As negociações de venda de 400 milhões de doses teriam tido como articuladores principais, segundo Carvalho, Roberto Dias e Elcio Franco, do Ministério da Saúde, e o reverendo Amilton de Paula
Eduardo Pazuello (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
247 - O representante oficial da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, que depõe nesta semana à CPI da Covid, elaborou, segundo Renata Agostini, da CNN Brasil, um termo de declaração com tudo aquilo que acha necessário esclarecer aos senadores da comissão, inclusive o ponto que marca o fim das negociações das vacinas: a demissão do ex-ministro Eduardo Pazuello.
Ele organizou uma cronologia para relatar aos parlamentares tudo o que presenciou, contando inclusive o nome dos personagens envolvidos em cada episódio. Cristiano diz ter sido somente um intermediário nas negociações entre a Davati e o Ministério da Saúde.
Ele começa a fazer parte das transações, segundo relato próprio, em fevereiro, quando o então diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, o telefona para iniciar uma negociação informal sobre vacinas. As conversas continuaram e, então, Carvalho teria passado a procurar alguém que pudesse fornecer imunizantes ao Brasil: é neste ponto em que ele se torna representante oficial da Davati no Brasil.
Ele chega a Davati por meio de amigos, conta Carvalho, conhecidos do chamado "coronel Guerra", que vive nos Estados Unidos e é amigo do presidente da Davati, Herman Cárdenas. Tanto Guerra quanto Cárdenas garantiram a Carvalho que a Davati poderia fornecer 400 milhões de doses de imunizante ao Brasil. A primeira proposta formal de venda das vacinas, segundo Carvalho, foi feita por Cárdenas diretamente a Dias em 26 de fevereiro, um dia depois do jantar entre Luiz Paulo Dominghetti, policial militar representante da Davati no Brasil, com o então diretor da Saúde, no qual Dias teria pedido propina para fechar a compra dos imunizantes.
O reverendo Amilton de Paula, que abriu as portas da Saúde para a Davati, teria prometido, em 12 de março, uma sexta-feira, que levaria Carvalho ao Palácio do Planalto para uma conversa com Jair Bolsonaro. Carvalho estava em Brasília para uma reunião com o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco. Quem leva Carvalho ao encontro é o reverendo Amilton e o coronel Helcio Bruno, do Instituto Força Brasil.
Depois do encontro na Saúde, onde Cristiano teria apresentado ao secretário-executivo informações da oferta de venda de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca ao Brasil, por volta de 12h, todos os integrantes da reunião foram até a casa do reverendo para um almoço.
No almoço, então, o reverendo teria pedido que Carvalho ficasse um pouco mais em Brasília. "Após o almoço, o reverendo, sua equipe, sugeriram que eu ficasse em Brasília no sábado, porque poderia apresentar a mim alguém da Casa Civil ou ao presidente Bolsonaro, em um café da manhã com líderes religiosos. Atendi ao pedido do reverendo, ficando até domingo em Brasília. Porém, não participei do café da manhã".
O reverendo teria dito que não foi possível marcar o encontro.
Após este episódio, conta o representante da Davati, os contatos com o reverendo se encerraram, assim como as tratativas com o Ministério da Saúde, em razão da demissão do então ministro da pasta, Eduardo Pazuello e de Elcio Franco.