Aprovação do deputado opositor é de
apenas 21% entre venezuelanos; já para 52% a 57%, Maduro é o único presidente
Juan Guaidó (ao centro) e o presidente da Colômbia, Iván Duque (à sua direita), usam do ataque a Maduro para aumentar popularidade / Foto: AFP |
Pesquisas de
opinião realizadas no mês de fevereiro apontam que a maioria da população
venezuelana segue reconhecendo Nicolás Maduro como o único chefe de Estado do
país. Isso ficou demonstrado em duas pesquisas. A realizada pela empresa
venezuelana Hinterlaces aponta que 57% da população
local entende Nicolás Maduro como o presidente legítimo da Venezuela.
Outra
pesquisa, feita pela empresa brasileira Ideias a
pedido da revista Exame, indica que cerca de 52% dos venezuelanos
responderam que Maduro é o presidente da República. Enquanto 21%
reconhecem o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, que
no dia 23 de janeiro se autoproclamou presidente interino do país. Já 18%
não responderam e 9% disseram que não sabiam.
Fora da
Venezuela, no país vizinho, a Colômbia, o cenário se inverte. A empresa de
pesquisa colombiana Invamer afirmou
que a popularidade de Guaidó entre a população colombiana é de 70%, ou
seja, mais alta do que a do próprio presidente do país, Iván Duque, que teve
42% de aprovação em fevereiro.
E ainda
assim é um cenário favorável para o fiel apoiador de Guaidó, já que a
popularidade do presidente colombiano subiu 15 pontos nos últimos dois meses,
período de início de uma ofensiva da nação vizinha contra a Venezuela.
Antes disso, os problemas internos da Colômbia tinham provocado uma queda em
sua popularidade. Entre novembro e dezembro de 2018, aqueles que avaliavam
positivamente o governo de Duque caíram de 53% para 27%, de acordo
com a mesma empresa.
O
impacto da repercussão da mídia estrangeira sobre o que está acontecendo na
Venezuela pode ajudar a explicar o fato de o deputado
opositor Juan Guaidó ser mais reconhecido fora do que na própria
Venezuela.
De
acordo com Marco Teruggi, sociólogo argentino radicado na Venezuela, o
rápido aumento da popularidade de Guaidó junto à população
venezuelana e de outros países se trata de uma criação
midiática, visto que ele era praticamente desconhecido antes de se
autoproclamar presidente interino.
“Existe
um exagero comunicacional, que foi o ponto inicial para construir a imagem de
Guaidó. Os meios ocultaram a dimensão real que tinha sua imagem dentro do
território venezuelano. Quiseram apresentá-lo como uma nova liderança, alguém
transversal à sociedade multiclassista. Houve uma construção midiática para
legitimar essa afirmação, mas a realidade está bem longe disso. Tentaram
construir artificialmente uma liderança. Isso teve um peso importante fora da
Venezuela e, em alguns países, conseguiu-se convencer de que existem,
efetivamente, dois presidentes na Venezuela”, analisa o sociólogo.
Meios tentaram construir artificialmente uma liderança na Venezuela, diz sociólogo | Foto: Federico Parra/AFP |
Desconhecimento recente
Cerca
de dois meses atrás, Juan Guaidó poderia ser considerado
um desconhecido por boa parte dos venezuelanos. Isso é o que
mostrou uma pesquisa da Hinterlaces, feita
no dia 20 de janeiro, que apontava que 81% da população não
sabia quem era o presidente da Assembleia Nacional.
Dias depois,
em 23 de janeiro, ele
voltou a se autoproclamar presidente interino do país, invocando o
artigo 233 da Constituição. Tal artigo diz que, em caso de “ausência absoluta
do presidente”, deverão ser convocadas novas eleições a serem realizadas em um
prazo de 30 dias. Este ato de Guaidó foi prontamente reconhecido por países
como os Estados Unidos e
os membros do Grupo de Lima.
A parte da oposição que
apoia Guaidó diz não reconhecer a eleição presidencial realizada
em 20 de maio de 2018, por suportas fraudes. No pleito,
Maduro alcançou 5,8 milhões de votos, ou 68%. No entanto, creem como legítimas
as eleições de 2015, quando o atual líder opositor foi eleito
deputado, com 97 mil votos. Segundo especialistas e observadores
internacionais, as duas eleições contaram com as mesmas condições.
Já a
votação que levou Guaidó ao cargo máximo do Legislativo venezuelano, a
Assembleia Nacional, foi considerada simbólica, pois se tratou de um
acordo entre os partidos opositores, que dominam o órgão. Na eleição
do último dia 6 de janeiro, foi a vez do partido de Guaidó assumir a
liderança, como explica o vice-presidente da Casa, o deputado Edgar Zambrano, do
partido Ação Democrática. “A presidência da Assembleia
Nacional já havia sido exercida pelos partidos Primeiro Justiça e Ação
Democrática. Era a vez do Vontade Popular, e Guaidó foi uma indicação de seu
partido. Foi um acordo que fizemos”, afirmou em entrevista ao Brasil de Fato.
Fonte:
Brasil de Fato