Ao fazer um rápido
balanço sobre 2019 com exclusividade para o blog Contraponto, o economista,
escritor, professor e ex-deputado federal paranaense Hélio Duque lembrou
que, no campo político, o período se caracterizou como “um ano binário”,
durante o qual prevaleceu a radicalização dos extremos. E a oposição se
comportou ao longo do ano, segundo Duque, como uma “verdadeira Casa de mãe
Joana”.
Em meio à radicalização dos extremos e da
oposição confusa e dividida, Hélio Duque, que foi Constituinte, destaca o papel
do Congresso Nacional, “que vem cumprindo um papel importante, apesar das suas
limitações intelectuais”. Para ele, “o poder republicano e o Estado de
Direito têm hoje âncora no poder legislativo, ante as ameaças do autoritarismo
primário”.
Por fim, projeta o ex-parlamentar, “o
aventureirismo e o despreparo político” vão comandar 2020, ano de um “cenário
desolador”. Na entrevista a seguir, Hélio Duque faz um ligeiro balanço
político, fala da oposição e do Congresso Nacional, e prenuncia o que será 2020
na política partidária, ano de eleições municipais.
Contraponto –
Em resumo: qual o balanço político que se pode fazer de 2019?
Hélio Duque – Um ano
binário, o qual a radicalização dos extremos prevaleceu. De um lado um
governo tosco e alienado da realidade brasileira, em que a questão social é marginalizada.
De outro, uma extrema esquerda, igualmente, divorciada pelo engajamento
ideológico deformado e inculto. O saldo político é desesperador ao alimentar o
dualismo de dois extremos à direita e à esquerda.
Contraponto –
A oposição ainda não se refez da derrota eleitoral em 2018?
Hélio Duque – A oposição
brasileira é formada por um vasto segmento, igualmente alienado da realidade
brasileira. Cultiva “slogans’ e, por falta da formação histórica e informação
da realidade deformada, vive um romantismo alienado. Mas que garante
vantagens eleitorais momentâneas aos seus integrantes. É uma verdadeira “Casa
de mãe Joana”.
Contraponto – Dá
para considerar que o Congresso Nacional assumiu o protagonismo político no
País diante de um certo amadorismo e de algumas trapalhadas do Palácio do
Planalto?
Hélio Duque – Em tempos
passados as figuras proeminentes do atual Congresso Nacional seriam integrantes
do “médio clero”. Já hoje, pela queda de qualidade parlamentar na representação
política, elas assumem um papel importante ante um governo que ignora valores
consagrados e agride cotidianamente a própria liturgia do poder. Nesse cenário,
o atual Congresso Nacional vem cumprindo um papel importante, apesar das suas
limitações intelectuais. Na verdade, é quem vem executando o desafio de
encaminhar reformas inadiáveis, à exemplo da previdência. O poder republicano e
o Estado de Direito têm hoje âncora no poder legislativo, ante as ameaças do
autoritarismo primário.
Contraponto – O
que se pode esperar, em termos políticos, para 2020, já que será um ano
eleitoral?
Hélio Duque – A farsa
partidária é uma realidade. Partidos políticos com identidade política
doutrinária será o grande ausente em 2020. Com 28 aglomerados partidários, que
se intitulam grêmios políticos, prevalecerá nas eleições municipais o cenário
desolador de avalanche de novos atores políticos ignorantes despojados do
verdadeiro e aristotélico valor da representação popular: servir à
sociedade. Com isso o aventureirismo e o despreparo político serão
partícipes ativos nesse 2020.
Fonte:
Contraponto