Derrotada
em 2018, Elisangela Freitas foi nomeada por senador e administra página
pró-governo
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Marcos Brandão/Agência Senado |
DANIEL CARVALHO - BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A jornalista
Elisangela Machado dos Santos de Freitas, que disputou uma vaga na Câmara dos
Deputados como Elisa Robson (PRP-DF) no ano passado e não se elegeu, destinou
mais que a metade dos recursos que recebeu do fundo eleitoral ao próprio marido.
Administradora do
perfil República de Curitiba, página simpática a Jair Bolsonaro, a jornalista
agora foi contratada para trabalhar no gabinete de um dos filhos do presidente,
o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), como ela mesma divulgou na quinta-feira
(7) no Facebook.
Segundo
dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Elisa, que se apresentava nas redes
como "a federal do Bolsonaro no DF", recebeu R$ 25 mil do fundo
criado para financiar campanhas políticas e sua maior despesa, R$ 14,9 mil (59%
do total), foi com o próprio marido, o engenheiro Ronaldo Robson de Freitas. A
candidata obteve 11.638 votos (0,81% dos votos válidos).
Pela declaração que consta na Justiça eleitoral, o analista
da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) recebeu R$ 10 mil para
"serviços de coordenação de campanha eleitoral", R$ 4 mil para
"locação de equipamento para gravação de vídeo" e outros R$ 900 para
"serviço de divulgação de campanha".
O contrato de R$ 10.900, firmado entre Elisa e Ronaldo em 26
de agosto do ano passado, indica que ele ficaria responsável "pela gestão
de pessoas e de material de campanha, bem como monitoramento da divulgação do
nome da candidata em ambiente virtual" de 16 de agosto a 7 de outubro.
Com data de 9 de setembro, Ronaldo emitiu um recibo de R$ 900
pelo trabalho de "monitoramento das redes sociais". Em 5 de outubro,
foi assinado um outro recibo, de R$ 10 mil, por "coordenação de
campanha". Os dois serviços, segundo os recibos, foram concluídos dois
dias antes da data estipulada no contrato, no dia 5 de outubro. Também no dia 9
de setembro, Ronaldo assinou documento em que diz ter recebido R$ 4 mil pela
"locação de equipamentos para gravação de vídeos".
Ronaldo é
engenheiro mecânico com mestrado em Ética e Gestão, segundo seu perfil na
página da Embrapa, onde trabalha desde 2007. É analista na área de Patrimônio e
Suprimentos da Secretaria-Geral.
A
Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, informou que, durante a
campanha eleitoral, Ronaldo gozou de duas licenças médicas.
"No
período de julho a outubro de 2018 foram registradas duas ausências por motivo
de saúde: uma entre 13 e 17 de agosto e outra entre 3 e 5 de outubro, ambas por
meio de atestado médico", informou a empresa em nota.
Procurado
pela Folha de S.Paulo na sexta-feira (8), Ronaldo respondeu a apenas uma
pergunta da reportagem sobre os serviços que prestou.
"Estão
todos discriminados e apresentados à Justiça eleitoral bem detalhadamente. Você
pode pegar os documentos e montar uma matéria e colocar onde você entender que
seja melhor veiculado", disse o engenheiro antes de encerrar a ligação.
A
reportagem procurou também Elisa, que informou apenas que já havia se
manifestado nas redes sociais.
Em
seu perfil no Facebook -a mesma em que informou, no dia anterior, ter começado
a trabalhar com Flávio Bolsonaro-, a jornalista escreveu que a Folha de S.Paulo
havia procurado o marido dela para saber como ele participara da campanha.
"Explico:
meu esposo gerenciou todo o trabalho que foi feito de comunicação nas redes
sociais", afirmou na postagem.
"Ele
administrou as informações, os posts patrocinados, a produção de pequenos
vídeos e os poucos recursos financeiros que precisaram ser gerenciados (com
gasto total de R$ 30 mil. Inclusive, nossa família de 5 pessoas está sem carro
até o hoje porque decidimos dar prioridade financeira para a minha campanha na
época)", publicou a candidata derrotada.
"Graças
ao seu trabalho feito com esmero, clareza e responsabilidade encerrei as
eleições (mesmo sem nenhuma experiência em corrida eleitoral) com zero de
dívida de campanha e sem dever nada a ninguém. Todas estas informações estão
abertas e disponíveis no TSE para qualquer cidadão interessado. Portanto,
qualquer tentativa de manipulação das informações prestadas será imediatamente
desmascarada e respondida em público", encerrou.
A
reportagem voltou a procurar Elisa no mesmo dia, desta vez por mensagem de
Whatsapp, apresentando perguntas que não puderam ser feitas por telefone, pois
a ex-candidata encerrou a ligação.
Foi
questionado se o marido dela havia tirado licença da Embrapa durante a
campanha.
A
reportagem também perguntou o que ela tinha a dizer diante da manifestação da
Procuradoria Regional Eleitoral no Distrito Federal pela desaprovação das
contas dela e do pedido para que fosse determinada pela Justiça a devolução aos
cofres públicos de R$ 1.520, que ela havia doado ao candidato a deputado
estadual Edmilson Serafim Bezerra (PSL-GO), argumentando que a transação se
reverteu em favor de sua própria campanha.
O
Ministério Público considerou a argumentação da então candidata
"genérica" e "abstrata" e disse que pelo fato de o
candidato de Goiás "concorrer a cargo eletivo diverso, por outro partido
político, em unidade federativa distinta fazem crer que a prestadora de contas
[Elisa Robson] não obteve qualquer proveito político-eleitoral com a
transferência questionada".
A
Procuradoria diz ainda que "houve grave infringência" às regras de
distribuição dos valores do fundo eleitoral e que ignorar isso seria justificar
"eventuais procedimentos fraudulentos na aplicação de recursos públicos
como são os oriundos do FEFC [Fundo Especial de Financiamento de Campanha, o
fundo eleitoral], solapando-se, ainda, o elevado sentido da instituição da cota
feminina no ambiente político-eleitoral brasileiro".
Por
fim, a Folha de S.Paulo perguntou se o fato de Elisa ser administradora da
página República de Curitiba havia sido levado em consideração para sua
contratação no gabinete de Flávio.
Elisa
não havia respondido até este domingo (10).
Segundo
informações do Senado, a jornalista foi contratada por Flávio como auxiliar
parlamentar plena, cargo que tem como salário base R$ 8,6 mil.
A
reportagem também procurou, na tarde de sexta-feira, a assessoria de imprensa
de Flávio Bolsonaro, questionando a função que Elisa exerceria no gabinete,
qual o critério para a contratação e se havia sido levado em consideração o
fato de a jornalista ser administradora de uma página pró-Bolsonaro.
A
assessoria solicitou mais tempo para responder, alegando que não estava
conseguindo contato com o senador.
No
sábado, o gabinete divulgou nota em que afirma que "Elisa Robson deu todas
as explicações em seu post na rede social".
Confrontados
com o argumento de que as perguntas encaminhadas eram sobre a contratação e não
sobre a campanha, tema da publicação de Elisa no Facebook, os assessores
informaram não ter mais nada a falar sobre a questão.
Elisa
Robson costuma postar vídeos e fazer transmissões ao vivo pelo Facebook no
perfil "República de Curitiba". Ela ficou popular nas redes por um
protesto que fez em agosto do ano passado em frente ao prédio da ONU
(Organizações das Nações Unidas) em Brasília.
Ela
chama a organização de "bunker do socialismo" e diz que é preciso
"demitir a ONU do governo brasileiro".
"Temos
que tomar uma atitude e temos que demitir a ONU do governo brasileiro. Chega
desta influência nefasta que ela tem tido sobre nosso governo, sobre o nosso
país há mais de 30 anos, patrocinando os governos socialistas desde Fernando
Henrique, Lula, Dilma e Temer", diz ela cortando um papel com uma tesoura
diante do prédio.
Fonte:
Notícias ao Minuto