Liderança do Movimento ao Socialismo (MAS) chega ao
4º mandato com cerca de 642 mil votos a mais que Carlos Mesa
Evo Morales é presidente da Bolívia desde 2006 / Aizar Raldes/AFP |
Representante do
Movimento ao Socialismo (MAS), Evo Morales foi reeleito presidente do
Estado Plurinacional da Bolívia em primeiro turno na tarde desta
quinta-feira (24), com 47,04% dos votos. O quarto mandato começa em janeiro de
2020 e termina em dezembro de 2025.
A
apuração manual, iniciada no domingo (20) de eleições, durou cinco dias e foi
marcada pelo equilíbrio em relação ao segundo colocado Carlos Mesa, da
Comunidade Cidadã. Para vencer as eleições em primeiro turno,
Morales precisava de 10 pontos percentuais de vantagem, e superou essa
marca após 99% das urnas apuradas – a diferença sobre Mesa chegou
a 10,5 pontos percentuais, cerca de 642 mil votos, e a curva de
crescimento tornou-se irreversível para o candidato opositor.
Em
terceiro lugar, ficou o pastor evangélico Chi Huyn Chung (Partido Democrata
Cristão), com 8,8% dos votos.
Um
país em crescimento
Com 193
golpes de Estado entre 1825 e 1982, a Bolívia experimentou durante os 14 anos
de governo do MAS uma estabilidade política e econômica sem precedentes. O
Produto Interno Bruto (PIB) cresce em uma média acima dos 4% ao ano, e a
pobreza extrema caiu de 38,2% para 15,2%.
Analistas
políticos bolivianos têm interpretado que a nova reeleição de Morales
encerraria esse ciclo de estabilidade e conciliação, tamanha revolta demonstrada pela oposição durante a contagem dos votos.
Polêmicas
Desde o
início da campanha, o ex-presidente Mesa tem colocado em dúvida a credibilidade
do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE). Às vésperas da votação, falou em
"resistência civil" em caso de derrota em primeiro turno, instigando
a população a não aceitar o resultado das urnas. No domingo, ele ressaltou sua
desconfiança em relação ao órgão eleitoral e convocou a Organização dos
Estados Americanos (OEA) e embaixadores de países da União Europeia a
questionarem o processo de apuração.
Cerca de 200 eleitores de Carlos Mesa ameaçam invadir hotel onde o TSE montou um centro de operações. (Foto: Daniel Giovanaz) |
Na Bolívia,
existem dois caminhos para divulgação dos votos. Além do
sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Parciais (TREP), baseado nas
atas que vêm dos colégios eleitorais, é realizada a recontagem manual dos votos
de cada local de votação. Esta segunda forma, que leva ao resultado
oficial, é mais precisa e mais lenta.
O TREP
foi divulgado no domingo (20) à noite, com 84% das urnas apuradas, e
interrompido logo em seguida – segundo o TSE, para evitar confusão entre
as duas apurações paralelas. "Queríamos evitar confusão. Um mesmo órgão
não pode divulgar dois resultados diferentes", disse a presidenta do
órgão, María Eugenia Choque.
Nas
eleições anteriores, o TREP costumava ser divulgado até 100% das urnas no mesmo
dia da votação. A diferença, desta vez, é que a primeira parcial
deixou o resultado da disputa presidencial em aberto, por isso o TSE optou
pela suspensão.
A
oposição não aceita esse argumento e alega que houve fraude. Desde
domingo, eleitores contrários à reeleição de Evo têm protagonizado casos
de vandalismo – desde incêndios em tribunais regionais até protestos em frente
ao hotel onde o TSE realiza suas coletivas de imprensa, no centro da
capital La Paz.
Em
resposta, Morales decretou estado de emergência na última quarta-feira (23) e
convocou a população boliviana a defender a democracia contra
as tentativas de golpe capitaneadas por Mesa. No dia seguinte, o chefe de
Estado chamou o opositor de "covarde" e "delinquente", por
estimular a violência na Bolívia, disse que as atas estão disponíveis para
auditorias e pediu mobilização permanente para assegurar que os resultados das
urnas sejam respeitados.
Edição: Rodrigo
Chagas
Fonte:
Brasil de Fato