Entrevistado
pela jornalista Mônica Bergamo da Folha de S.Paulo, o presidente venezuelano,
Nicolás Maduro, defende como democrático o sistema político instaurado no país
desde que o ex-presidente Hugo Chávez chegou ao poder, eleito em 1998, e diz
que a oposição local é golpista, pior do que Bolsonaro. "Nós na Venezuela
temos uma oposição pior do que o Bolsonaro. À direita do Bolsonaro. Que tem o
objetivo de derrubar inconstitucionalmente a revolução", opina.
Maduro/Sputnik (Foto: Reuters) |
247 - Entrevistado
pela jornalista Mônica Bergamo da Folha de
S.Paulo, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, defende como democrático o
sistema político instaurado no país desde que o ex-presidente Hugo Chávez
chegou ao poder, eleito em 1998, diz que a oposição local é golpista, prega o
diálogo, afirma querer a paz e a vigência do direito internacional, critica
Trump e Bolsonaro e se solidariza com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, preso político, vítima de uma "perseguição brutal".
"Nós na Venezuela temos uma oposição
pior do que o Bolsonaro. À direita do Bolsonaro. Que tem o objetivo de derrubar
inconstitucionalmente a revolução", opina.
"Eu penso que haverá paz", diz o
presidente venezuelano Nicolás Maduro, questionado sobre a possibilidade de a
OEA (Organização de Estados Americanos) invocar o Tiar - Tratado Interamericano
de Assistência Recíproca, que poderia redundar num ataque ao seu país.
"Essa decisão foi tomada por um grupo
de governos de ultradireita que está colocando seu extremismo ideológico à
frente das políticas e do direito internacionais".
Maduro explica que a decisão "não tem
nenhuma aplicação". Ele lembra que a Venezuela saiu do Tiar há muitos
anos. "Não somos parte desse tratado, que permitiu a invasão de vários
países irmãos, como República Dominicana, Guatemala, Haiti, Panamá",
enfatiza, ressaltando que se trata de "um tratado morto", que deve
ser "bem sepultado".
O presidente venezuelano afirma convicto a
necessidade de defender a paz e a não intervenção contra o povo venezuelano.
"Eu estou seguro de que isso vai prevalecer por cima de tudo".
Maduro rechaça as
ameaças dos governos de Donald Trump e de Bolsonaro de invadir a Venezuela.
Para ele, essas ameaças unem ideologicamente e institucionalmente a Força
Armada Nacional Bolivariana (nome oficial das forças armadas do país).
"A Força Armada Nacional Bolivariana
está mais unida que nunca, mais coesa que nunca na defesa do direito à paz, à
soberania, à independência e à autodeterminação da Venezuela".
O mandatário lembra que decretou
recentemente um conjunto de exercícios militares, que preparam "para
defender nossa terra". "O mundo não deve se esquecer de que a
Venezuela tem uma força armada profissional, com um bom sistema de armas
defensivo, poderoso. Além disso, temos 3 milhões de homens e mulheres voluntários,
da milícia nacional", destaca o líder venezuelano.
Depois de reiterar que quer a paz, não a
guerra, Maduro afirma que a "ultradireita de Bolsonaro, de Donald Trump,
gostaria de se meter militarmente na Venezuela. Porque eles acreditam que é pão
comido". Mas, na sua visão, "é uma loucura pretender impor uma
mudança de regime com invasão militar. Esse é um tempo superado pela
humanidade".
Em contraposição ao belicismo e às ameaças
da ultradireita, Maduro defende que este "tem que ser um tempo de respeito
ao direito internacional, à autodeterminação dos povos. Tem que ser o século da
paz, e não das ameaças militares de Bolsonaro, de Trump".
Sobre a possibilidade de diálogo com o
presidente norte-americano, afirma: "Nós temos sido vítimas da agressão
mais brutal que se pode fazer a um país. Congelaram US$ 30 bilhões em contas
nossas no exterior por culpa do governo Trump. Expropriaram, nos roubaram a
petroleira Citgo nos EUA. Perseguem as embarcações que trazem trigo, milho,
comida e remédios à Venezuela. Nos proíbem de importar. Nós reagimos
denunciando. Recentemente foram coletadas 13 milhões de assinaturas de
venezuelanos e venezuelanas que vamos entregar na ONU propondo que cessem o
bloqueio e a perseguição econômica contra a Venezuela.
Mas não descarta o diálogo: "Desde
que sou presidente tenho dito aos EUA que o único caminho que temos no século
21 é o diálogo" (...) Claro que há contatos em distintos níveis. Sempre
seguem os contatos. Em qualquer circunstância, a cultura do diálogo deve
prevalecer".
Maduro afirma que também há contatos com
as forças militares do Brasil, e considera que esses contatos devem continuar.
Mas não poupa críticas a Bolsonaro. "Com o governo, você sabe que
Bolsonaro é um extremista ideológico. Recentemente ele declarou sua admiração
pelo ditador Augusto Pinochet, que é uma espécie de Hitler sul-americano. E em
sua mente está apenas a agressão contra a Venezuela. Ele não é um político.
Lamentavelmente, à frente de muitos governos da América do Sul não há políticos
com "p" maiúsculo, com doutrina, que saibam respeitar a diversidade.
Ele, como presidente do Brasil, com uma fronteira tão grande com a Venezuela, e
uma história comum, estaria obrigado, se fosse um estadista, a ter uma
comunicação mínima com a Venezuela. Voltarão os dias em que haverá um governo
no Brasil com quem possamos nos entender".
O Presidente venezuelano diz que Lula está
preso depois de um "processo arranjado, que foi manipulado contra um homem
da honorabilidade, da estatura de estadista de Lula da Silva" e que é
"um crime moral comparar um homem como Lula da Silva, e seu tamanho na
história do Brasil e da América, e a perseguição brutal [que ele sofreu], já
demonstrada com provas, com esses opositores de extrema direita financiados
pelos EUA na Venezuela. É um despropósito".
Maduro defende a legitimidade democrática
da revolução bolivariana, do sistema político vigente na Venezuela e afirma que
a oposição de direita do país é golpista.