BRASÍLIA, DF
(FOLHAPRESS) - Em pouco mais de uma semana, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ)
viu as notícias sobre a disputa da Presidência da Câmara mudarem drasticamente
de tom.
Praticamente incontestável no fim de 2018,
o favoritismo do atual presidente da Casa na corrida chega à segunda semana de
2019 balançado pela debandada de partidos da oposição, a provável formação de
um bloco paralelo encabeçado por um ex-aliado e a pulverização de votos.
Se Maia começou o ano lendo, em 2 de
janeiro, que o acordo firmado com o PSL fortalecia sua ambição de se reeleger
para o cargo, chegou ao fim da segunda semana de 2019 recebendo a inesperada
decisão do PSB de descartar aliança.
Hoje, ele tem o apoio formal, além do
partido do presidente Jair Bolsonaro, de PSD, PR, PRB, DEM, PSDB, SD, Podemos e
PPS.
A princípio, o anúncio do ingresso do PSL
no bloco de Maia alimentou sua expectativa, ao somar os 52 votos da segunda
maior bancada da Câmara à sua candidatura.
Mas o que parecia ser a maior vantagem do
presidente da Casa até o momento pode ter se transformado em seu ponto
fraco.
Primeiro, porque não há consenso sobre a
adesão à candidatura de Maia entre os deputados bolsonaristas, que se veem
pressionados por seus eleitores pelo apoio a alguém que aliados do presidente
chamavam até as eleições de representante da "velha política".
Além disso, o movimento do PSL começou a
espantar partidos de centro e de esquerda que caminhavam para apoiá-lo e que
têm bancadas expressivas no Parlamento.
"O momento exige dos partidos da
oposição uma firmeza grande e ter clareza sobre o momento político que nós
estamos a viver", disse o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, ao
abrir a reunião da sigla, na quinta passada.
Cerca de quatro horas depois, Siqueira
afirmou categoricamente que a adesão do PSL ao bloco de Maia inviabilizaria a
manutenção do PSB (32 deputados) na aliança.
O recuo pode ser seguido por PDT (28) e PC
do B (9).
Além disso, o PT, partido que tem a maior
bancada da Câmara, com 56 deputados, encontra dificuldade para apoiar Rodrigo
Maia em 1º de fevereiro. Apesar do discurso da presidente da legenda, Gleisi
Hoffmann (PR), de que um apoio estava descartado, parlamentares ainda
dialogavam com Maia.
A bancada foi surpreendida na quarta (9)
com declaração do candidato descartando a presença do partido em seu bloco a
fala foi vista como uma tentativa de acalmar os ânimos de uma ala do PSL
contrária à possibilidade de terminar abraçada com o PT na eleição logo no
início do governo.
Ao mesmo tempo reticente por causa do
acordo com o partido de Bolsonaro, o PT tenta evitar a repetição do que
aconteceu em 2015: lançou candidato próprio, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que foi
derrotado por Eduardo Cunha (MDB-RJ), o que deixou o partido sem posições de
destaque na Mesa Diretora.
Assim, a sigla tenta se equilibrar entre o
pragmatismo de embarcar numa candidatura com chances de vitória e a preservação
de seu discurso ideológico.
Os partidos da oposição podem terminar se
voltando para um antigo aliado de Maia, o líder do PP na Câmara, Arthur Lira
(AL). Ele articula a formação de um outro grupo que, além do PT, PSB, PDT e PC
do B, pode agregar PP (37), MDB (34), PTB (10) e PSC (8).
O bloco chega a um máximo de 214 votos, o
que pode torná-lo uma ameaça para Maia, que em sua própria conjunção de
partidos conseguiria um máximo de 239 votos.
Não há, porém, em nenhum dos dois casos
unanimidade, por ser uma votação secreta, o que impede o domínio das cúpulas
sobre os deputados.
Os possíveis adversários de Maia não
pretendem apresentar um único nome, mas lançar várias candidaturas. Assim
forçariam um segundo turno, no qual dizem se uniriam contra Maia.
Até agora, os colocados neste grupo são Lira,
Fábio Ramalho (MDB-MG), Alceu Moreira (MDB-RS) e JHC (PSB-AL).
Recebido por Bolsonaro no Planalto,
Ramalho pode ajudar a colocar água no chope do atual presidente, amealhando
votos entre deputados novatos e o baixo clero.
Para pulverizar ainda mais a disputa,
ainda há as candidaturas de Kim Kataguiri (DEM-SP), Capitão Augusto (PR-SP) e
Marcelo Freixo (PSOL-RJ).