O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou projeto
para sustar o decreto do governo Bolsonaro que dispensa visto para os cidadãos
da Austrália, do Canadá, dos EUA e do Japão; de acordo com o parlamentar, a
medida ofende o princípio internacional da reciprocidade; "Não é aceitável
que um nacional norte-americano tenha visto liberado para vir ao Brasil e os
nacionais brasileiros não tenham o mesmo direito a ir aos Estados Unidos"
Agência Senado - O senador
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou projeto (PDL 68/2019) nesta terça-feira
(19) para sustar o decreto do governo federal (Decreto 9. 731, de 2019) que
dispensa visto para os cidadãos da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos e
do Japão. De acordo com o parlamentar, a medida do presidente da República,
Jair Bolsonaro, ofende o princípio internacional da reciprocidade.
— Não é
aceitável que um nacional norte-americano tenha visto liberado para vir ao
Brasil e os nacionais brasileiros não tenham o mesmo direito a ir aos Estados
Unidos. Não é aceitável que um nacional brasileiro tenha exigência de visto
para ir ao Canadá e o nacional canadense possa vir e voltar livremente ao
Brasil — argumentou.
Para o
senador, a alegação do governo de que a liberação dos vistos deve incentivar o
turismo no Brasil não justifica a escolha de apenas alguns países.
— Ora,
se é para mobilizar o turismo, vamos abrir para todos: vamos abrir para toda a
comunidade europeia, vamos abrir para a Rússia, para a China, para a Índia,
vamos abrir para todos — disse.
Randolfe
também questionou o critério utilizado pelo Itamaraty para escolher esses
quatro países e afirmou que a medida foi um pretexto para agradar os Estados
Unidos.
— Na
verdade, me parece que Austrália, Canadá e Japão só entraram de contrabando aí,
para justificar a subserviência do governo brasileiro, do presidente da
República, não ao governo norte-americano, mas em especial ao senhor Donald
Trump — afirmou Randolfe.
Contrapartidas
O
senador Eduardo Braga (MDB-AM) defendeu um amplo debate sobre o tema. Para ele,
Brasil e Estados Unidos são parceiros, mas a reciprocidade é necessária.
— É
preciso entender as contrapartidas de liberdade que daremos, e que ganhos o
povo brasileiro terá em troca desta abertura de liberdade para que esses países
possam adentrar em nosso país. Entendo que também não pode ser uma regra
genérica, mas o Brasil precisa ser ouvido e nós precisamos ter a capacidade de
negociar através da diplomacia ganhos efetivos para o povo brasileiro —
afirmou.
O
senador Omar Aziz (PSD- AM) ressaltou o papel da Comissão de Relações
Exteriores e da Defesa Nacional (CRE), que preside, no debate da questão. Ele
lembrou que antes do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, os
norte-americanos não precisavam de vistos para visitar o Brasil, mas que isso
mudou desde que um deputado brasileiro teve o seu visto negado pela embaixada
dos Estados Unidos. Omar também criticou uma declaração de Bolsonaro sobre a
más intenções dos imigrantes que chegam aos Estados Unidos.
— Eu
posso assegurar que também não virá só gente boa desses quatro países para os
quais o presidente Bolsonaro está abrindo o visto. Nós queremos ter um bom
relacionamento com todos os países do mundo, não é só com os Estados Unidos.
Eles são um grande parceiro comercial, mas eu não acredito em bondade americana.
Os Estados Unidos são pragmáticos, aquilo que interessa eles vão fazer,
independentemente de ter relações ou não. Nós faremos questão de debater, até
porque o Brasil tem que ter sua soberania — afirmou.