Um homem foi morto após ser espancado em loja do RS
nesta quinta (19); episódio se soma a uma série de outros casos
A rede de
supermercados Carrefour está envolvida em mais um caso de violência envolvendo
seus funcionários e uma de suas unidades. Na noite desta quinta-feira (19), um homem negro foi espancado
até a morte em uma loja localizada em Porto Alegre, no Rio
Grande do Sul.
João
Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi agredido por um policial militar e
por um segurança terceirizado do supermercado. Ambos foram presos em
flagrante e são investigados por homicídio qualificado.
Segundo
a Brigada Militar, como é chamada a corporação do Rio Grande do Sul, as
agressões começaram após um desentendimento entre a vítima fatal e uma
funcionária do local. Freitas teria ameaçado bater na funcionária, que acionou
a segurança.
De
acordo com imagens que circulam amplamente nas redes sociais, ele teria sido
levado para a entrada da loja e, segundo a Polícia Civil, teria iniciado o conflito.
Logo depois, se tornou alvo do espancamento pelos outros dois homens.
As imagens
retratam ainda outros seguranças ajudando a imobilizar a vítima. Após uma série
de socos e chutes, o homem, desacordado, foi socorrido por uma equipe do
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que tentou reanimá-lo sem
sucesso.
Em nota, o
Carrefour declarou que iniciou rigorosa apuração interna do caso.
“Para
nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível, e não aceitamos que
situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo que
aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte
para as autoridades locais”, diz trecho do comunicado.
Entretanto,
o supermercado carrega um histórico com episódios recentes de violência,
racismo e descaso envolvendo os clientes e os próprios funcionários.
Confira:
Morte ignorada
Em
14 de agosto deste ano, um promotor de vendas do Carrefour faleceu enquanto
trabalhava em uma unidade do grupo, em Recife (PE).
O
corpo de Moisés Santos, de 53 anos, foi coberto com guarda-sóis e cercado por
caixas, para que a loja seguisse em funcionamento e permaneceu no local entre
8h e 12h, até ser retirado pelo Instituto Médico Legal (IML).
À
época, o Carrefour pediu desculpas “em relação à forma inadequada que tratou o
triste e inesperado falecimento do Sr. Moisés Santos, vítima de um ataque
cardíaco” e afirmou que errou ao não fechar a loja imediatamente após o
ocorrido. A atitude da loja foi considerada desumana e amplamente
criticada.
Controle de idas ao banheiro
Em
maio de 2019, a Justiça do Trabalho de São Paulo concedeu liminar pedida pelo
Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região contra o Carrefour, que estaria controlando a ida dos
empregados ao banheiro.
A
juíza Ivana Meller Santana, da 5ª Vara do Trabalho de Osasco, identificou
condições consideradas degradantes para os trabalhadores.
De
acordo com o Sindicato dos Comerciários, nas sedes de sete cidades (Barueri,
Carapicuíba, Embu, Itapevi, Jandira, Osasco e Taboão da Serra), operadores de
atendimento e de telemarketing são obrigados a utilizar "filas
eletrônicas" para o uso do banheiro.
Além
disso, devem manifestar necessidade do uso, registrando o nome no sistema
eletrônico de fila e avisar ao supervisor em caso de urgência.
"Este
tempo de espera pode acarretar prejuízos à saúde do trabalhador. Isto sem
relatar o constrangimento de precisar explicar ao monitor/supervisor as suas
necessidades fisiológicas, eventuais problemas intestinais ou estomacais, os
relativos ao ciclo feminino", disse a juíza na decisão.
Cachorro envenenado e espancado
Em
dezembro de 2018, um cão que estava no estacionamento de uma das lojas da
empresa, em Osasco, morreu após ser envenenado e espancado
por um funcionário.
"Um
segurança do Carrefour que matou o cachorro. Ia ter uma visita de supervisores
da matriz e o dono do mercado, da filial de Osasco, pediu para o funcionário
dar um fim no cachorro. Ele deu chumbinho no meio de mortadela, e agrediu o
cachorro", afirmou ao portal G1 Rafael
Leal, da ONG Cão Leal, na ocasião.
A
rede de hipermercados também não socorreu o animal. "O cachorro foi
resgatado com vida todo ensanguentado por uma pessoa que estava perto e
socorreu. Ele foi levado para uma clínica veterinária particular, mas morreu em
atendimento."
Mais
um caso de racismo
Em
outubro de 2018, funcionários da empresa, em São Bernardo do Campo, no ABC
Paulista, agrediram Luís Carlos Gomes, porque ele abriu uma lata de cerveja
dentro da loja. Surpreendido pelos funcionários do supermercado, o cliente
reiterou que pagaria pelo item.
Mesmo
assim, ele foi perseguido pelo gerente da unidade e por um segurança e depois
encurralado em um banheiro, onde recebeu um mata-leão.
Gomes,
que é deficiente físico, teve múltiplas fraturas e, como sequela de uma
cirurgia, ficou com uma perna mais curta que a outra. Ele acusou o supermercado de
racismo e discriminação e pediu uma indenização de R$ 200 mil.
Na
época, o Carrefour disse, em nota, que "a rede repudia veementemente
qualquer tipo de violência e reforça que, constantemente, realiza treinamentos
e reorienta suas equipes, a partir da prática do respeito que exige dos seus
colaboradores e prestadores de serviço”.
Demissão como retaliação
Em
dezembro de 2017, trabalhadores do Carrefour que reivindicaram benefício de
remuneração por trabalho em feriados foram demitidos da empresa, com a
justificativa de corte de gastos. Os funcionários, no entanto, garantiram que
os nomes que receberam a demissão estavam envolvidos em movimentos
grevistas.
“Na
verdade a empresa nunca teve cortes às vésperas do Natal e Ano Novo. Em 12 anos
de casa, nunca vi isso acontecer. Como sempre bati minhas metas, portanto,
gerava lucros, fica explícito o motivo de retaliação a fim de desestabilizar o
movimento, sim”, contou um ex-funcionário ao The
Intercept, na época.
Os
funcionários que trabalharam durante os feriados
de novembro de 2017 receberam apenas R$ 30 por dia trabalhado,
menos da metade do que recebiam antes. Um empregado que recebe R$ 1.290 por
mês, ou R$43 por dia, deveria receber R$ 86 por feriado, já que a diária era
dobrada nesses dias.
Caso Januário Alves de Santana
Em
2009, seguranças da rede de hipermercados agrediram o vigia e técnico em
eletrônica Januário Alves de Santana, de 39 anos, no estacionamento de uma
unidade em Osasco. Ele teria sido confundido com um ladrão e foi acusado de
roubar o próprio carro, um EcoSport.
Após
o caso, manifestantes protestaram no estacionamento da unidade, onde estenderam
uma faixa de 30 metros com a frase: “Onde estão os negros?”. Carros também
exibiram protetores de para-brisa com a frase “Carrefour racista”. O caso foi reportado pelo portal
Geledés.
Edição: Leandro Melito
Fonte:
Brasil de Fato