Encontro em São Paulo discute estratégias para amplificar
campanha pela libertação do ex-presidente. Interesses internacionais se aliam a
setores da elite brasileira para manter Lula preso e incomunicável, denunciaram
participantes, aponta reportagem de Tiago Pereira, da Rede Brasil Atual
Por Tiago Pereira, da Rede Brasil Atual – Na semana em
que a Lava Jato coleciona suas maiores derrotas em cinco anos de operação,
partidos de esquerda e movimentos sociais elaboram estratégias para reforçar a
campanha pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso
desde abril de 2018 pela rede de intrigas montada pelos procuradores da
República de Curitiba. Na Assembleia Nacional Lula Livre, realizada neste
sábado (16) em São Paulo os participantes ressaltam que não há democracia
enquanto o ex-presidente for mantido preso injustamente.
"Hoje, no Brasil, as lutas
pela democracia e pela liberdade de Lula caminham juntas. A liberdade do Lula
hoje é sinônimo de democracia no Brasil. Se Lula estiver livre, o Brasil é
democrático. Se Lula não estiver livre, o Brasil não é democrático. Esse é o
nosso ponto de partida", afirmou o ex-chanceler e ex-ministro da Defesa
Celso Amorim.
Amorim,
que preside o Comitê de Solidariedade Internacional a Lula e em Defesa da
Democracia, afirmou ainda que a prisão do ex-presidente faz parte de um processo
internacional de afirmação dos Estados Unidos como potência hegemônica, que por
aqui conta com a conivência das elites brasileiras, e que se infiltra nas
próprias instituições – setores do ´Poder Judiciário e do Ministério Público' –
para alcançar os seus objetivos.
Dentre
esses objetivos, destacou o o ex-chanceler, está o desejo de acabar com o
processo de inserção autônomo tentado pelo Brasil e outros países que buscaram
alianças, como os BRICs, que acabam por afrontar a hegemonia norte-americana.
Outro
objetivo, ainda mais grave, é se apropriar das reservas do pré-sal brasileiro,
bem como das reservas petrolíferas venezuelanas. "Hoje é a Venezuela,
amanhã é aqui. Por isso temos que defender a nossa soberania, defender o
direito de fazer a nossa política. O direito de ter, sim, relações com os
Estados Unidos, mas de igual para igual, não de maneira subalterna. Esse
processo de dominação é global, mas em cada lugar atua de uma maneira, com
aliados específicos. Aqui foram a mídia e setores do judiciário", afirmou.
Segundo
Amorim, é preciso montar uma "ampla frente democrática, nacional e
internacionalmente", para denunciar em todo o mundo as violações ao Estado
de Direito que ocorrem no Brasil, que têm na prisão do ex-presidente Lula a sua
face mais violenta.
"É
preciso que a social-democracia europeia, por exemplo, compreenda o que está
acontecendo no Brasil, que são falsas as acusações de corrupção, que o que
houve foi um julgamento político. Lula é um prisioneiro político. É preciso que
compreendam, porque eles têm influência sobre a nossa elite, a nossa mídia, os
juízes do STF. Os ministros da nossa Suprema Corte não ficarão confortáveis
quando forem questionados no exterior sobre o "Mandela brasileiro",
mantido preso ilegalmente."
Guerra jurídica
A advogada Valeska Teixeira, que
integra a defesa do ex-presidente Lula, relembrou o histórico de violações
cometidas pela Lava Jato, desde 2014. Ela destacou que a denúncia que acabaria
na condenação, começou no Ministério Público de São Paulo, baseada numa denúncia
falsa da revista Veja. "Dali houve pressão irresistível para que a juíza
do caso encaminhasse o processo para os procuradores do Paraná. Começa então o
aprisionamento pela jurisdição de Curitiba."
Ela
lembrou uma série de ações arbitrárias desencadeadas a partir de então. A
principal delas, a condução coercitiva do ex-presidente, em março de 2016,
quando também "jogaram todas as fichas" em ações de busca e apreensão
contra familiares e colaboradores do ex-presidente, que nada encontraram de
concreto.
"Em
março de 2016, entendemos que havia um processo orquestrado para culpar o
ex-presidente Lula e de alguma maneira manchar a sua biografia. Acusações e
hipóteses não faziam sentido. Você comanda o maior esquema de corrupção da face
da terra para ganhar um tríplex que você nunca teve, que não pode ser seu, a
menos que pague?".
A
Operação Lava Jato se torna então, uma "máquina de ilusionismo", com
novas denuncias infundadas a cada dia, que impedem a população de acompanhar o
desenrolar do processo.
Agora,
após ter acesso ao conteúdo do acordo entre a Lava Jato e o Departamento de
Justiça norte-americano, Valeska diz que, mais uma vez, ficou provada a
inocência do ex-presidente Lula, já que não há ali comprovada qualquer relação
do ex-presidente com ilícitos cometidos na Petrobras. A revelação que o
empresário Léo Pinheiro pagou R$ 6 milhões a executivos da OAS para que estes
confirmassem a sua versão de delação apresentada aos procuradores de Curitiba
fragiliza ainda mais as acusações.
Sequestro
Para
o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
João Pedro Stédile, Lula é "mais que um preso político", pois foi
"sequestrado" pelas forças do capital, que se articulam desde
Washington a Curitiba, para salvar o capitalismo da sua maior crise. Para
tomarem fôlego frente à derrocada, acredita, essas forças agora avançam sobre
as riquezas naturais e também sobre as estatais e os serviços públicos, que
devem ser privatizados para garantir as "gordas margens" de lucro do
sistema financeiro internacional. "Qualquer bandido, dos mais facínoras,
dá entrevista. Lula não pode se comunicar com o povo brasileiro, porque
representa um perigo para o projeto do capital."
Stédile
também relacionou o avanço dessas forças no Brasil e na Venezuela, dizendo que
a ex-presidenta Dilma Rousseff, deposta em 2016, foi a primeira vítima da sanha
das potências estrangeiras pelo pré-sal brasileiro.
Ele
também criticou o governo Bolsonaro, que não tem base social real, mas
representa um amontoado de blocos conservadores evangélicos, militares e
neoliberais. "Esses três blocos não se entendem. Não têm projeto e unidade
política."
Para
o coordenador do MST, esses desencontros na base do governo, somados às
trapalhadas do "clã Bolsonaro", têm causado uma mudança de clima na
sociedade brasileira, perceptível nas críticas que deram o tom no Carnaval.
"Os ventos estão mudando, e mudando para o nosso lado."
Para
Stédile, é preciso ampliar as mobilizações regionais pela libertação do
ex-presidente Lula, a partir do fortalecimento de comitês estaduais e
festivais. Ele também propôs a criação de uma cartilha, que aponte as violações
que constam nos processos que condenaram o ex-presidente, de forma a municiar a
militância de argumentos e para que exerçam a devida pressão sobre o
Judiciário. São iniciativas e ações como essa que serão discutidas ao longo do
dia na Assembleia Lula Livre.