A
professora Susan Ackerman, que era uma espécie de guru da própria turma da Lava
Jato, reafirma que a condenação do ex-presidente Lula não tem legitimidade.
"Assinamos aquela carta porque era importante que esclarecêssemos nossa
posição", afirmou a docente ao lembrar de sua assinatura num manifesto
junto com 16 juristas contra a sentença do triplex em Guarujá (SP)
Susan Rose-Ackerman e Lula (Foto: IMF Staff Photo/Stephen Jaffe | Ricardo Stuckert)
247 - Professora de jurisprudência da Universidade de Yale, nos
Estados Unidos, Susan Rose-Ackerman reafirmou a sua posição contra a sentença
do ex-juiz Sérgio Moro que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
no processo do triplex em Guarujá (SP). "A sensação que me deu foi de que
se sentiram traídos", disse a jurista em referência a procuradores que
citavam com certa frequência o nome dela no Ministério Público Federal no
Paraná.
Em entrevista ao jornal Valor
Econômico, a docente lembrou ter assinado em 2019 uma carta junto
com outros 16 juristas globais defendendo a liberdade do ex-presidente.
"Assinamos aquela carta porque era importante que esclarecêssemos nossa
posição", complementou.
Em seus relatos, Susan afirmou ser
"possível" que as atenções tenham ficado muito concentradas em Lula.
"É importante que um partido não seja definido só em termos de um líder
particular. E penso que a marca de um bom líder é ser capaz de fomentar o
surgimento de novas lideranças. Esse me parece ser um problema, hoje, no
Brasil", disse.
"Não estou dizendo que seja culpa de
Lula. Mas há uma questão sobre como produzir sucessores ao longo do tempo.
Quando um nome assume uma proporção como a de Lula, é ainda mais difícil",
acrescentou.
De acordo com o manifesto assinado pela
jurista, "Moro não só conduziu o processo de forma parcial, como comandou
a acusação desde o início". "Manipulou os mecanismos da delação
premiada, orientou o trabalho do Ministério Público, exigiu a substituição de
uma procuradora com a qual não estava satisfeito e dirigiu a estratégia de
comunicação da acusação".
O ex-presidente Lula foi condenado no
processo do triplex em Guarujá (SP) sob acusação de ter recebido um apartamento
como propina da OAS em contrapartida de contratos na Petrobrás que teriam
beneficiado a empreiteira. Mas Lula nunca dormiu nem tinha a chave do
imóvel.
Ao apresentar a
denúncia, em setembro de 2016, o procurador Henrique Pozzobon admitiu que não
havia "provas cabais" de que Lula era o proprietário do
apartamento.
Em 2019, o Intercept Brasil passou a
publicar reportagens apontando que Moro agia como uma espécie de assistente de
acusação. Chegou a questionar, por exemplo, a capacidade da procuradora Laura
Tessler em interrogar Lula.
De acordo com uma das reportagens,
publicada em junho do ano passado e assinada pelos
jornalistas Rafael Moro Martins, Leandro Demori e Glenn Greenwald, o
procurador Deltan Dallagnol também duvidava da existência de provas contra o
ex-presidente.
"No dia 9 de setembro de 2016, precisamente às 21h36
daquela sexta-feira, Deltan Dallagnol enviou uma mensagem a um grupo batizado
de Incendiários ROJ, formado pelos procuradores que trabalhavam no caso. Ele
digitou: 'Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios
frágeis… então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até
agora tenho receio da ligação entre petrobras e o enriquecimento, e depois que
me falaram to com receio da história do apto… São pontos em que temos que ter
as respostas ajustadas e na ponta da língua'", diz o site.