(Foto: Reprodução / JF-PR) |
O empresário Jorge
Atherino, conhecido como “Grego”, afirmou em depoimento, na última quarta-feira
(8), no âmbito da Operação Piloto (53ª fase da Lava Jato), que entregou R$ 500
mil para Pepe Richa, irmão do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) e para
Juraci Barbosa Sobrinho, tesoureiro da campanha de Richa em 2014, para caixa
dois. O dinheiro teria sido repassado pela Odebrecht. Atherino e outros quatro
réus foram ouvidos juiz federal Paulo Sérgio Ribeiro, da 23ª Vara Criminal de
Curitiba, em um processo que derivado da Lava Jato, aberto pelo ex-juiz Sergio
Moro. A operação investiga um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e
fraude licitatória em obras da PR-323, entre o Maringá, no Norte do Paraná, a
Francisco Alves, no Noroeste. Beto Richa não é réu nessa operação.
Atherino
disse, em depoimento, que participou da arrecadação para a campanha e que
procurou um dos executivos da Odebrecht, o engenheiro Luciano Pizzato, que
também é réu na operação, para angariar o dinheiro. "No mês de junho eu
mesmo fui na Odebrecht, perguntei se eles iriam participar da campanha e ele
falou que me daria um retorno (...) Passados 10 dias, ele me convida e diz,
'olha, vamos participar da campanha com um número em torno de R$ 4 milhões, só
que tem uma dificuldade: o dinheiro é por fora'. Vou ter que conversar com as
pessoas. Conversei com Pepe e Juraci e eles não responderam de pronto. E depois
responderam que seria caixa dois", afirmou Jorge Atherino, que não é
delator.
O
empresário admitiu as irregularidades em um momento em que a defesa tenta levar
o processo para a Justiça Eleitoral. No último dia 3 de maio, o juiz Paulo
Sérgio Ribeiro negou pedido da defesa de Atherino para transferir o processo.
Na decisão, o juiz afirmou que não há prova que indique que o dinheiro pago a
título de propina tenha sido utilizado na campanha. Um dos argumentos da defesa
para recorrer foi o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), em março, qur
estabeleu que ‘compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes’ comuns que ‘forem
conexos’ aos crimes eleitorais.
No
depoimento, o empresário deu detalhes do como teria sido a entrega do dinheiro.
"Dei o endereço da casa da minha família em São Paulo e achei que eu ia
chegar e ia chegar um diretor da Odebrecht. Tinha me dito que a primeira remessa
seria R$ 500 mil, e eu não vi problema nenhum em dar o endereço da minha casa.
Mas chega um 'boy', de chinelo, calção, eu fiquei meio, fiquei muito
desconfortável. Por quê? Pensei 'eu vou sair lá fora', entro no carro para
voltar para Curitiba, alguém me esperando na porta diz: 'olha, aquele ali, oh',
e com isso posso ser assaltado, pode acontecer alguma coisa. Fiquei com medo.
Não fiz as outras viagens, eu não fiz", disse.
Com o
'desconforto', o empresário afirma que entregou o dinheiro a Pepe Richa.
Todos
os nove réus já foram ouvidos e o processo entro em fase de alegações finais.
Advogados e procuradores devem fazer as últimas manifestações no processo,
antes da sentença.
A
Operação Piloto foi deflagrada em 11 de setembro de 2018. O codinome
"Piloto", de acordo com a força-tarefa da Lava Jato, se refere a Beto
Richa na planilha da Odebrecht. Segundo o MPF, empresários da Odebrecht
realizaram um acerto de subornos com Deonilson Roldo, então chefe de gabinete
de Richa, para que ele limitasse a concorrência da licitação para duplicação da
PR-323. Em contrapartida, a Odebrecht pagaria R$ 4 milhões. O esquema teria
sido ajustado em três reuniões entre Roldo e representantes da empreiteira. No
entanto, após perícia da PF nos sistemas Drousys e MyWebDay do Setor de
Operações Estruturadas da Odebrecht (setor da propina), foi verificado que
foram pagos R$ 3,5 milhões em cinco pagamentos entre setembro e outubro de
2014. As defesas de Beto e Pepe Richa negam irregularidades.