“Esse
homem não tem condições de ser presidente da República. Mal educado, boca suja,
desqualificado. Não tem preparo administrativo, político, humano. É agressão e
briga o tempo inteiro", diz a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR)
Presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR) aponta negligência de Jair Bolsonaro ao estimular o fim da quarentena (Foto: Esq.: Agência Câmara / Dir.: Marcos Corrêa - PR) |
Avaliação do PT sobre a reunião ministerial – Em 22 de abril,
quando o Brasil contava com 46.195 pessoas contaminadas pelo Covid-19 e havia
enterrado, oficialmente, ao final daquele dia, 2.924 mortos, o presidente Jair
Bolsonaro marcou com seu ministério uma reunião histórica. Queria discutir ali
os rumos para uma retomada do governo, já então afundado pelo negacionismo, mas
se recusando a tratar da saúde do povo brasileiro em meio a um cenário
econômico devastador. Nascia para logo morrer o programa Pró-Brasil, um esforço
do Planalto para retomar o papel do Estado.
Um mês depois,
nesta sexta-feira, 22 de maio, o Brasil assistiu pela televisão e pela imprensa
aos bastidores dessa reunião ministerial, com a divulgação, autorizada pelo
Supremo Tribunal Federal, dos principais trechos do encontro palaciano. Ali,
percebe-se um presidente transtornado pela queda de popularidade, com medo de
afundar no desgoverno, cercado de ministros bajuladores, mergulhado em paranóia
e temeroso da força de opositores.
"É putaria o tempo todo para me atingir,
mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa,
oficialmente, e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha
família toda de sacanagem, ou amigos meus, porque não posso trocar alguém da
segurança na ponta da linha — que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se
não puder trocar, troca o chefe dele; não pode o chefe dele? Troca o ministro.
E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira", disse Bolsonaro.
Aos palavrões, dando berros e soltando
broncas, Bolsonaro desnuda sua administração. É chefe de um governo perdido e
derrotado. Seus auxiliares estavam mais preocupados em agradá-lo. Nas quase
duas horas de reunião que vieram a público agora, não há nenhuma palavra sobre
um plano para enfrentar a pandemia do coronavírus. “O grande ausente da reunião
é o Covid-19”, destaca o senador Jaques Wagner (PT-BA).
Suspeitas
confirmadas
Apesar disso, a reunião tem um mérito.
Confirma as suspeitas que pesam contra Bolsonaro, acusado de querer interferir
ilegalmente sobre órgãos de Estado. Como num filme de gângsteres, Bolsonaro foi
acusado pelo seu braço direito e colaborador de primeira hora, o ex-ministro da
Justiça, Sérgio Moro. O algoz de Luiz Inácio Lula da Silva, que condenou e
prendeu o ex-presidente, sem provas, tirando-o da disputa presidencial, acusou
o chefe de querer mudar a Polícia Federal para enterrar uma investigação contra
a sua família. Um crime, sujeito à perda do mandato.
A confissão está
cristalina, gravada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
E é dita pelo próprio Bolsonaro. “É putaria o tempo todo para me atingir,
mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa,
oficialmente, e não consegui. Isso acabou”, reclamou o presidente. “Eu não vou
esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigos meus, porque não posso
trocar alguém da segurança na ponta da linha — que pertence à estrutura nossa.
Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode o chefe dele?
Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”.
Esse homem não tem condições de ser
presidente da República. Mal educado, boca suja, desqualificado. Não tem
preparo administrativo, político, humano. É agressão e briga o tempo inteiro.
Proteção do povo, nada. Nenhuma fala sobre assegurar renda, emprego, vida.
Os indícios de crime de responsabilidade
cometidos pelo presidente da República estão comprovados. Ele, de fato, não
apenas confessou que queria interferir na Polícia Federal, como cumpriu a
promessa. No dia 24 de abril, Sérgio Moro descobriu que o presidente havia
exonerado o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e, naquele mesmo dia,
anunciaria a sua demissão do Ministério da Justiça. Resumindo: Bolsonaro não
apenas trocou o Superintendente da Polícia Federal no Rio, como também o
diretor-geral da PF e o próprio ministro da Justiça.
Impeachment é o
caminho
A presidenta nacional do PT, deputada
Gleisi Hoffmann (PR), disse que o vídeo da reunião ministerial escancarou o
despreparo de Bolsonaro para estar à frente da Chefia do Estado Brasileiro.
“Esse homem não tem condições de ser presidente da República. Mal educado, boca
suja, desqualificado. Não tem preparo administrativo, político, humano. É
agressão e briga o tempo inteiro. Proteção do povo, nada. Nenhuma fala sobre assegurar
renda, emprego, vida”, desabafou. Gleisi acredita que o vídeo confirma que o
país só terá saída para a crise em que se encontra com o impeachment de
Bolsonaro.
Em nota, os líderes dos partidos de
oposição também repudiam o episódio. “A reunião ministerial revela o baixo
nível dos integrantes do atual governo. Como bárbaros, jogam a República no
caos, desrespeitam as leis, as instituições e ignoram a Constituição”, criticam
os deputados José Guimarães (PT-CE), que lidera a Minoria; André Figueiredo (PDT-CE),
que comanda a Oposição; Alessandro Molon (PSB-RJ); Enio Verri (PT-PR); Perpétua
Almeida (PCdoB-AC); Wolney Queiroz (PDT-PE); Fernanda Melchionna (PSOL-RS); e
Joenia Wapichana (Rede-RR).
“O vídeo desfaz qualquer legitimidade do
atual governo no comando dos destinos da Nação, pois escancara o desprezo à
democracia, à vida e às conquistas civilizatórias do povo brasileiro”, continua
a nota. “Ademais, indica a tentativa de formação de milícias em defesa de um
projeto antinacional e antidemocrático”.
O vídeo desfaz qualquer legitimidade do
atual governo no comando dos destinos da Nação, pois escancara o desprezo à
democracia, à vida e às conquistas civilizatórias do povo brasileiro. Ademais,
indica a tentativa de formação de milícias em defesa de um projeto antinacional
e antidemocráticol
Adversários a
abater
O choque dos palavrões e do tom desafiador
de Bolsonaro, um traço de sua personalidade autoritária e paranóica, ficam
escancarados no vídeo do encontro ministerial. Entre tantos impropérios ditos pelo
presidente num encontro oficial no Palácio do Planalto, na mais vergonhosa
reunião ministerial da história da República, alguns momentos mostram sua
disposição de tratar adversários políticos como inimigos a serem abatidos.
Agora sabe-se porque Bolsonaro defende com tanta veemência a distribuição de
armas aos seus seguidores e milícias. Para garantir a força de sua vontade,
como um chefete de uma republiqueta.
“Olha como é fácil impor uma ditadura no
Brasil. Por isso eu quero que o povo se arme, a garantia de que não vai
aparecer um filho da puta e impor uma ditadura aqui. A bosta de um decreto,
algema e bota todo mundo dentro de casa. Se ele estivesse armado, ia para rua.
Se eu fosse ditador, eu armava como fizeram todos no passado. Um puta de um
recado para esses bostas: estou armando o povo porque não quero uma ditadura,
não da para segurar mais. Quem não aceita…”, ameaçou o presidente.
Eu quero que o povo se arme, a garantia de
que não vai aparecer um filho da puta e impor uma ditadura aqui. A bosta de um
decreto, algema e bota todo mundo dentro de casa. Se ele estivesse armado, ia
para rua. Se eu fosse ditador, eu armava como fizeram todos no passado. Um puta
de um recado para esses bostas: estou armando o povo porque não quero uma
ditadura, não da para segurar mais
Ataques a
governadores
Bolsonaro ainda atacou governadores de
estado e prefeitos que vêm defendendo o isolamento social, medida que o
presidente teme porque estaria impedindo a retomada da economia, um erro, já
que o problema do país é o coronavírus, e não a disposição das autoridades
públicas em barrar o contágio da doença. “O que os caras querem é a nossa
hemorroida! É a nossa liberdade! Isso é uma verdade. O que esses caras fizeram
com o vírus, esse bosta desse governador de São Paulo, esse estrume do Rio de
Janeiro, entre outros, é exatamente isso”, criticou.
A bronca ainda foi estendida aos prefeitos
de algumas cidades, como o tucano Arthur Virgílio Neto (PSDB). “Aproveitaram o
vírus, tá um bosta de um prefeito lá de Manaus agora, abrindo covas coletivas.
Um bosta. Que quem não conhece a história dele, procura conhecer, que eu
conheci dentro da Câmara, com ele do meu lado, né?”, disse Bolsonaro.
A ministra dos Direitos Humanos, Damares
Alves, também faz ameaças aos prefeitos e governadores. Na reunião, ela ameaça
“pegar pesado” contra os administradores de cidades e estados que tomaram
medidas mais rígidas de isolamento contra o coronavírus. “O nosso ministério já
tomou iniciativa e nós tamos pedindo inclusive a prisão de alguns governadores”,
afirmou. Nenhuma palavra de admoestação do presidente. Ou dos colegas do
primeiro escalão do governo.
A gente tá perdendo a luta pela liberdade.
É isso que o povo tá gritando. Não tá gritando para ter mais Estado, pra ter
mais projetos, pra ter mais… O povo tá gritando por liberdade, ponto. Eu acho
que é isso que a gente tá perdendo. Eu, por mim, botava esses vagabundos todos
na cadeia, começando no STF
Ameaças ao
Judiciário
O vídeo mostra ainda ataques até aos
próprios ministros do Supremo Tribunal Federal. Na reunião ministerial,
Bolsonaro ouviu, calado, o ataque do ministro da Educação, Abraham Weintraub.
“A gente tá perdendo a luta pela liberdade. É isso que o povo tá gritando. Não
tá gritando para ter mais Estado, pra ter mais projetos, pra ter mais… O povo
tá gritando por liberdade, ponto. Eu acho que é isso que a gente tá perdendo.
Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”, atacou
o ministro. Não ouviu nenhuma reprimenda do presidente da República.
Nem mesmo quando Weintraub disparou contra
os políticos em geral e a própria capital da República. “Eu não quero ser
escravo nesse país. E acabar com essa porcaria que é Brasília. Isso daqui é um
cancro de corrupção, de privilégio”, atacou o ministro da Educação. “Eu não quero
ser escravo de Brasília. Eu tinha uma visão negativa de Brasília e vi que muito
pior do que eu imaginava”, confessa. Também ali, não foi perturbado pelo
presidente ou qualquer outro colega de ministério, nem mesmo do vice-presidente
da República, General Hamilton Mourão.