes privados. "Muito grave, projetando um mercado que ainda não existia", disse Renan Calheiros
247 - Em depoimento à CPI da Covid, nesta quarta-feira (4), o tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa, ex-assessor do departamento de Logística do Ministério da Saúde, confessou que fazia negociações com o setor privado sobre a distribuição de vacinas contra a Covid-19. Segundo o coronel, após a aprovação de um projeto no Congresso para a distribuição de vacinas por entes privados, ele (o militar) "gostaria de já ter algo desenhado".
Em sua fala, o ex-assessor acrescentou que, "ao perceber um movimento no parlamento em debater uma pauta desta só queria construir um modelo de negócios". "Meu intuito ao senhor Dominguetti, tinha apenas o desenvolvimento de parcerias ao setor privado", disse Blanco.
O coronel Blanco mostrou áudio do dia 22 de fevereiro. O jantar ocorreu no dia 25 de fevereiro - nesta última data teria havido o pedido de propina, segundo afirmou o policial militar Luiz Paulo Dominghetti à CPI no dia 1 de julho. No dia 25 de fevereiro, Blanco já não era servidor do Ministério da Saúde.
Após o coronel citar o áudio do dia 22, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), destacou que o projeto foi aprovado no dia 23/02 e sancionado somente no dia 22 de março.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), alertou para a necessidade de maiores cuidados por parte do coronel. "O Sr não acha que foi muito açodado em pensar em venda de vacina, sem ter pesquisado a empresa? Era para ter pesquisado que empresa é esta, quem é Dominghetti. Muito estranho isso coronel...", disse o parlamentar.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AM), também criticou as revelações do coronel. "Muito grave, projetando um mercado que ainda não existia e que depois se comprovou, de interesse da Precisa", disse o emedebista.
"A posição dele confrontando interesses dentro do MS, reunindo servidores com empresário era demonstração do enfrentamento que havia no órgão em mercado que seria de interesse da Precisa, que seria criado para tanto. Para a precisa que seria uma espécie de Domighetti da Covaxin. É o estado que chegamos no Brasil, de roubalheira", complementou.
PM havia confirmado propina
Em depoimento à CPI da Covid, no dia 1 de julho, o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominguetti Pereira falou sobre o jantar do dia 25 de fevereiro e disse que US$ 3,50 era o valor da dose na primeira tratativa sem propina.
De acordo com o militar, as solicitações de propina só viriam com um US$ 1 dólar por dose a pedido de Roberto Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde.