São cerca de 750 milhões de analfabetos no mundo, número menor apenas que as populações de China e Índia (Foto: Marcello Casal Jr/ABr) |
Este domingo (8)
foi o Dia Internacional da Alfabetização, data instituída pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), no século passado
(em 1966), para incentivar o pleno letramento da população internacional. Para
o Paraná, no entanto, a data não traz motivos para celebração, mas para
preocupação, se considerados os dados mais recentes.
Na contramão do que se verifica a nível
nacional, o estado viu crescer significativamente entre 2016 e 2018 a taxa de
analfabetismo e o contingente de analfabetos dentro da população com idade
acima de 15 anos. É o que revelam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua Educação 2018 (Pnad Educação), divulgada em junho último
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Brasil, entre 2016 e 2018, viu o
contingente de analfabetos cair em todo o país de 11,671 milhões para 11,253
milhões (-418.306). O Paraná, por outro lado, registrou aumento na população de
analfabetos, que passou de 401.510 para 454.491 (acréscimo de 13,47%).
Isso coloca o estado como aquele que mais
viu crescer o número de pessoas que não sabem ler ou escrever, seguido por Mato
Grosso (+ 22.827) e Amapá (+ 9.527). Por outro lado, Ceará (-98.706) e São
Paulo (-63.388) foram os estados que mais reduziram a população em situação de
analfabetismo.
Já se considerada
a taxa de analfabetismo, ou seja, o porcentual de analfabetos dentro da
população acima de 15 anos, temos que o país reduziu em 0,4 pontos porcentuais
a sua taxa de analfabetismo no período analisado, passando de 7,2% para 6,8%.
O Paraná, por sua vez, foi a única unidade
da federação a registrar dois aumentos consecutivos dessa taxa, que primeiro
passou de 4,5% para 4,6% e mais recentemente alcançou 5,0%.
Outras três unidades, porém, também viram
a taxa de analfabetismo crescer se considerado o comparativo entre 2018 e 2016:
Distrito Federal (2,6% para 3,1%), Mato Grosso (6,5% para 7,1%) e Amapá (5,0%
para 6,1%).
As menores porcentuais de analfabetos
foram verificados nos estados do Rio de Janeiro (2,4%) e de Santa Catarina
(2,5%). Os maiores, no Piauí (16,6%) e no Maranhão (16,3%). O Paraná tem a
sexta menor taxa de todo o país, apesar dos recentes aumentos. Na região Sul,
contudo, é o pior resultado e em disparado (o Rio Grande do Sul tem 3,0%).
Total de pessoas
nesta situação supera a população de Maringá
Para se ter uma noção do que representa o
contingente de 454.491 analfabetos no Paraná, podemos comparar esse número com
a população dos municípios paranaenses. Em todo o estado, apenas as cidades de
Curitiba (1.917.185) e Londrina (563.943) apresentam um contingente
populacional mais significativo. O número de analfabetos no estado é ainda
consideravelmente superior à população do terceiro maior município paranaense,
Maringá, que possui 417.010 habitantes.
A taxa de analfabetismo de 5%, por sua
vez, é facilmente ilustrada na seguinte fórmula: de cada 100 pessoas com mais
de 15 anos que vivem no estado, 5 não sabem ler nem escrever.
Mundo
Apesar da melhoria do acesso às escolas, nos últimos 53 anos em diversos
países, ainda existem em todo planeta 750 milhões de jovens e adultos que não
sabem ler nem escrever. Se todas essas pessoas morassem em um único país, a
população só seria inferior a da China e da Índia.
‘Números reais’
podem ser ainda mais graves
As estatísticas do IBGE consideram as
pessoas com 15 ou mais que foram declaradas como analfabetas em pesquisa
periódica de amostra domiciliar. Os números ‘reais’, contudo, provavelmente são
ainda mais graves, se considerada a “capacidade de compreender e utilizar a
informação escrita e refletir sobre ela” - como faz o estudo Indicador de
Alfabetismo Funcional, elaborado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela Ação
Educativa.
O estudo, feito no ano passado a partir de
testes cognitivos em 2.002 pessoas de todo o país, verificou que 29% dos
entrevistados podem ser considerados analfabetos funcionais e que não superam o
nível rudimentar de proficiência. Apenas 12% da população é considera
“proficiente”.
Roberto Catelli Jr., coordenador Adjunto
da Ação Educativa, explica que o analfabeto funcional é considerado a pessoa
“capaz de identificar palavras, números, assinar o nome e ler frase. Mas não
consegue realizar tarefa se precisar ler um pouco mais que isso - um parágrafo
de um texto da vida cotidiana”, como recorte de jornal, um cartaz ou até mesmo
uma receita de bolo.
A proporção de analfabetos funcionais no
Brasil totaliza 38 milhões de pessoas. O volume dessa população é maior que
quase todos os estados brasileiros, só perde para o total de residentes no
Estado de São Paulo (41,2 milhões).
Metodologia
A Pnad Contínua levanta trimestralmente,
por meio de questionário básico, informações sobre as características básicas
de educação para as pessoas de 5 anos ou mais de idade. A partir de 2016,
começou a incluir o módulo anual de educação, que, durante o segundo trimestre
de cada ano civil, amplia a investigação dessa temática para todas as pessoas
da pesquisa.
Fonte: Bem Paraná