Vítima do
golpe de 2016, a ex-presidente Dilma Rousseff publicou, nesta manhã, nota sobre
a revelação de que a delação de Antonio Palocci é falsa e cobrou providências
da justiça sobre a suspeição de Sergio Moro. “Se a atitude de Moro não é
evidência de um crime contra Lula, o que mais poderia ser?”, questiona
Dilma Rousseff, Sérgio Moro e Palocci (Foto: Ederson Casartelli | Reuters) |
Do site da ex-presidente Dilma Rousseff - A divulgação vazada
por Sérgio Moro da delação de Palocci tinha por objetivo interferir na eleição
de 2018, favorecendo Bolsonaro e buscando a derrota do PT. As falsas acusações
ao Presidente Lula e à Presidenta Dilma se deram a uma semana da eleição e
queriam forjar uma rejeição do eleitor em relação a todas as candidaturas do
PT, em especial em relação ao candidato Fernando Haddad.
Naquela ocasião,
já se sabia que a delação de Palocci era uma peça sem provas. Aliás, essa foi a
razão apresentada pelo próprio Ministério Público/Lava Jato para não aceitar a
proposta de delação encaminhada por Palocci.
A operação Lava Jato sabia da farsa, tanto
que nos diálogos revelados posteriormente pelo Intercept Brasil os procuradores
reagiram à delação em tom de ironia e deboche. Sabiam do desespero de quem
queria obter de volta parte dos recursos auferidos por meio de ações de
corrupção confessadas pelo próprio Palocci.
O juiz Sérgio Moro também sabia que a
delação não tinha valor algum, e decidiu utilizá-la, vazando-a seis dias antes
da eleição, comportando-se como cabo eleitoral de Bolsonaro.
O conjunto da delação de Palocci compõe
uma peça única de falsificação dos fatos, que procura afirmar não a verdade,
mas aquilo que interessa aos seus interrogadores.
Após a rejeição da delação de Palocci pela
Lava Jato, o juiz Sérgio Moro buscou um caminho alternativo: “esquentar” uma
peça que não parava em pé. Contou com a preciosa contribuição de um delegado da
Polícia Federal de Curitiba, que aceitou um acordo que já tinha sido negado até
pela MPF/Lava Jato e desmoralizado pela absoluta falta de evidências concretas.
Moro não só
quebrou o sigilo da delação como, mais uma vez, vazou seus termos para as
Organizações Globo, que, de forma imediata, durante 8m56s, divulgou as falsas
acusações no Jornal Nacional. Durante toda a semana que se seguiu, essa
reportagem foi replicada e abordada por comentaristas, em termos ainda mais
agressivos, em todos os telejornais da Globo, na Globo News, na rádio CBN e nas
páginas do Jornal O Globo, sendo reproduzida e citada pelo resto da imprensa.
Foram momentos de um jornalismo de guerra,
devastador para as candidaturas petistas, porque centrado em acusações contra
Lula, Dilma e o partido. Palocci inventou diálogos que nunca aconteceram, em
reuniões que jamais ocorreram, nas quais teriam sido tomadas decisões que os
fatos, várias testemunhas e outros delatores negaram terminantemente. Agora,
outro delegado da PF, diante da evidente e absoluta falta de provas das
afirmações de Palocci, revê a delação anteriormente aceita. Este delegado que
decidiu arquivar a investigação revela que todas as acusações de Palocci
parecem apenas fruto de pesquisas no Google.
A influência deste massacre midiático
sobre o resultado das eleições não pode ser subestimada. E engana-se quem pensa
que interferiu apenas na disputa pela presidência. Certamente sugestionou os
eleitores e induziu resultados em relação às disputas majoritárias estaduais.
Em alguns estados houve mudanças bruscas nas tendências que vinham sendo
apontadas nas pesquisas, com candidatos favoritos às eleições majoritárias
perdendo apoio em questão de horas, e candidatos quase desconhecidos, a maioria
de extrema direita, sendo beneficiados pela onda que a denúncia fraudulenta
fabricou.
Palocci, por
falsificar uma delação; Moro, por usá-la mesmo sabendo que ela era falsa; e a
PF de Curitiba, por ampará-la numa investigação que o MPF já havia recusado,
cometeram, todos, um atentado contra a lisura da eleição e o estado democrático
de direito. Um juiz que não tinha por hábito apresentar provas, tem contra si,
neste momento, novas provas cabais de conduta iníqua e malévola.
A imprensa progressista da internet já
havia mostrado isto, a história certamente vai registrar o tamanho desta
violação da democracia, mas neste momento uma pergunta se impõe, imperativa
como nunca: o que fará o Poder Judiciário?
A própria eleição está comprovadamente sob
suspeita, e cabe ao TSE decidir a respeito, com a grandeza que a história
haverá de lhe cobrar. Bolsonaro tornou-se presidente beneficiado por uma
fraude, cometida por alguém a quem acabou premiando com um cargo de ministro.
Qualquer condenação de Lula decidida por um juiz comprovadamente parcial, cuja
suspeição deve ser declarada, como é o caso de Moro, precisa ser anulada. Se a
atitude de Moro não é evidência de um crime contra Lula, o que mais poderia
ser?