Filme acompanha o dia a dia de uma ocupação do
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra na Usina Santa Helena, em Goiás
Cena do documentário "Chão", de Camila Freitas / Chão/Reprodução |
A luta do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chega às telas do 69º Festival Internacional de
Cinema de Berlim como um dos 12 filmes brasileiros
selecionados para a mostra. O documentário Chão, com direção de
Camila Freitas, mostra a ocupação de milhares de pessoas em uma usina de cana,
em Santa Helena (GO), e acompanha a luta dos sem-terra no cotidiano e nos
tribunais pela reforma agrária.
A
Fazenda Santa Helena, área da Usina Santa Helena, possui cerca de 15 mil
hectares e acumula aproximadamente R$ 1 bilhão em dívidas à União. Cerca de quatro mil pessoas ocuparam a terra em 2015, o que
culminou em uma perseguição aos sem-terra pelo juiz da Comarca de Santa Helena
e pelo Ministério Público Estadual, e na prisão de dois militantes por formação de organização criminosa.
Para
Freitas, dar voz à luta pela Reforma Agrária e mostrar isso em um festival com
tamanha visibilidade é de extrema importância. No Brasil, o presidente Jair
Bolsonaro transferiu para o Ministério da Agricultura a função de demarcar as terras para
reforma agrária. Bolsonaro chegou asuspender as demarcações
por tempo indefinido, mas voltou atrás logo em seguida. “Estamos
muito felizes com a seleção, não só para o filme, mas pelas questões que
levanta”. Segundo ela, com os olhares internacionais voltados à política
brasileira, é preciso potencializar a presença do filme em Berlim para dar
visibilidade e proteção ao direito fundamental à terra.
“Entender
do que se trata e ter uma ideia concreta da luta pela terra passa por essa
vivência cotidiana”, diz a diretora, que conta que nunca teve a intenção de
fazer um filme que exaltasse o MST, mas o interesse pelo dia a dia nas
ocupações a cativou. “Eu queria ver o que não se vê”. A experiência
acompanhando a atuação diária dos sem-terra mostrou a ela a capacidade de
reinvenção do movimento, encontrando pessoas que não se imaginavam vivendo
embaixo de lonas e lutando pela distribuição de terras no país.
Seu
contato com luta do movimento popular mostrou como a estrutura agrária do país
é problemática, e como a desigualdade no campo se reflete nas relações sociais
de trabalho na cidade. “O processo de retorno e reapropriação do campo como
algo positivo, e não como um regresso, mas como futuro e esperança foi o que
mais me encantou.”
O
Festival é um dos mais politizados do cinema internacional e o Brasil
avança com a denúncia do conservadorismo no país através de títulos como Marighella,
de Wagner Moura; Espero tua (Re)volta, que mostra as ocupações de
escolas públicas por secundaristas em 2015; O Ensaio,
que discute o racismo no país e Estou me Guardando
para Quando o Carnaval Chegar, que aborda a precariedade das
relações de trabalho. A mostra acontece do dia 7 ao dia 17 de fevereiro.
Fonte:
Brasil de Fato