Vivendo em Caracas, brasileira aponta que EUA
financiam grupos opositores para provocar o caos no país latino-americano
Bairros populares de maioria chavista são alvo de ataques de grupos opositores, denuncia jornalista brasileira radicada em Caracas / Foto: Agência Venezuelana de Notícias (AVN) |
Avança a passos
largos a tentativa de golpe de Estado na Venezuela, orquestrada pelos Estados
Unidos. Enquanto a oposição não tem força, nem programa, nem unidade para
ganhar as eleições, a "saída” para tomar o poder é a legitimação de um
governo paralelo, o roubo do patrimônio venezuelano no exterior e a incitação a
uma guerra civil.
Não
existem mortos nos atos públicos organizados pela oposição. Nesta
semana, novas manifestações foram convocadas em, ao menos, 17 lugares de
Caracas. O deputado opositor Juan
Guaidó saiu a público, assim como no dia 23 de janeiro –
quando se autoproclamou presidente encarregado da transição na Venezuela – e
ninguém se feriu ou foi preso.
Diferente
de outros países, como a Espanha, que prendeu o ex-presidente da
Catalunha Carles Puigdemont e outros líderes independentistas
catalães por terem convocado – e vencido – um
referendo separatista. Puigdemont segue preso. Onde estão as vozes
defensoras da liberdade de expressão condenando o governo espanhol?
Em
vários outros países, seria normal uma pessoa que se “autodeclara” chefe
da nação, recebe financiamento internacional e nomeia cargos diplomáticos
no exterior ser presa por conspiração, organização criminosa ou até mesmo
traição à pátria. Mas na Venezuela não.
Nesse
país onde não existe monarquia parlamentar nem ditadura, porque as pessoas
saem a votar de maneira facultativa, não porque são obrigadas, e
elegem há 20 anos o projeto bolivariano, bom, aqui, prender Guaidó seria
considerado um abuso de poder.
As
manchetes da grande imprensa brasileira, que se referem às pessoas mortas,
tem a ver com os focos de violência, criados pela oposição justamente para
incitar uma guerra civil e gerar um falso cenário de caos. Segundo o Ministério
do Poder Popular para a Comunicação e a Informação, somente na última
semana foram registrados 255 protestos violentos, com 210 feridos e 118
assaltos a propriedades públicas e privadas.
Os 20
milhões de dólares anunciados, na quinta-feira passada (24), pelo secretario de
Estado dos Estados Unidos como "ajuda humanitária" têm a
finalidade de financiar mercenários e paramilitares, que,
na madrugada, nos bairros periféricos, queimam e saqueiam propriedades, como se
fosse uma ação normal de descontento popular. Mentira. Fazem
isso, porque justamente nas zonas mais empobrecidas é onde o chavismo mais se
fortalece.
Que
tipo de manifestante sai às ruas "espontaneamente", no meio da noite,
com granadas e fuzis?
Também
é no mínimo curioso que as confederações de comerciantes (Consecomercio,
Fedecámaras) – historicamente opositoras – orientassem seus afiliados a
fecharem seus negócios hoje, porque “haveria novos saques”.
Esses
enfrentamentos têm gerado mortes, porque são confrontos de guerra, uma guerra
que está sendo criada por aqueles que dizem querer uma Venezuela "livre e
democrática", mas, na verdade, só buscam o poder.
E por
que afirmo tudo isso? Por que vivo em Caracas, próximo a várias favelas e tenho
visto essa farsa ser noticiada diariamente pelos meios brasileiros.
Não nos
enganemos, aqui o que existe é um povo que busca defender sua democracia frente
a uma tentativa de golpe.
*Michele de Mello é jornalista
em Caracas e militante do Polo Comunista Luiz Carlos Prestes.
Fonte:
Brasil de Fato