Embora
seja o maior símbolo de impunidade da política brasileira e tenha sido um dos
principais responsáveis pelo golpe de estado de 2016, o deputado Aécio Neves
(PSDB-MG) virou porta-voz do "centro" na Folha de S. Paulo
Justiça de SP bloqueia R$ 128 mi de Aécio e R$ 20 mi de Cristiane Brasil (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino) |
247 – “O radicalismo se retroalimenta. Ou o centro toma
coragem e reage, ou o Brasil vai sofrer mais do que poderia imaginar”, diz
Aécio Neves (PSDB-MG), na coluna Painel deste domingo, ao comentar o discurso do ex-presidente
Lula neste sábado.
Símbolo maior de
impunidade na política brasileira, Aécio incitou o golpe de estado de 2016
contra a ex-presidente Dilma Rousseff, que abriu as portas para a ascensão do
neofascismo no Brasil. Abaixo, o discurso de Lula:
SÃO BERNARDO DO
CAMPO/SÃO PAULO (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez
neste sábado um discurso muito mais duro do que na véspera e com vários ataques
ao presidente Jair Bolsonaro, afirmando, entre outros pontos, que Bolsonaro
precisa governar para os 210 milhões de brasileiros e não apenas para os
“milicianos do Rio de Janeiro”.
Em ato em frente ao Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, seu berço político, Lula também
fez um apelo para que os militantes de esquerda compareçam às ruas para lutar
contra o que chamou de destruição do país e afirmou que é preciso seguir o
exemplo do que está acontecendo no Chile, onde têm ocorrido manifestações,
muitas vezes violentas e também duramente reprimidas pelas forças de segurança,
contra políticas do governo.
“Veja, esse cidadão foi eleito.
Democraticamente nós aceitamos o resultado da eleição”, disse Lula a uma
plateia de apoiadores e aliados em São Bernardo do Campo. “Mas ele foi eleito
para governar para o povo brasileiro e não para governar para os milicianos do
Rio de Janeiro”, disparou.
O petista então fez menção às
investigações do assassinato da vereadora no Rio de Janeiro Marielle Franco
(PSOL) e lembrou o caso em que o porteiro de um condomínio, em que Bolsonaro e
um acusado de matar Marielle têm casa, disse que o outro acusado do crime
entrou no local autorizado pelo “seu Jair” —Bolsonaro no dia dessa suposta
autorização estava em Brasília.
Lula também
afirmou em sua fala que Bolsonaro “deve” sua eleição ao ministro da Justiça,
Serio Moro, que o condenou como juiz, e àqueles que também atuaram no processo
do tríplex do Guarujá (SP), no qual já foi condenado em três instâncias e pelo
qual ficou preso por 580 dias, até a sexta-feira, na sede da Polícia Federal em
Curitiba.
“Ele (Bolsonaro) deve (a eleição) ao Moro,
ele deve aos juizes que me julgaram e ele deve à campanha de fake news que
fizeram contra o companheiro Haddad e contra a esquerda neste país”, disse em
referência ao candidato derrotado do PT na eleição do ano passado, Fernando
Haddad, que estava ao seu lado no carro de som de onde discursou.
O petista aproveitou ainda para fazer,
mais uma vez, duros ataques a Moro, a quem chamou de “canalha” e “mentiroso”, e
ao coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, a quem acusou de
ter formado uma “quadrilha” para “roubar” dinheiro da Petrobras.
Lula também
centrou artilharia na política econômica da gestão Bolsonaro e no ministro da
Economia, Paulo Guedes, a quem classificou de “destruidor de empregos” e
“destruidor de empresas públicas”. Afirmou ainda que o presidente da República,
que é capitão do Exército na reserva, nunca trabalhou e se alistou no serviço
militar justamente para não ter de trabalhar e para se aposentar cedo.
“Ele arrumou um jeito de não trabalhar,
foi fazer o serviço militar... esse cidadão, que nunca trabalhou, esse cidadão
que diz que não é político... nunca fez um discurso que prestasse, ele só fazia
ofender as mulheres, ofender os negros, ofender os LGBTs”, disse.
“Esse país é de 210 milhões de habitantes
e a gente não pode permitir que os milicianos acabem com esse país que nós
construímos.”
Já no final de seu discurso, Lula fez um
apelo para que a militância de esquerda vá às ruas lutar contra as políticas da
gestão Bolsonaro, citando o caso chileno como exemplo a ser seguido.
“Eu estou disposto a andar esse país...
Estamos vendo o que está acontecendo no Chile. O Chile é o modelo de país que o
Guedes quer”, disse.
“Se a gente souber trabalhar direitinho,
em 2022 a chamada esquerda que o Bolsonaro tanto tem medo vai derrotar a
utradireita... A gente tem que seguir o exemplo do povo do Chile, do povo da
Bolívia, e resistir”, acrescentou, afirmando que o presidente boliviano, Evo
Morales, tem enfrentado a rejeição em aceitar o resultado da eleição que o
reelegeu, pela direita na Bolívia, outro país latino-americano palco de
protestos.
Durante seu discurso, o ex-presidente
disse que ainda fará um “pronunciamento à nação” nos próximos dias.
BOLSONARO SE REÚNE COM MILITARES
Depois de ter mantido silêncio sobre a
soltura de Lula —beneficiado por mudança de entendimento do Supremo Tribunal
Federal (STF) sobre a prisão após condenação em segunda instância, mas que
segue inelegível pela Lei da Ficha Limpa e é réu em vários outros processos—,
Bolsonaro usou sua conta no Twitter na manhã deste sábado para, sem citar o
petista nominalmente, chamá-lo de canalha.
“Amantes da liberdade e do bem, somos a
maioria. Não podemos cometer erros. Sem um norte e um comando, mesmo a melhor
tropa, se torna num bando que atira para todos os lados, inclusive nos amigos.
Não dê munição ao canalha, que momentaneamente está livre, mas carregado de
culpa”, escreveu.
Mais tarde, em frente ao Palácio da
Alvorada, em Brasília, Bolsonaro referiu-se a Lula como “presidiário” e disse
que não contemporizaria com o petista.
“A grande maioria do povo brasileiro é
honesto e trabalhador, e nós não vamos dar espaço nem contemporizar com
presidiário. Ele está solto, mas continua com todos os crimes dele nas costas”,
disse.
O Palácio do Planalto informou que não
iria comentar o discurso de Lula.
Poucas horas antes de Lula discursar,
Bolsonaro teve um encontro neste sábado com ministros de seu governo que são
generais da reserva —Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional),
Fernando Azevedo e Silva (Defesa), e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de
Governo)— e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, segundo
agenda divulgada pela Secretaria de Imprensa da Presidência.
Em suas redes sociais, publicou ainda um
vídeo em que participa de um almoço em homenagem ao aniversário do
ex-comandante do Exército general Eduardo Villas Boas.
Em sua conta no Twitter, Moro disse,
também sem citar Lula nominalmente, que não responderia aos ataques feitos pelo
petista.
“Aos que me pedem respostas a ofensas,
esclareço: não respondo a criminosos, presos ou soltos. Algumas pessoas só
merecem ser ignoradas”, disse.
Como o Planalto, a força-tarefa da Lava
Jato disse que não iria comentar o discurso do ex-presidente.