Em agosto, a BRF tinha aderido ao lay-off e
suspendeu de forma temporária o contrato de trabalho dos funcionários
Unidade da BRF Chapecó suspendeu o contrato de trabalho de cerca de 1.200 funcionários / Divulgação |
A região Oeste de
Santa Catarina é classificada como uma referência na área da avicultura
comercial brasileira. Dados de 2017 da Companhia Integrada de Desenvolvimento
Agrícola de Santa Catarina – Cidasc, apontam que a região de Chapecó conta com
cerca de 2,9 mil granjas comerciais, o que corresponde a uma capacidade de
alojamento de 52,48 milhões de aves.
Destes
avicultores, boa parte alojam aves para a empresa Brasil Foods - BRF. No
entanto, a unidade da empresa na cidade de Chapecó, anunciou no dia 29 de
agosto de 2018, que iria suspender temporariamente o abate de aves. Isso fez
com que a BRF aderisse ao lay-off, que consiste na suspensão temporária do
contrato de trabalho dos funcionários da agroindústria. A ação atingiu também
toda a cadeia produtiva, o que inclui prestadores de serviço, transportadores,
equipes de carregamento de aves e avicultores.
Na
agroindústria, a BRF afirma que foram 1.200 funcionários da linha de frangos
que entraram em lay-off. Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em
Indústrias de Carnes e Derivados de Chapecó - Sitracarnes, Jenir de Paula,
destaca que a lay-off atingiu, no início, 1.400 funcionários, no entanto,
algumas demissões fizeram o número diminuir. "Em agosto, ela (BRF)
parou um setor de perus e deu prioridade para os trabalhadores de Chapecó,
demitindo quem vinha de municípios vizinhos", afirma.
Sobre a
paralisação do alojamento e abate das aves, um avicultor, que não pode ser
identificado devido às restrições da empresa, conta que a crise da
agroindústria teve início com a Operação Carne Fraca e que se agravou com o
passar do tempo. “Até que chegou o momento deles suspenderem a produção de
frangos e de perus também, que ficou com um turno só”, comenta.
O
presidente do Sitracarnes, Jenir de Paula, têm uma opinião semelhante a do
avicultor. Ele acredita que a situação se deu por conta de dois fatores, a
Greve dos Caminhoneiros que ocorreu no mês de maio de 2018, que segundo ele,
teve forte impacto na indústria, e por conta do envolvimento da empresa BRF na
Operação Carne Fraca. "A gente já esclareceu para os trabalhadores que a
culpa não é deles. Todo mundo sabe que quem tem culpa nisso é a própria empresa
por se envolver na Operação", aponta Jenir.
A
Operação Carne Fraca, citada pelo sindicalista, foi deflagrada pela Polícia
Federal em março de 2017 e investigou fraudes laboratoriais no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento e irregularidades cometidas por
frigoríficos de grandes companhias.
Para o
presidente do Sindicato Patronal dos Criadores de Aves do Estado de Santa
Catarina - Sincravesc, Valdemar Vicente Kovaleski, o lay-off veio com a
necessidade da empresa em fazer um realinhamento. "Ela precisava fazer
alguns procedimentos, que seriam o de trazer de volta a normalidade de toda a
linha de produção. E na nossa interpretação, ele (lay-off) serviu assim
para uma reciclagem geral", afirma.
A BRF,
por sua vez, em resposta a nossa equipe de reportagem, afirma que
o lay-off foi uma das medidas que a empresa adotou neste ano, dentro da
reorganização fabril da agroindústria, com o intuito de adequar a sua produção
à demanda do mercado.
Consequências para os
trabalhadores
De
acordo com o sindicalista Jenir de Paula, o Sitracarnes recebeu o comunicado da
BRF sobre a suspensão dos contratos dos funcionários da agroindústria e reagiu
em busca de alternativas. "Nós falamos que não iríamos fazer
o lay-off. Mas aí a gente percebeu que a empresa tinha duas propostas, ou
fazia o lay-off ou mandava todo mundo embora", conta.
Jenir
relata que a decisão da categoria em aderir ao lay-off foi tomada a partir de
uma negociação com a empresa, em que, além da bolsa prevista na ação, outros
direitos foram reivindicados para os trabalhadores. A negociação foi
apresentada em assembleia convocada pelo sindicato, junto aos trabalhadores que
seriam atingidos. Na oportunidade foi decidida, mediante votação, pela adesão
ao lay-off.
Dentre
as conquistas nas negociações com a empresa, Jenir explica que benefícios como
o vale transporte, vale alimentação e o pagamento da bolsa para trabalhadores
que não possuíam 12 meses de contribuição, foram garantidos aos funcionários em
lay-off. "Mas é verdade que isso (lay-off) não é bom para ninguém. Que se
deixe claro, isso retira muitos direitos dos trabalhadores". Os
funcionários que estão em lay-off, com o contrato suspenso, precisam frequentar
um curso de qualificação e atingir 75% de frequência para receber a bolsa, que
corresponde a cerca de 80% do valor do salário que recebia.
Como
citado anteriormente, a paralisação do abate de aves na BRF unidade Chapecó
afetou além dos trabalhadores da agroindústria, outras categorias. No caso dos
avicultores, de acordo com o presidente do Sincravesc, Valdemar Kovaleski, a
empresa ofereceu um valor diário determinado por aviário de frango ou peru. A
contrapartida, de acordo com Valdemar, era de que o avicultor mantivesse a
granja apta para receber as aves no momento que fosse necessário. "E o
avicultor concordou com isso. O integrado recebeu a notícia com certa
alegria", conta. Segundo Valdemar, as questões que envolvem o lay-off
foram levantadas em reunião com os avicultores. "Não foi em um grande
evento espalhafatoso, foi coisa reservada".
O
avicultor relata que a empresa fez um contrato com os produtores em que o valor
de R$ 88,00 diário era repassado após uma vistoria no aviário de frangos e R$
55,00 para o aviário de perus. No final do mês, caso a fiscalização apontasse
que o aviário estava apto, o avicultor que tinha um aviário de frangos recebia
o valor de R$ 2.640 mensais, já quem tinha um estabelecimento que alojava
perus, recebia R$ 1.650 por mês. Quantia que, conforme destaca o avicultor, era
muito inferior ao que ganhavam antes do lay-off entrar em vigor, logo, o
valor repassado pela BRF era todo usado para manutenção do aviário. “A
instalação fica um tempo parada e parece que estraga com maior facilidade. Para
voltar vou ter que investir de novo. E eles vem com uma exigência bem grande
para poder voltar a alojar, se não, não aloja mais”.
De
acordo com o avicultor, a BRF exige que seja mantida a biosseguridade, que
segundo a Embrapa, é a medida para evitar a entrada e propagação de
doenças nas aves, garantindo a segurança dos alimentos e saúde dos animais,
assim como o bem estar dos trabalhadores. O produtor destaca que apesar das
exigências, o valor pago pelos lotes de aves não foi discutido.
Quando
se trata do sindicato, ele afirma que o Sincravesc não faz nada pelo produtor.
"O avicultor está a Deus dará nessa questão, não tem nenhuma negociação. O
sindicato nunca chamou os avicultores para discutir junto com eles, como foi no
caso dos funcionários da BRF, que teve negociação entre a empresa e o
Sitracarnes. No nosso caso não, não houve nada".
A retomada
Na
agroindústria, segundo informações repassadas pela BRF, a perspectiva é de que
1.100 trabalhadores que estavam em lay-off retornem para suas atividades
e de que 700 novos postos de trabalho sejam criados em março de 2019. As
novas vagas serão ofertadas em decorrência do aumento da produção de perus. A
BRF possuía quatro unidades de produção no país e a decisão foi de manter
apenas a unidade de Chapecó.
De
acordo com o presidente do Sincravesc, Valdemar Kovaleski, quando se trata dos
avicultores, os que produzem frangos podem migrar para a produção de perus por
conta dessa mudança, desde que façam as devidas adaptações nas granjas.
Ainda
sobre os trabalhadores da agroindústria, o presidente do Sitracarnes Jenir de
Paula, afirma que a BRF comunicou ao sindicato que o retorno dos funcionários
que estão em lay-off terá início no final do mês de dezembro e segue até
janeiro de 2019.
Fonte: Brasil de
Fato