“Gente já
jogou computador fora, até quebrou o disco do computador com furadeira”, disse,
em alusão à suspeita de que o vereador carioca e filho do presidente Carlos
Bolsonaro teria destruído computador
Deputada federal Joice Hasselmann (Foto: Lula Marques) |
Da Rede
Brasil Atual – A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP),
que presta depoimento na CPI das Fake News da Câmara nesta
quarta-feira (4), apresentou uma série de documentos que atestam diversas
ilegalidades cometidas por bolsonaristas relacionadas à disseminação de
notícias falsas e destruição de reputações em redes sociais. Antes aliada
importante do núcleo de apoio de Jair Bolsonaro (sem partido), ela agora é
enfrentada como inimiga por “milícias digitais” ligadas ao clã do presidente.
Existe um padrão nas operações de
distribuição de mentiras nas redes sociais, revelou a parlamentar. O esquema
envolve um grande número de assessores de parlamentares de extrema-direita.
Estes, recebem altos salários e têm como função a construção de narrativas
mentirosas para beneficiar a ideologia em torno de Bolsonaro. Difamações e até
ameaças de morte foram apresentadas por Joice, todas com origem especificada.
Joice argumentou que todos os documentos
que revelam essa grande rede passaram por perícia e já são objeto de
investigação. “Gente já jogou computador fora, até quebrou o disco do
computador com furadeira”, disse, em alusão à suspeita de que o vereador
carioca e filho do presidente Carlos Bolsonaro teria destruído computador.
O mecanismo
Uma das principais origens das mentiras,
especialmente nos últimos meses, é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
“As instruções passam muito por Eduardo e assessores ligados a ele. Eles ativam
a militância e, depois, publicadores que têm muitos perfis falsos para
dificultar a responsabilização das fake news. Para que não haja imputação de
crime ou acionamento da Justiça, muitos perfis são falsos”, explicou.
Depois disso, vem o uso dos famigerados
robôs. “Depois disso, as fake news são disseminadas em larga escala por robôs.
Isso é informação técnica, a polícia já está envolvida. Tem gente que já jogou
computador fora. Quem destruiu provas de ataques não levou em consideração que
os dados estão protegidos na nuvem”, disse Joice.
Gabinete do ódio
Toda essa rede envolve cerca de 8 milhões
de pessoas em grupos de WhattsApp, Facebook e outras redes sociais. Apesar do
grande número de pessoas envolvidas, os robôs se fazem necessários para a
disseminação em massa até o destino final. Dentro destes 8 milhões, existe uma
escala hierárquica bem definida. Muitos dos que tomam as decisões são pagos com
dinheiro público. Especialmente assessores, que formam o já conhecido “gabinete
do ódio”.
“Eles têm uma tabela para que cada dia, um
assessor produza um conteúdo para destruir uma reputação. Cada um um dia para
fazer os ataques coordenados (…) Eles fazem listas de orientações para difamar.
Entre políticos, jornalistas, enfim. Em um grupo central do WhattsApp eles
coordenam e passam para os outros grupos multiplicadores”, disse Joice.
O Conselho de
Ética da Câmara arquivou duas representações contra o deputado Eduardo Bolsonaro
(PSC-SP) por quebra do decoro (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil).
Farra com dinheiro
público
Um dos grupos mais ativos e violentos é
coordenado pelo gabinete do deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP). O parlamentar
possui sob seu domínio uma série de militantes que coordenam as ações das fake
news. Todos eles muito bem remunerados com dinheiro público.
Douglas Garcia faz parte de um grupo
chamado Movimento Conservador, idealizado por Eduardo Bolsonaro, que tem como
objetivo a disseminação do ódio e a manutenção das ideologias de
extrema-direita. Todos eles também do grupo radical ultraconservador chamado
Direita São Paulo.
“Edson Salomão ganha 24 mil pra fazer meme
e atacar pessoas do gabinete do Douglas Garcia. Mais de um milhão de reais em
dinheiro público por ano em assessores de gabinetes. Jorge Saldanha, 18 mil
reais de salário. Todos eles do Direita São Paulo. Alexandre da Silva, 9 mil
reais. André Petros, quase 10 mil reais também. Todos eles Direita São
Paulo e Movimento Conservador. Carlos Olímpio, Dylan Dantas, esses 7 mil reais
de dinheiro público para atacar. Jhonatan Valencio, Lilian Goulart, Lucas Reis,
quase 12 mil reais. O gabinete inteiro do Douglas Garcia. Maicon Tropiano,
Matheus Galdino.” Estes são alguns nomes dos militantes centrais de tal teia de
mentiras.
Laranjal
Em seus documentos, a partir das datas das
postagens e atribuições, com muitos prints de telas de WhatsApp do núcleo
bolsonarista, Joice revelou que o método consiste em iniciar uma mentira ou
difamação de forma mais leve e, então, aprofundar, radicalizar as mentiras e
ataques, a partir de sites e blogs de fachada criados pelos próprios
assessores.
Um dos articuladores, Eduardo Guimarães
(Dudu Guimarães), que é secretário parlamentar de Eduardo Bolsonaro, inicia uma
narrativa, por exemplo. “O grupo Bolsofeios é do Dudu, esse é um dos grupos de organização do gabinete do ódio.
Então, começam a aprofundar a narrativa.
Uma das fake news contra mim começou em um site Click Cozinha, dizendo que eu
teria usado verba pública para difamar filhos do Bolsonaro. Eles usam esses
sites laranjas.”
De mentiras a
ameaças
Joice disse que se incomodou severamente
com o esquema quando uma montagem sua em um corpo de porca e roupas de
prostituta chegou no celular de seu filho de 11 anos. Ela chegou a rastrear a
origem da montagem e chegou no esquema de Douglas Garcia. Mesmo grave a
difamação, o cenário ainda pode piorar.
As influências das fake news criadas pelos
grupos bolsonaristas ultrapassam os ataques pessoais, chegam na esfera da
influência direta em articulações políticas e acabam atingindo a pura ameaça à
vida. Em um vídeo do pessoal ligado ao Direita São Paulo e ao Movimento
Conservador, assessores parlamentares armados com submetralhadoras e outras
armas de grosso calibre ameaçam de morte o ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF) Gilmar Mendes.
Em outro caso, sugerem articulações para
proteger a família Bolsonaro de investigações criminais. “Tem um grupo chamado
Ódio do Bem. Em mensagens desse grupo que estão já na perícia, afirmam que ‘é
importante que travem a Lava Jato. Deltan deve cair. Augusto Aras deve assumir
a PGR. Mendonça assumira o STF. Tem como blindar o Flávio’, afirma a
administração desse grupo.”