O presidente Jair
Bolsonaro afirmou que não há provas da atuação do chamado "gabinete do
ódio", uma referência à ala ideológica do Palácio do Planalto, que adota
um estilo beligerante nas redes sociais. A afirmação foi feita durante
entrevista ao próprio filho e deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), publicada em
um canal do YouTube neste sábado, 19.
O
chamado "gabinete do ódio" existe, sendo composto pelos assessores
Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz, além do
vereador Carlos Bolsonaro, filho 02 do presidente. A existência do grupo, que
tem inserção nas redes sociais de Bolsonaro, foi revelada pelo Estadão em
setembro de 2019.
"Inventam
essas coisas, atacam covardemente o garoto lá, o Tércio, o Mateus, o Carlos.
Agora me aponte uma materialidade, uma matéria feita pelo gabinete do ódio, não
apontam nada. O tempo todo é dizendo que o gabinete do ódio faz isso ou aquilo,
mas não apontam o que fez", disse Jair Bolsonaro, em defesa dos assessores
e do filho Carlos.
A
afirmação do presidente vem dias após o Estadão revelar
que o gabinete do ódio ajudou canais do YouTube que estão na mira da Polícia
Federal por suspeita de disseminação de conteúdo contra as instituições da
República, no chamado inquérito dos atos antidemocráticos. Alguns donos de
canais tinham acesso privilegiado, imagens exclusivas enviadas via WhatsApp e
intermediários na interlocução com o presidente e chegaram a faturar R$ 100 mil
por mês. Após a publicação da reportagem, o governo afirmou, em nota, que está
prestando esclarecimentos à Justiça e chamou de 'ilação' ligação com a rede do
ódio sob investigação.
No
inquérito que tramita no Supremo sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes,
a Polícia Federal perguntou aos assessores e ao filho Carlos Bolsonaro se eles
produziram ou encaminharam mensagens que buscam causar instabilidade entre as
Forças Armadas e o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, ou se
apoiaram algum tipo de ruptura na ordem democrática. Todos negaram.
Os investigadores
também rastreiam o destino do dinheiro obtido com a monetização dos canais do
YouTube. Parlamentares da base bolsonaristas também são investigados. O caso
ainda não foi concluído pela PF. Após, a Procuradoria-Geral da República, que
pediu a abertura da apuração, deverá decidir se apresenta denúncia criminal.
Segundo
Bolsonaro, as referências ao gabinete do ódio são formas de atacar o Palácio.
"São pessoas que, como não têm o que atacar no governo, são dois anos sem
corrupção, então têm que falar essas besteiras que falam o tempo todo",
disse o presidente.
O
presidente disse que a imprensa anuncia demissões que não se confirmam entre
seus ministérios. "Toda semana estou trocando ministro, essa semana
começou com outro ministro que seria trocado, o Ernesto", comentou.
"O
pessoal fala que eu devo reagir. Se eu falo que não vou demitir o ministro
Ernesto, eles dizem que recuou", disse, gargalhando, para depois partir
para o ataque a veículos de comunicação. "É uma imprensa canalha, que não
vale nada. E um detalhe. Por que são bravos comigo? Mais de R$ 1 bilhão por ano
que faturavam de propaganda oficial de governo previsto para orçamento ou de
dinheiro de estatais ou de bancos, e o dinheiro não é para gastar com essa
imprensa que é mestre de fake news. Nesse ano, cancelei todos os contratos de
compra de jornais e periódicos. Não assina mais. E ai se eu pegar um ministério
com (jornais), o ministro vai ter problema", disse.
O presidente
afirmou, ainda, que o brasileiro é desinformado e que não deve ler a imprensa.
"Se você não lê jornal, você não tem informação. Se você lê, você está
desinformado. Não leia esse lixo, não leia jornais. Vá na internet, tem muitos
blogs que prestam boas informações, e assim você tem que se preparar para
vencer primeiro a guerra de informação e depois vencer outras guerras
também", disse.
Bolsonaro
agradeceu a mobilização da militância digital de apoiadores que tem nas redes
sociais. "Essas pessoas que me elegeram. Essas pessoas anônimas são quem
mudou o país. Continuem trabalhando para mostrar a verdade", disse.
Fonte:
Bem Paraná com Amanda Pupo, Breno Pires e André Borges - Estadão Conteúdo