Andrew
Fishman, editor do The Intercept, revelou possível ligação entre as mensagens
vazadas do ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, e do procurador e
coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, com a suposta imparcialidade de
ambos no decorrer da Lava Jato.
Jair Bolsonaro durante cerimônia em Brasília 23/08/2019 (Foto: REUTERS/Adriano Machado) |
Sputnik - Em entrevista à Sputnik Mundo, Andrew Fishman, editor do The
Intercept, revelou possível ligação entre as mensagens vazadas de Moro e
Dallagnol com a imparcialidade de ambos no decorrer da Lava Jato.
Em junho passado,
o site The Intercept tornou públicas milhares de mensagens online do atual
Ministro da Justiça, Sérgio Moro, e do procurador Deltan Dallagnol, ambos
figuras chave da operação Lava Jato. A divulgação do conteúdo das conversas
levantou suspeitas sobre o trabalho de Moro e Dallagnol.
Mensagens
e irregularidades
As mensagens apontariam irregularidades na
operação que tinha como objetivo julgar casos de suborno de empresas
brasileiras e o uso indevido de recursos da Petrobrás. As investigações resultaram
na prisão de políticos brasileiros, dentre os quais o ex-presidente da
República, Luís Inácio Lula da Silva.
Uma das primeiras irregularidades
apresentadas pelo The Intercept seria a forma secreta como Sérgio Moro teria
colaborado com os investigadores na formulação das acusações contra Lula. Por
lei, as autoridades investigativas trabalham separadas do juiz, o qual não deve
se envolver nos trabalhos de acusação.
Popularidade
no Brasil
O vazamento das mensagens feito pelo The
Intercept foi um verdadeiro desafio a uma pequena equipe de profissionais. Com
apenas dez jornalistas, a equipe sofreu ameaças e muita pressão. Encabeçado por
Andrew Fishman, editor do The Intercept, o grupo começou uma grande aventura
ainda em 2016.
"Em 2016, quando estava em curso o
processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso, publicamos
um artigo que foi visto por mais de 400 mil vezes. Em pouco tempo, 15% de nossa
audiência se tornou brasileira e recebemos centenas de e-mails pedindo para
abrirmos um site no Brasil", disse Fishman à Sputnik Mundo.
Com a Vaza Jato,
nome dado ao vazamento das mensagens, o site bombou. O número de inscritos
cresceu consideravelmente, enquanto gigantes da mídia, como a Folha de São
Paulo, Veja, El País e o Buzzfeed, começaram a cooperar com o The Intercept.
Esta teria sido a segunda maior
investigação do site depois da divulgação das revelações feitas por Edward
Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados
Unidos, sobre as operações de vigilância dos EUA no mundo. A investigação
rendeu a Glenn Greenwald, um dos fundadores do The Intercept, o prêmio
Pulitzer, considerado o Óscar do jornalismo.
Desafios
Embora o The Intercept ganhasse
notoriedade, muitos desafios vieram pela frente. Temendo o governo e ações de
intimação, os jornalistas continuaram seu trabalho acreditando que a verdade
seria a sua melhor defesa. Para tanto, Fishman ressaltou à Sputnik a
integridade do conteúdo vazado. Segundo ele, sua equipe teria verificado
cuidadosamente as mensagens, evitando assim qualquer manipulação.
"Uma pessoa teria que levar anos para
criar toda essa informação. Não há evidência de nenhum tipo de manipulação e há
áudios com as vozes de todos eles, de maneira que os fabricar é
impensável", acrescentou Fishman.
A reação do governo foi mais no campo das
palavras do que com violência. No entanto, a guerra informacional pode ser
muito daninha. Fishman lembrou durante a entrevista que sua equipe foi chamada
de "criminosa", "cúmplice de hackers", assim como teriam
sofrido ameaças de prisão. Além disso, uma de suas conversas em um bar teria
sido gravada e editada para desacreditar o grupo.
Redes,
eleições e jornalismo
Durante a corrida presidencial de 2018, a
difusão de fake news no WhatsApp sobre diferentes candidatos teria dado
vantagem ao candidato Bolsonaro, segundo Fishman. Para ele, tal estratégia foi
financiada por milhões de dólares.
No entanto, o jornalista diz que notícias
falsas não é uma coisa nova. A manipulação da propaganda está presente na
história da política há muito tempo. O fator diferenciador seriam as
tecnologias de comunicação presentes no atual século.
Fishman diz que o mais importante não é
desvendar as mentiras difundidas, mas descobrir a fonte do dinheiro que
financia as mentiras.
A falsa
luta contra a corrupção
Uma das últimas revelações do The
Intercept seria a parcialidade de agentes públicos na Lava Jato.
"Dallagnol tinha sete casos contra o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas usou a única que já havia
prescrito, sabendo que não chegaria a lugar nenhum, para que a imprensa não
dissesse que ele não era imparcial", conta Fishman.
Ao mesmo tempo, Dallagnol teria dito em
uma de suas mensagens que lamenta ter que investigar bancos. Ao mesmo tempo,
ele teria recebido grandes quantias de dinheiro de palestras feitas para certos
bancos.
"Eles tinham favoritos e decidiram
não ir atrás de certos casos e de certas pessoas, assim como os bancos [...]
esta é mais uma das muitas peças de evidência que temos de que estavam abusando
de seu poder", realçou o jornalista.