O ex-presidente criticou
a Globo por ignorar as denúncias feitas pelo 'The Intercept'
REUTERS / Paulo Whitaker |
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) citou o nazismo ao falar sobre o tratamento jornalístico
dado pela TV Globo às mensagens da Lava Jato obtidas pelo site The
Intercept Brasil. Para ele, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido)
faz algumas críticas à emissora que são corretas.
As declarações
foram dadas em entrevista ao UOL publicada neste
domingo (26). Questionado sobre os ataques de Bolsonaro a
jornalistas, Lula afirmou que, durante seu governo, de 2003 a 2010, houve
"um momento de oito anos de pensamento único contra o Lula".
Em
seguida, relacionou ao nazismo à cobertura jornalística da TV Globo sobre
as mensagens obtidas pelo Intercept e divulgadas pelo site em
parceria com outros veículos, como a Folha. Os diálogos colocaram em
dúvida a imparcialidade do então juiz Sergio Moro ao expor
sua atuação nos bastidores, em parceria com policiais e
procuradores na linha de frente das investigações.
"O
que a Globo está fazendo com o Intercept, era capaz que o nazismo não fizesse.
Ela só teve coragem de citar o Intercept duas vezes: quando o Intercept
publicou o nome do Faustão, que acho que tinha dado aula pro Moro, e quando foi
citar o nome do Roberto D'Ávila, que tinha trabalhado para arrecadar dinheiro
para o meu filme. A Globo não fez sequer matéria contra a fajutice da denúncia
do Ministério Público [contra o jornalista Glenn Greenwald, diretor do site].
Então, isso é censura", disse Lula.
Os
diálogos dos procuradores da Lava Jato, porém, foram alvo de reportagens do programa
Fantástico, da TV Globo, quando da revelação das primeiras mensagens. A
denúncia do Ministério Público contra Glenn também foi noticiada pela
emissora.
Em
nota, a emissora afirma que Lula "deveria se informar melhor antes de
fazer afirmações falsas".
"A
Globo cobriu amplamente as denúncias do Intercept. A Al-Jazeera pediu em julho
do ano passado um levantamento sobre a minutagem da cobertura. No levantamento,
a Globo informou que, apenas de 9 de junho a 24 de julho, a emissora publicou
uma hora e quarenta e três minutos de reportagens sobre o assunto no JN e no
Fantástico –se considerássemos os outros telejornais esse tempo seria muitas
vezes maior. E nos meses seguintes continuou publicando as novidades do caso.
As reportagens estão disponíveis no Globoplay e qualquer um pode atualizar o
levantamento", afirmou.
Sobre
o caso da denúncia contra Glenn, a Globo diz que "publicou matéria de sete
minutos, com ampla divulgação às críticas a ação do procurador, inclusive um
vídeo do próprio Glenn".
A
citação do petista ao nazismo ocorre cerca de uma semana após a demissão do
secretário de Cultura Roberto Alvim, que em um vídeo copiou um trecho de
discurso do ministro da Propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels.
Indagado
se então o comportamento de Bolsonaro em relação à imprensa seria
justificável, o petista respondeu que "tem crítica que ele faz que é
correta".
"Acho
que tem crítica que ele [Bolsonaro] faz que é correta. Dê a ele o mesmo direito
que dá aos outros, direito de falar, abra para ele falar. Na greve dos
jornalistas de 1979, os donos de jornais descobriram que não precisavam tanto
de jornalistas, que poderiam fazer jornalismo sem precisar do jornalista.
Agora, o Bolsonaro está provando que é possível fazer notícia sem precisar dos
jornais, da televisão. Ele faz por ele mesmo. Aliás, o Trump já fez
escola", continuou.
Lula,
no entanto, criticou o fato de o presidente privilegiar as redes sociais
em detrimento do atendimento à imprensa.