James Story foi indicado por Trump e vai exercer o
cargo a distância, sediado na Colômbia
O Senado
estadunidense aprovou, nesta semana, a indicação de James Story como novo
embaixador do país ante a Venezuela, depois de dez anos de rompimento das
relações diplomáticas. Em 2010, o ex-presidente Hugo Chávez declarou o então
embaixador, Patrick Duddy persona non grata ao
denunciar sua participação em atos conspiratórios.
A
medida, no entanto, não representa que os EUA reabrirão sua embaixada em
Caracas. O diplomata exercerá seu cargo na Colômbia.
:: Novos ataques sugerem que oposição prepara planos golpistas na
Venezuela ::
Story
atuava como encarregado de negócios em Caracas até 2019, quando a Casa Branca passou
a reconhecer Juan Guaidó como autoridade legítima venezuelana e todos os
funcionários diplomáticos regressaram aos Estados Unidos, dias antes da
tentativa de tomada da base militar Generalíssimo Francisco de Miranda, em
Caracas, no dia 30 de abril. Uma operação golpista liderada por Juan Guaidó e
Leopoldo López.
Sua
indicação foi enviada ao Congresso ainda pelo presidente Donald Trump.
Juan Guaidó e Leopoldo López durante a tentativa de golpe militar no dia 30 de abril de 2019 / Semana
Para o historiador
venezuelano German Yepez o anúncio faz parte de um momento de reacomodação de
forças dentro da política estadunidense, com uma nova gestão democrata.
"Há
uma política de Estado que não foi vitoriosa. Então você têm que mudar sua
tática e estratégia. Talvez a estratégia continue sendo a mesma de derrubar o
governo, mas é necessário mudar as táticas e é isso que os Estados Unidos estão
fazendo em relação à nomeação de um novo embaixador. Assim como está fazendo o
governo da Espanha e farão outros governos europeus", assegura.
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Branca: republicano barra transição de governo nos EUA
Há
uma semana, o presidente Nicolás Maduro havia manifestado sua disposição para
retomar o diálogo com os Estados Unidos com a vitória de Biden.
No
entanto, foi a administração Obama - Biden que decretou o bloqueio econômico
contra a Venezuela, no ano de 2015. Para Yepez o próximo período será de
reativação da política do soft power.
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"Agora
nomeiam um embaixador para que ele desenvolva uma nova tática de penetração e
aceitação. Virão beijos e venenos. Esse é o jogo da política internacional dos
países imperiais. Com um adendo de que Estados Unidos é um império em
decadência em relação não só à China e à Rússia, mas também à Índia e outros
países que estão emergindo", analisa German Yepez.
Juan Guaidó se reuniu diversas vezes com James Story, quando atuava como encarregado de negócios dos Estados Unidos com a Venezuela / Reprodução
Quem
é James Story?
O
diplomático estadunidense, natural de Carolina do Norte, havia sido cônsul
geral dos EUA no Rio de Janeiro; diretor regional de Assuntos Ambientas para
América do Sul, em Brasília; e foi representante estadunidense no Afeganistão.
Sobre
a Venezuela, deu várias declarações que reforçavam uma postura hostil contra o
país. Em setembro, reafirmou o discurso de Trump de que "todas as
opções estavam sobre a mesa" quando se tratava da derrubada de Nicolás
Maduro.
Parte
das suas propostas era firmar uma acordo entre o Departamento Antidrogas dos
Estados Unidos (DEA) e a Venezuela, na figura de Guaidó, para supostamente
combater narcotráfico.
"É
Nicolás Maduro quem se vinculou com grupos terroristas e narcotraficantes e
devemos atender isto", afirmou Story.
A
administração Trump assume a retórica de combate ao
"narcoterrorismo" para justificar suas ações de ingerência na
política exterior para a América Latina e o Oriente Médio. Em março ativou um
operativo no Mar do Caribe, que na prática, representa um bloqueio naval contra
a Venezuela.
Apesar
de que os próprios documentos da DEA comprovam que o maior fluxo de tráfico de
drogas para a América do Norte passa pela costa pacífica da Colômbia e Equador.
Além
disso, há pouco mais de um mês as autoridades venezuelanas
derrubaram outra aeronave colombiana carregada de entorpecentes.
"Há
cada 15 dias, a Venezuela derruba aviões carregados de droga que saem da
Colômbia com intenção de usar o território venezuelano para ir ao caribe o ao
México, como forma de evadir controles de outros governos e a sua vez ainda
permite acusar a Venezuela de permitir o narcotráfico", assegura o
historiador venezuelano German Yepez.
Saída Cargill
Ainda
neste mês de novembro, a Cargill, uma das maiores transnacionais do ramo da
agroindústria, anunciou o fim da duas atividades na Venezuela depois
de 34 anos. Seus ativos no país foram vendidos para o fundo de investimentos
Phoenix Global Investimento e o grupo empresarial venezuelano Puig.
A
empresa é responsável pela importação de 40% do trigo consumido pelos
venezuelanos. A justificativa para fechar suas filiais foi a crise econômica e
as dificuldades provocadas pelas sanções para a importação de produtos.
Durante
os últimos cinco anos de bloqueio econômico, o PIB da Venezuela encolheu um
60%.
:: Em seis anos de bloqueio, Venezuela foi alvo de 150 sanções e 11
tentativas de golpe ::
O
chanceler Jorge Arreaza reconhece o impacto econômico da notícia, mas sugere
que o momento deve ser visto como uma oportunidade.
"São
muitas empresas transnacionais que se foram da Venezuela. Algumas por se somar
à conspiração ao assédio, às sanções. É uma dificuldade de início, mas é
uma tarefa do governo e do povo decidir se isso será um fracasso ou uma
vitória. Nós temos que ir à ofensiva. Temos que fazer disso uma grande
oportunidade. Nós queremos a presença estrangeira na Venezuela, mas sempre respeitando
nossa constituição", afirmou.
Edição: Rodrigo Chagas