No
Brasil, o fechamento das fábricas de Taubaté (SP) e de Horizonte (CE) irá
demitir 1300 funcionários, fora os trabalhadores que perderão o emprego com o
encerramento da produção em Camaçari (BA)
Linha de produção em fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP). (Foto: REUTERS/Nacho Doce)
Infomoney com 247 - A Ford anunciou nesta segunda-feira (11) o
fechamento de suas fábricas no Brasil, como parte do plano de reestruturação da
empresa na América do Sul. A montadora manterá as fábricas na Argentina e no
Uruguai, o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, o Campo de Provas,
em Tatuí (SP), e sua sede regional em São Paulo.
Em nota, Jim
Farley, presidente e CEO da Ford, afirmou que a decisão foi “muito difícil”,
mas necessária, para a criação de um negócio saudável e sustentável.
Além
disso, a empresa informou que os serviços de assistência ao consumidor seguem
funcionando nas operações de vendas, peças de reposição e garantia para seus
clientes no Brasil.
Com a decisão, 5
mil funcionários da Ford devem ser demitidos em toda a América do Sul. O
InfoMoney entrou em contato com a assessoria de imprensa da Ford, que confirmou
os desligamentos e disse que a companhia vai trabalhar “em estreita colaboração
com os sindicatos e outros parceiros no desenvolvimento de um plano justo e
equilibrado para minimizar os impactos do encerramento da produção”.
Ainda
de acordo com o posicionamento enviado por meio da assessoria de imprensa da
empresa, serão encerradas as operações nas plantas de Camaçari (BA), Taubaté
(SP) e da Troller (em Horizonte, CE) em 2021. E as vendas dos modelos Ka,
EcoSport e do Troller T4 serão interrompidas quando acabarem os estoques dos
veículos.
O
fechamento imediato da planta em Taubaté implica na demissão de 830
funcionários na produção de motores e transmissões na cidade, segundo o Sindicato
dos Metalúrgicos. Já o fechamento da unidade de Horizonte, na Grande Fortaleza,
irá desempregar 470 empregados e colaboradores, segundo a montadora.
“Estamos mudando
para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil,
atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso
portfólio global. Vamos também acelerar a disponibilidade dos benefícios
trazidos pela conectividade, eletrificação e tecnologias autônomas suprindo, de
forma eficaz, a necessidade de veículos ambientalmente mais eficientes e
seguros no futuro”, disse a nota da empresa.
Crise na indústria automotiva
Sergio
Vale, economista-chefe e sócio da MB Associados, avalia que a indústria
automotiva está passando por grandes desafios nos últimos anos, motivados
tantos por fatores estruturais, como o menor desejo das pessoas por automóveis,
até questões mais pontuais, como a crise econômica de 2015 e a pandemia.
Na saída desta
crise, especificamente, será certo o aumento da desigualdade de renda e a demora
para a queda do desemprego. Haverá menos espaço para compra de automóveis no
ritmo que se viu na primeira década do século. Por isso, continuaremos a ver
reestruturações na indústria como nesse caso”, diz Vale.
Alex
Agostini, economista-chefe da Austin Rating, afirma que a Ford já vinha
sinalizando que queria encerrar a produção no Brasil. “Eles já vinham com essa
estratégia de reduzir a operação no Brasil. Em 2019, a empresa encerrou as
atividades da fábrica de caminhões no ABC Paulista, mas a pandemia acelerou a
saída. É uma informação extremamente ruim para o mercado brasileiro, não só por
conta dos empregos diretos que a Ford gera, mas também pelas empresas-satélite,
que serão afetadas, como empresas de autopeça, então o impacto acaba sendo bem
significativo”, diz.
Agostini
acrescenta, porém, que a empresa deve manter a venda de veículos ao mercado
brasileiro, por meio da importação dos veículos de países vizinhos. “A Ford
anunciou que vai continuar produzindo carros na Argentina, que tem custos menores
de produção, principalmente porque nossos encargos trabalhistas e custos de
energia são muito altos. Então, ela deve manter operações no Uruguai e
Argentina e os carros da Ford devem passar a ser ainda mais importados desses
países”, completa.
Vale
ressaltar que o Ford Ka foi o 5º carro mais vendido no Brasil em 2020. Se
somados os emplacamentos das versões hatch e sedã (Ka Plus) do Ka, o modelo
teria sido o 2º mais vendido do país no ano passado. A marca torna a notícia
ainda mais impressionante, já que é uma das primeiras vezes na história da
indústria automotiva brasileira que uma montadora anuncia o fechamento da
produção no país, mesmo com seus modelos figurando entre os top 5 mais vendidos
no Brasil.
Ainda segundo
especialistas, o EcoSport, que também não será mais produzido em território
nacional, foi um dos carros que inaugurou no Brasil e no mundo o conceito de
SUV compacto – um dos modelos de maior sucesso de vendas na atualidade, não só
no caso da Ford, como de outras montadoras.
Próximos passos
A Ford
seguirá atendendo a região com seu portfólio global de produtos, incluindo
alguns dos veículos mais conhecidos da marca, como a nova picape Ranger
produzida na Argentina, a nova Transit, o Bronco, o Mustang Mach 1, e planeja
acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados.
“Os
consumidores na América do Sul terão acesso a um portfólio de veículos
conectados, e cada vez mais eletrificados, incluindo SUVs, picapes e veículos
comerciais, provenientes da Argentina, Uruguai e outros mercados, ao mesmo
tempo em que a Ford Brasil encerra as operações de manufatura em 2021”, disse a
empresa em nota.
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