"O fato mais traumático que vivenciei, em toda a minha
existência, foi a morte prematura da minha filha Eliete", diz o jurista
Afrânio Silva Jardim; "Acho que posso afirmar que este ano de 2018, que
ora se finda, foi o segundo ano mais danoso que vivi. Não vou aqui elencar as
grandes decepções e perdas que me amarguraram no curso deste período",
afirma; "Não sei se conseguirei viver em um país governado pela extrema
direita"
Por Afrânio Silva Jardim, em
seu Facebook
O fato
mais traumático que vivenciei, em toda a minha existência, foi a morte prematura
da minha filha Eliete. Esta tragédia ocorreu no ano de 2014 e ainda não me
recuperei desta irreparável perda ...
Revendo
o meu passado, acho que posso afirmar que este ano de 2018, que ora se finda,
foi o segundo ano mais danoso que vivi. Não vou aqui elencar as grandes
decepções e perdas que me amarguraram no curso deste período. Vou ser mais
genérico e sucinto.
Durante
este ano de 2018, perplexo e atônito, assisti à derrocada de quase todos os
valores pelos quais sempre pugnei. Foram décadas pregando a solidariedade e
fraternidade, tudo no âmbito de uma sociedade mais justa, menos desigual, onde
todos pudessem ter uma vida digna.
Lutamos
contra o individualismo, a ganância, os preconceitos, a competição como
fundamento de uma sociedade consumista (e vários outros aspectos negativos
deste modelo de sociedade).
Entretanto,
não posso deixar de consignar uma situação específica, qual seja, a injusta
prisão do maior líder popular de toda a história de nosso país. Este absurdo
jurídico, na minha opinião, maculou toda a trajetória do nosso sistema de
justiça criminal. Esta prisão apequenou e apequena o nosso sistema de justiça
criminal.
Agora,
sou obrigado a reconhecer: perdemos, ainda que parcialmente e temporariamente.
Eu perdi e acho que não tenho tempo de vida suficiente para ver surgir um
verdadeiro socialismo democrático em nosso país...
Perdemos,
porque a sociedade está submetida a um nefasto e longo obscurantismo. As
pessoas estão ficando “infantilizadas” e a conjugação da ignorância com o
fanatismo religioso transformou o nosso povo em “massa de manobra” de grupos
empresariais que manipulam as redes sociais.
Não
tenho mais dúvida de que vou deixar este mundo muito pior do que ele era
quando, por uma incrível coincidência biológica, eu aqui nasci. Aqui vivi 68
anos e agora tenho de reconhecer que a “direita autoritária” chegou ao poder e,
o que é pior, as pessoas elegeram para presidente um antigo militar que disse,
pública e reiteradamente, que era favorável à tortura de seres humanos e ao
extermínio de seus adversários ideológicos. Na verdade, todos perderam ou vão
perder...
Perdemos,
sim, para a truculência, para o ódio e para a ignorância. Entretanto, digo que
detestaria estar no lugar dos que nos venceram, conforme célebre frase do
grande Darci Ribeiro. Que falta está fazendo este grande escritor, político,
acadêmico e intelectual inconformado !!!
De uma
forma geral, o mundo está ficando muito pior. Quanto mais as pessoas se apegam
às várias religiões, mais perversas e ignorantes elas se tornam. A ciência
também está perdendo para as crendices. Invertendo a lógica das coisas, os
“fiéis” se utilizam das suas religiões para disseminar os valores que, com
elas, são incompatíveis. Não estamos mais na era da razão humana e, sim, na era
da “confusão tecnológica”. A lógica está fora de moda !!!
Vejam a
matéria cujo link coloco abaixo, publicada no site “The Intercept, Brasil”.
Deprimente e nos cria um verdadeiro desassossego.
Não sei
se conseguirei viver em um país governado pela extrema direita. Não sei se
conseguirei permanecer “vivo entre tantos mortos”, como diz a bela música
cantada pelo camarada argentino Victor Heredia, que tantas vezes coloquei aqui.
Vamos
resistir. A cultura, o conhecimento, o companheirismo e a generosidade não
podem perecer. Vamos resistir sem medo e sem perder a ternura jamais (Che).