O ex-juiz
Sérgio Moro, que admitiu ter enfrentado o ex-presidente Lula num ringue de
boxe, decidiu não investigar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando
soube que o tucano pediu dinheiro a Marcelo Odebrecht, porque "seu apoio é
importante"
247 – O ato falho do ex-juiz Sergio Moro na Globonews, que ontem
disse que enfrentou o ex-presidente Lula num
ringue de boxe, contrasta com a posição adotada por ele próprio em relação
ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que, ao contrário de Lula, teve
mensagens interceptadas em que pedia dinheiro ao empreiteiro Marcelo Odebrecht.
Tal revelação surgiu em junho de 2019, em reportagem do El País e do Intercept no âmbito da chamada Vaza Jato. Relembre um trecho:
Novo diálogo revelado pelo The Intercept nesta terça-feira
entre o então juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa
da Operação Lava Jato, reforça a controversa interação entre julgador e a
acusação um dia antes de o agora ministro da Justiça ter de se explicar sobre o
caso no Senado. Na nova reportagem do site, que desde 9 de junho publica
trechos de conversas dos dois trocadas pelo aplicativo Telegram que dizem ter
recebido de uma fonte anônima, Moro adverte Dallagnol sobre a conveniência de
investigar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) no âmbito da
Lava Jato. "Tem alguma coisa mesmo seria do FHC? O que vi na TV pareceu
muito fraco?", diz Moro, segundo o site, em 2017. O procurador concorda
que os indícios são débeis, mas argumenta que investigar todos reforçaria a
"imparcialidade" da força-tarefa. O então juiz retruca: "Ah, não
sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante."
Em vários momentos, Deltan Dallagnol fala em investigar as
citações ao ex-mandatário tucano como um caminho para mostrar a
"imparcialidade" da Lava Jato —acusada, especialmente pela esquerda e
pelos lulistas, de atacar preferencialmente o PT. Em um dos trechos, há a
sugestão de que se investigue tanto as doações da Odebrecht ao Instituto FHC,
feitas em 2014, assim como as feitas ao instituto de Lula num mesmo
procedimento investigatório criminal. A conversa, que menciona até fazer busca
e apreensão na entidade do tucano, se dá em torno de um e-mail da assessoria do
IFHC orientando maneiras de que a Odebrecht poderia fazer doações. Os procuradores
então debatem se haveria indícios suficientes e se seria conveniente. Debatem
ainda o risco de que isso acabasse ajudando a defesa de Lula. "Mas será
que não será argumento para da LILS [empresa de Lula] dizendo que a prova que
não era corrupção?", diz o então procurador da Lava Jato, Diogo Castor.