Bombeiros trabalham no resgate das vítimas de desabamento no Rio: área é dominada por milícias (Foto: Centro de operação da Prefeitura do RJ) |
RIO DE JANEIRO, RJ
(FOLHAPRESS) - O bairro onde ocorreu o desabamento de dois prédios na manhã
desta sexta-feira (12) é área de atuação da milícia comandada, segundo o
Ministério Público do Rio de Janeiro, pelo ex-policial militar Adriano da
Nóbrega.
Foragido há quase três meses, ele foi
companheiro de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), no
18º Batalhão da PM e tinha a mãe e a filha nomeadas no gabinete do senador
quando este exercia mandato na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro).
Queiroz, investigado por lavagem de
dinheiro e ocultação de patrimônio, assumiu ser o responsável pela indicação
dos parentes de Adriano para o gabinete de Flávio. Adriano está foragido desde
a Operação "Os Intocáveis", deflagrada em janeiro deste ano. Ele é
acusado de comandar a milícia das comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na
zona oeste da cidade.
A Prefeitura do Rio de Janeiro afirma que
o grupo paramilitar dificulta a atuação de fiscais do município na região.
Segundo a gestão Marcelo Crivella (PRB), os dois imóveis que desabaram são
irregulares.
Segundo o Corpo de Bombeiros, ao menos
duas pessoas morreram um homem e uma criança, com identidades ainda
desconhecidas, três estão feridas e outras 17 estão desaparecidas sob os
escombros.
Por volta das 11h , dois homens chegaram
ao hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, a bordo de uma ambulância
enlameada: Raimundo Nonato, 41, com escoriações na cabeça, e Luciano Paulo, 38,
com escoriações múltiplas.
Milícias como a da Muzema costumam ser as
responsáveis ou protegem a construção de prédios sem licença dos órgãos
públicos. Os novos moradores e comerciantes que ocupam esses edifícios passam a
ser nova fonte de renda das quadrilhas.
"A região é uma APA (Área de Proteção
Ambiental) e os prédios ali construídos não respeitam a legislação em vigor.
Por se tratar de área dominada por milícia, os técnicos da fiscalização
municipal necessitam de apoio da Polícia Militar para realizar operações no
local. Foi o que aconteceu em novembro de 2018, quando várias construções
irregulares foram interditadas e embargadas pela prefeitura", afirmou a
gestão municipal em nota.
De acordo com a legislação em vigor, a
região só poderia ter casas para uma família, e não prédio com diversas
unidades.
"Na Muzema, as construções não
obedecem aos parâmetros de edificações estabelecidos, como afastamento frontal,
gabarito, ocupação, número de unidades e de vagas", diz a prefeitura em
nota.
Denúncia do Ministério Público afirma que
Adriano, junto com Maurício da Costa, tinha liderança na exploração dos
negócios imobiliários da quadrilha em Rio das Pedras, Muzema, e áreas
adjacentes.
Em telefonema gravado com autorização da
Justiça, Manoel Batista, espécie de administrador da milícia, aponta a
ascendência de Adriano no setor.
"Eu tenho oito apartamentos naquele
prédio. O resto é tudo do Adriano e do Maurício, entendeu", afirmou Manoel
a um interlocutor.
Em outro diálogo, Adriano é chamado de
"patrãozão".
Outro líder na exploração da construção
civil na região é o major Ronald Paulo Alves Pereira, preso na mesma operação.
Policiais encontraram em sua casa tabelas contábeis com referências a
Adriano, plantas de imóveis e documentação de loteamento de terrenos.
A prefeitura afirmou, em nota, que desde
2005 faz autuações a fim de impedir o crescimento irregular da comunidade.
Foram 17 autos de infração desde aquele ano até o momento na região.
OUTRO
LADO
Queiroz é policial militar aposentado e
amigo há mais de 30 anos do presidente Jair Bolsonaro, que o indicou para a
vaga no gabinete do filho.
Em janeiro, a defesa de Queiroz afirmou em
nota que "repudia veementemente qualquer tentativa de vincular seu nome à
milícia e que a divulgação de dados sigilosos obtidos de forma ilegal
constitui verdadeira violação aos direitos básicos do cidadão.
Segundo o advogado Paulo Klein, Queiroz
conheceu Nóbrega quando trabalharam juntos no 18° Batalhão da Polícia Militar e
não sabia do suposto envolvimento com milícias.
Ainda segundo seu advogado, Queiroz
solicitou a nomeação da mulher e da mãe do colega para o gabinete de Flávio
Bolsonaro porque a família passava por dificuldades financeiras.
Para a defesa, Nóbrega estava
"injustamente preso" em razão de um auto de resistência
posteriormente tipificado como homicídio.
A reportagem não conseguiu contato com a
defesa de Adriano da Nóbrega.
Fonte:
Bem Paraná