Vigília Lula Livre amplia fronteiras e faz do
bairro Santa Cândida um símbolo de resistência em Curitiba
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Organização estima que, desde abril, cerca de 40 mil pessoas circularam pelos espaços que compõem a Vigília Lula Livre / Ricardo Stuckert |
Há exatos oito meses,
no dia 7 de abril, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou à
Superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba (PR), onde preso após
condenação sem provas no "caso triplex". Desde então, apoiadores do
ex-presidente permanecem mobilizados em frente ao prédio da PF e constroem, dia
após dia, a Vigília Lula Livre, um espaço de resistência democrática e formação
política.
Se, nas primeiras
semanas, a ocupação era mantida no improviso, nas ruas e calçadas do bairro
Santa Cândida, hoje os militantes contam com um terreno na esquina da
Superintendência, além de um alojamento próximo, conhecido como Casa Lula
Livre. A partir do segundo semestre de 2018, também passou a funcionar
o Centro de Formação e Cultura Marielle Vive, local destinado a
alimentação e formação política e a atividades culturais.
Teoria e prática
Luana
Lustosa é integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na
região Sul do Paraná e está na Vigília desde o primeiro dia.
Ela conta que, durante os oito meses, a mobilização passou por um processo
de "amadurecimento".
“Quando chegou
perto dos 100 dias, a gente já estava em condição de sistematizar algumas coisas
e planejar. O planejamento a médio prazo foi uma coisa tímida. Ninguém
tinha coragem de fazer, porque parecia que a gente estava aceitando a ideia de
que o Lula ia permanecer preso. Mas, agora, temos certa maturidade para
fazer planos, e as coisas ficaram com uma qualidade bem melhor”, analisa.
É consenso
entre os integrantes que a Vigília se fortalece a cada dia.
O Centro
Marielle foi inaugurado em setembro, com a presença de Marinete da Silva e
Antonio Francisco da Silva Neto, pais da ex-vereadora Marielle Franco, que dá
nome ao espaço. Também em setembro, o cineasta Silvio Tendler esteve no Centro
para inaugurar a sala de cinema Cine Lula Livre, com seu documentário
“Dedo na Ferida”. O espaço também sediou cursos de formação do MST e o I
Encontro de Formação da Frente Única de Cultura de Curitiba.
Luana
explica que as dinâmicas da Vigília Lula Livre e do Centro Marielle unem
“o exercício prático da militância ao teórico”, fazendo com que as pessoas
que chegam a esses espaços entendam “o que significa permanecer aqui
e o que significa ter um preso político com a influência popular do tamanho de
Lula”.
Solidariedade
Desde abril,
a organização estima que cerca de 40 mil pessoas circularam pelos espaços que
compõem a Vigília Lula Livre, entre militantes de partidos e de movimentos
populares e apoiadores do ex-presidente. Na entrada da Vigília, o livro de
visitas, aberto em maio, conta com a assinatura de mais de 11 mil pessoas.
Dentro da
carceragem da PF, nesse mesmo período, o ex-presidente Lula recebeu cerca de 90
visitas, às segundas e quintas, de personalidades nacionais e internacionais,
como os cantores Chico Buarque e Martinho da Vila, a monja Coen, o teólogo
Leonardo Boff, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, o vencedor do Nobel da Paz
Adolfo Perez Esquivel, o linguista e filósofo norte-americano Noam Chomsky e o
sociólogo português Boaventura Souza Santos. A maioria dos
visitantes estiveram também na Vigília Lula Livre, para transmitir os
recados de Lula à militância.
Além dos
visitantes do ex-presidente, também passaram pela Vigília a médica popular
cubana Aleida Guevara, a apresentadora Bela Gil, a chef de cozinha Bel Coelho e
artistas como Chico César, Ana Cañas, Lucélia Santos e Orã Figueiredo.
Para Sandra
dos Santos, militante do Partido dos Trabalhadores e integrante da coordenação
da Vigília Lula Livre, os oito meses “trouxeram um despertar para a
militância”. Na interpretação dela, a Vigília tem cumprido um papel central,
tanto na denúncia, nacional e internacional, à prisão política do ex-presidente
Lula, quanto na formação política de militantes.
Ao projetar
cenários para 2019, com o início do governo de Jair Bolsonaro (PSL),
Santos afirma que o momento pede cautela, pois a conjuntura é de “muita pressão
psicológica, e a militância precisa buscar equilíbrio emocional”. Ela explica,
no entanto, que a militância que tem se formado na Vigília "não vai
recuar nem cruzar os braços”.
“O que a
gente sabe é que estamos vivendo um processo de golpe, de retrocessos, e que
tudo que está acontecendo faz parte do golpe. O que virá, a gente não sabe, tem
que entender melhor ainda. O que eu avalio é que não tem outra alternativa: a
gente não pode se dar ao luxo de cruzar os braços. Vamos continuar a luta
e a resistência”, promete.
A
organização prevê que a Vigília Lula Livre permaneça com a programação
diária de saudações ao ex-presidente, rodas de conversa sobre temas políticos e
atividades culturais enquanto Lula estiver mantido preso na Superintendência da
PF. Para dezembro, estão programadas celebrações de Natal e Ano Novo na
Vigília, e dezenas de apoiadores do Paraná e de outros estados prometem vir a
Curitiba para “passar o natal com Lula”.
Fonte:
Brasil de Fato