Vacinação em massa e retorno imediato do auxílio
emergencial também são prioridades da luta do movimento em 2021
Além de enfrentar
o desmonte da reforma agrária no país e garantir dignidade aos brasileiros que
sofrem com a fome durante a pandemia, o "Fora, Bolsonaro" será
o norte da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para o
próximo período.
É
o que aponta a carta divulgada hoje (30) pelo MST, redigida em encontro virtual
da Coordenação Nacional, que ocorreu entre os dias 28 e 30 de janeiro, e contou
com a participação de cerca de mil delegados de todo país.
No
documento, foram elencadas algumas bandeiras centrais: a defesa do Sistema
Único de Saúde (SUS) e a garantia da vacinação para todos os brasileiros, a
retomada do auxílio emergencial e
a saída imediata de Bolsonaro da presidência.
A
derrubada dos vetos presidenciais ao auxílio aos trabalhadores do campo e a
preocupação com o retorno das aulas em plena escalada no número de óbitos pela
covid-19 também são citadas.
“Nos comprometemos
em organizar o 'Fora Bolsonaro' em todos os municípios que temos acampamentos e
assentamentos, dialogando com o povo e defendendo a vida, produzindo alimentos
saudáveis para amenizar os efeitos da crise junto ao povo”, diz um trecho da
carta.
O
MST também presta solidariedade aos familiares das mais de 222 mil pessoas mortas pela
covid-19 no país. Para o movimento, as mortes não são
causadas apenas pelo vírus, mas são resultado direto das políticas
neoliberais que colocam “o lucro acima da vida”.
“Apenas
com o lucro, em 2020, das dez pessoas mais ricas no mundo, seria possível
comprar vacina para toda população mundial”, aponta outro fragmento.
A
situação de desalento vivida pelos brasileiros após o fim do auxílio
emergencial é destacada pelo MST. Atualmente, o país tem 14,3 milhões de desempregados,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e até o
momento, o governo federal não apresentou qualquer proposta efetiva de
transferência de renda à população para substituir o benefício.
“São
60 milhões de brasileiros e brasileiras abandonados pelo Estado, expostos à
violência e à fome”, aponta outro trecho do documento.
Confira
a carta na íntegra:
Ancoradas e ancorados pela
mística rebelde e cultivada com a cultura camponesa, a Coordenação Nacional do
MST, no marco dos nossos 37 anos, reuniu-se de forma remota no período de 28 a
30 de janeiro de 2021, contando com cerca de 1000 delegadas e delegados de todo
país, com o objetivo de analisar a conjuntura nacional, internacional, nos
aprofundar no estudo da questão agrária, projetar a Resistência Ativa e a
construção permanente da Reforma Agrária Popular.
“Sonhamos para além de nós
próprios” e dedicamos a nossa formulação e disposição de luta em solidariedade
aos familiares das 222.666 pessoas mortas (oficialmente) na pandemia no Brasil.
Entendemos, que essas mortes não são apenas causadas pelo vírus, mas é
resultado da lógica de um mundo regido pelo neoliberalismo, onde o lucro está
acima da vida. E, em meio a corpos em gritos de asfixia, cerca de 2 mil
bilionários aumentaram suas fortunas para 12 trilhões de dólares. Apenas com o
lucro, em 2020, das dez pessoas mais ricas no mundo, seria possível comprar
vacina para toda população mundial.
Mas, para os povos, a crise do
capitalismo tem se agravado. E tem cobrado em destruição da natureza, em
empregos e renda, e sobretudo em vidas humanas! No Brasil, esse cenário
se aprofunda sob o comando do governo Bolsonaro, que tem a pior gestão da
pandemia no mundo. Chegamos a um cenário onde dos 100 milhões de brasileiros
economicamente ativos, 14 milhões estão desempregados, 6 milhões desalentados e
40 milhões de pessoas vivem de “bicos”. São 60 milhões de brasileiros e
brasileiras abandonados pelo Estado, expostos à violência e à fome, agravada
pelo fim do auxílio emergencial e pela alta no preço dos alimentos. Volta
Auxílio Emergencial!!
A vacinação não está garantida
para todos. E isso não é só incompetência, é projeto de morte, de quem despreza
a vida do povo brasileiro! A situação de Manaus e de outros estados, sem
oxigênio, sem médicos e insumos, é um crime de Estado. Queremos respirar!
Vacinação já!! Para todos e todas, gratuita e garantida pelo SUS! Portanto
é urgente a revogação da Emenda Constitucional 95, que impôs cortes para a
saúde pública e a educação.
Contudo, sabemos que não será
garantido pelo projeto de morte, e o povo brasileiro tem se manifestado em
resistência. Já são 66 pedidos de impeachment protocolados no Congresso.
Exigimos que o presidente da Câmara respeite a vontade popular e coloque o
Impeachment em votação. Jamais esqueceremos os nomes de todas as autoridades
que silenciam ou colaboram com o assassino que está no poder. Estamos atentos e
exigimos a restituição dos direitos políticos de Lula. E não recuaremos diante
das ameaças de rompimento com a democracia.
O Fora Bolsonaro é urgente
e necessário! Não podemos esperar! Chegou a vez do povo! 2021 trouxe um novo
clima político protagonizado pelas forças populares e de esquerda, reunidas
pela Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo, demonstrando que é possível combinar
cuidados sanitários com ações simbólicas. Daqui pra frente, não daremos trégua,
voltaremos às ruas com nossos carros, bicicletas, carroças e muita indignação.
Seguiremos em luta no mês de fevereiro e em março seremos tomados pelos aromas
das lutas do 8 de março.
Portanto, convocamos toda a
classe trabalhadora a construir às bandeiras de lutas:
1) A luta pela Vacinação Já!
Volta Auxílio Emergencial! Fora Bolsonaro!
2) Exigimos a derrubada dos
vetos presidenciais ao auxílio aos povos do campo!
3) Denunciarmos que a volta às
aulas é crime. Aulas se recuperam, vidas não!
4) Defender o SUS e revogar a
Emenda Constitucional 95!
Nesse sentido, nos
comprometemos em organizar o Fora Bolsonaro em todos os municípios que temos
acampamentos e assentamentos, dialogando com o povo e defendendo a vida,
produzindo alimentos saudáveis para amenizar os efeitos da crise junto ao povo,
como 4 milhões de quilos de alimentos doados em 2020.
Seguiremos inspirados no
exemplo de Paulo Freire em seu centenário e seguiremos firmes com o seu legado,
produzindo alimentos saudáveis, plantando árvores, fazendo formação política,
organizando nossa Jornada de Formação e Trabalho de Base e contribuindo com as
ações de solidariedade nas periferias urbanas junto com outros movimentos
populares e parceiros da nossa luta.
Reafirmamos a nossa
solidariedade com todos os povos em luta no mundo e que estão resistindo à
políticas de neocolonialismo, do imperialismo e de aumento da exclusão e da
migração forçada. Nos solidarizamos com os povos do campo, das águas e das
florestas em luta! Nos somamos à luta contra o racismo, contra a LGBTfobia e
contra o patriarcalismo em todo mundo! Prestamos nossa solidariedade aos
camponeses e camponesas da Índia que estão em luta há diversas semanas.
Seguimos na Resistência Ativa,
nos nossos territórios enfrentando as políticas de desmonte da reforma agrária
e as tentativas de privatização das terras, contra a entrega de 25% de cada
município para o capital estrangeiro, a regularização da grilagem e a apropriação
dos bens naturais. Denunciamos o modelo do agronegócio e da mineração como
grandes culpados da eclosão das pandemias, por seu modelo de destruição das
florestas e da biodiversidade, e da produção animal em escala industrial.
“Porque lutar para nós é fazer aquilo que o povo quer ver realizado”.
Seguiremos nos articulando no
Brasil e em nível internacional com todas as forças sociais e populares que
querem construir uma sociedade baseada na solidariedade, na igualdade e na
justiça social. Uma sociedade socialista!
Vamos à luta com nossas
bandeiras!
Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!
Fonte:
Brasil de Fato