Entrada na PF no Paraná, onde Lula está preso. Foto: Eduardo Matysiak |
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO LE MONDE
Éramos poucos, em
2018, quando advertimos que o processo contra Lula era parte de uma vontade,
por qualquer meio e a qualquer custo, de colocá-lo fora da corrida para as
eleições presidenciais que se aproximavam.
Esta estratégia foi
bem sucedida, já que ela levou à eleição de Bolsonaro.
As recentes
revelações do jornalista Glenn Greenwald e sua equipe derrubaram todas as
máscaras. A investigação e o julgamento de Lula foram tendenciosos desde o
início. Sergio Moro não só conduziu o processo com parcialidade como comandou
de fato a acusação, desafiando as regras de procedimento mais fundamentais no
Brasil.
Na prática, ele
manipulou os mecanismos da delação premiada, orientou o trabalho do Ministério
Público, exigiu a substituição de uma procuradora que não o satisfazia e
dirigiu a estratégia de comunicação do Ministério Público.
Sabemos também
através destas revelações que tal estratégia foi levada adiante de forma
secreta, em estreita colaboração com o Ministério Público.
Isso se soma ao fato
de que Sergio Moro havia grampeado os telefones dos advogados de Lula e
decidido, por sua própria iniciativa, não cumprir uma decisão de um
desembargador ordenando a libertação de Lula, violando a lei de forma
flagrante.
Apesar de todos
esses esquemas, Sergio Moro teve de se resignar a condenar Lula por “fatos
indeterminados”, dada a inexistência material de provas que o implicassem
diretamente neste caso de corrupção. Ao fazer isso, tornou Lula um preso
político em função do que deve ser considerado, diante dessas novas revelações,
como uma conspiração política.
O Supremo Tribunal Federal tem agora o dever de retirar todas as
consequências destas gravíssimas irregularidades que conduziram a uma
condenação injusta e ilegal e, consequentemente, libertar Lula e anular a sua
condenação.
As autoridades
brasileiras devem tomar todas as iniciativas necessárias para identificar os
responsáveis por este gravíssimo abuso de procedimento.
A luta contra a
corrupção é hoje um assunto essencial para todos os cidadãos do mundo, assim
como a democracia e o Estado de Direito, mas, no caso de Lula, ela foi usada
para alimentar estratégias que o eliminassem do jogo político, a fim de
permitir que Bolsonaro chegasse ao poder e, em seguida, “recompensasse” Sergio
Moro, nomeando-o ministro da Justiça.
Os signatários deste
apelo ressaltam que os beneficiários desta conspiração demonstram apenas
desprezo pelo interesse geral dos brasileiros, pelas liberdades públicas, pelos
direitos dos povos indígenas e, além disso, pela democracia.
Bruce ACKERMAN, Sterling Professor of Law and
Political Science, Yale University
John ACKERMAN, Professor, Universidade
Nacional Autónoma do México (UNAM)
William BOURDON, Advogado (Paris)
Mireille DELMAS MARTY, Professora,
Collège de France
Joan GARCÉS, Advogado (Madrid)
Baltasar GARZÓN, Advogado (Madrid)
Louis JOINET, Juiz, primeiro advogado-geral
honorário da Cour de Cassation (França), antigo presidente do grupo de trabalho
da ONU sobre detenção arbitrária e da Comissão dos Direitos Humanos
Wolfgang KALECK, Advogado (Berlin)
Henri LECLERC, Advogado (Paris)
Christophe MARCHAND, Advogado
(Bruxelas)
Jean-Pierre MIGNARD, Advogado (Paris)
Philippe TEXIER, Juiz, conselheiro
honorário na Cour de Cassation (França), antigo presidente do Comité dos
Direitos Económicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas
Fonte:
DCM