Numa dura
mensagem de Primeiro de Maio, o ex-presidente Lula afirma que a pandemia
mostrou ao mundo que é o trabalho que sustenta o capital – e que as relações
entre as duas forças devem mudar, em prol de um mundo mais justo e solidário
(Foto: Ricardo Stuckert) |
247 – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou neste
Primeiro de Maio uma contundente mensagem aos trabalhadores brasileiros.
"O que nós esperamos, o que eu espero, é que o mundo que virá depois do
coronavírus seja uma comunidade universal em que o homem e a mulher, em
harmonia com a natureza, sejam o centro de tudo, e que a economia e a
tecnologia estejam a serviço deles – e não o contrário, como aconteceu até
hoje", disse ele. Confira, abaixo, o vídeo e leita também a íntegra do seu
pronunciamento:
"Meus amigos
e minhas amigas,
Trabalhadores e trabalhadoras do Brasil e
do mundo,
Quero começar a minha fala prestando
solidariedade aos familiares de todas as vítimas do coronavírus e a todos os
trabalhadores e trabalhadoras que estão lutando para salvar vidas em todo o
mundo.
Um vírus desconhecido conseguiu fechar
fronteiras, trancar em casa mais de três bIlhões de seres humanos e mudar de
maneira dramática a vida de cada um de nós. Há três meses estamos como num
longo túnel sem fim, recebendo a cada dia notícias piores que as do dia
anterior. A humanidade desperta todos os dias torcendo para que o número de
mortos de hoje seja menor que o de ontem. Estamos vivendo os mais tenebrosos
dias da nossa história.
O vírus, que ataca
a todos, indistintamente, mostrou que a raça humana não é imortal e pode até
desaparecer.
A História nos ensina, porém, que grandes
tragédias costumam ser parteiras de grandes transformações.
O que nós esperamos, o que eu espero, é
que o mundo que virá depois do coronavírus seja uma comunidade universal em que
o homem e a mulher, em harmonia com a natureza, sejam o centro de tudo, e que a
economia e a tecnologia estejam a serviço deles – e não o contrário, como
aconteceu até hoje.
No mundo que eu
espero depois da tragédia do coronavírus, o coletivo haverá de triunfar sobre o
individual, a solidariedade e a generosidade triunfarão sobre o lucro.
Um mundo em que ninguém explore o trabalho
de ninguém, um mundo em que se respeitem as diferenças entre um e outro, um
mundo em que todos, absolutamente todos, disponham de ferramentas para se
emancipar de qualquer tipo de dominação ou de controle.
Mas as grandes tragédias são também
reveladoras do verdadeiro caráter das pessoas e das coisas. Não me refiro
apenas ao deboche do presidente da República com a memória de mais de cinco mil
brasileiros mortos pelo Covid.
A pandemia deixou o capitalismo nu. Foram
necessários trezentos mil cadáveres para a humanidade ver uma verdade que nós,
trabalhadores, conhecemos desde o dia que nascemos. A tragédia do Coronavírus
expôs à luz do sol uma verdade inquestionável: o que sustenta o capitalismo não
é o capital.
Somos nós, os trabalhadores. É essa
verdade, nossa velha conhecida, que está levando os principais jornais
econômicos do mundo, as bíblias da elite mundial, a anunciarem que o
Capitalismo está com os dias contados. E está mesmo. Está moribundo. E está nas
nossas mãos, nas mãos dos trabalhadores, a tarefa de construir esse novo mundo
que vem aí.
O Brasil sempre foi uma terra de
esperanças. Apesar das extremas dificuldades, nós que nascemos e vivemos aqui
soubemos enfrentá-las e soubemos nos reinventar para crescer. O ódio e a
ignorância se alimentam um do outro e são o oposto do que vai na alma
brasileira. Como brasileiro, tenho a certeza que sairemos desta tragédia para
um mundo melhor, para um Brasil melhor.
E é agora, em plena tempestade, que os
brasileiros revelam o que são, o que somos: generosos, tolerantes, solidários.
E é com esse espírito, essa alegria e essa criatividade que estamos todos
lutando para sair das trevas e fazer chegar, o mais depressa possível, o
amanhecer da justiça social, da igualdade e da liberdade.
Espero que a tragédia do Coronavírus seja
a parteira do verdadeiro mundo novo que sonhamos.
Viva o povo trabalhador. Viva o Primeiro
de Maio."
Luiz Inácio Lula
da Silva