Gilberto Carvalho, um dos líderes do PT com ligação mais
profunda com Lula e ex-secretário-geral da Presidência revelou numa entrevista
à BBC News Brasil que o todo-poderoso ministro do STF Gilmar Mendes
confessou-lhe: o processo da Lava Jato contra no caso do tríplex "não para
de pé"; segundo Carvalho, o STF ficou calado diante da ilegalidade
evidente do processo por conta do calendário eleitoral
247 - Gilberto Carvalho,
um dos líderes do PT com ligação mais profunda com Lula e ex-secretário-geral
da Presidência (2011-2015) revelou numa entrevista à BBC News Brasil que o
todo-poderoso ministro do STF Gilmar Mendes confessou-lhe: o processo da Lava
Jato contra no caso do tríplex "não para de pé". Segundo Carvalho, o
STF ficou calado diante da ilegalidade evidente do processo por conta do
calendário eleitoral.
"Não
tenho dúvida nenhuma de que o processo contra o Lula foi um processo montado
para tirá-lo do jogo. São absolutamente ridículas as acusações contra o Lula a
ponto de um juiz do Supremo como o Gilmar Mendes dizer para mim pessoalmente:
"o processo do tríplex não para de pé". Não sou eu que falei isso.
Qualquer juiz sabe disso. Só não agiram antes porque não queriam fazer
interferência no processo eleitoral" -disse Carvalho.
A
entrevista à BBC, concedida há uma semana mas veiculada apenas nesta terça (6)
foi longa e discorreu sobre o resultado das eleições, o golpe contra Dilma, o
desempenho do PT, erros e acertos do partido, a relação com Ciro Gomes e o
cenário de instabilidade à frente (aqui a íntegra). Para o ex-ministro,
"a manter esse programa (econômico liberal) do Guedes não há como dar
certo, e o que vai dar é muito descontentamento rapidamente". Ele
comparou Bolsonaro a Collor e prevê um cenário rápido de desconstrução: "Esse
processo eleitoral me lembra muito Collor (presidente eleito) em 1989, pelas
categorias manejadas, e acho que o futuro desse governo pode ter um destino,
não vou dizer igual, mas semelhante ao do Collor, no sentido de uma grande
promessa rapidamente frustrada."
Leia a
seguir a sequência de perguntas e respostas sobre a perseguição da Lava Jato a
Lula:
Os processos contra Lula do tríplex e do sítio de Atibaia indicam
um relacionamento de compadrio com empreiteiras, em que ele pode ter obtido
benefícios, ou quase obtido. Como olhar esses demônios se o discurso é de que o
Lula é totalmente inocente?
Eu não
vejo contradição nenhuma nisso porque eu conheço o Lula e Lula efetivamente é
inocente. O Lula foi o presidente que tomou a iniciativa de estimular o
desenvolvimento dos órgãos de controle, e nunca, isso eu posso testemunhar
porque eu convivi com ele oito anos na Presidência, nunca ele pôs a mão na
cabeça de ninguém. Ele sempre disse: "quem no meu governo errar será
investigado, não peça para não ser investigado". Tanto que ele viu cair (o
ex-ministro Antônio) Palocci, cair Zé Dirceu (ex-ministro e ex-presidente do
PT). Até diziam que ele era pouco solidário.
O Lula
focou o governo dele na questão da mudança do país, desenvolvimento econômico e
tal, e criou os mecanismos para que tudo fosse detectado. Muita coisa não foi
detectada porque não havia como chegar à Presidência informações que não chegam
tão rapidamente, como o caso da Petrobras.
O erro
que o Lula cometeu, que nós cometemos, foi ter convivido com pessoas que foram
governo com objetivo claro de se locupletar, e praticaram um monte de coisa que
depois vieram pra nossa conta, como é o caso da Petrobras. Lula não conhecia
Paulo Roberto, não conhecia (Renato) Duque (ex-diretores da estatal presos na
Lava Jato).
E eu
não concordo com afirmação de que teve compadrio. E o que ele fez, e aí sim se
inclui no conjunto do PT, foi aceitar e tolerar o financiamento empresarial de
campanha. Mas vamos lembrar que isso estava dentro da lei. Nunca o Lula se
dirigiu a nenhum empresário, e falou "eu peço dinheiro para você".
Mas tem as obras realizadas por empreiteiras no sítio de Atibaia
(que não pertence a Lula formalmente, mas ele fazia uso), a própria questão do
tríplex do Guarujá (que foi oferecido a Lula pela OAS e ele chegou a visitar
antes de recursar)?
Elas se
deram depois do governo dele, nunca durante o governo dele, na ciência dele.
Mas essas obras no sítio são um problema?
Não. Se
fossem feitas durante o governo, seria um problema. Não foram feitas durante o
governo dele, ao menos com a ciência dele não foram feitas. O caso do tríplex
foi uma oferta que não foi aceita.
Não
tenho dúvida nenhuma de que o processo contra o Lula foi um processo montado
para tirá-lo do jogo. São absolutamente ridículas as acusações contra o Lula a
ponto de um juiz do Supremo como o Gilmar Mendes dizer para mim pessoalmente:
"o processo do tríplex não para de pé". Não sou eu que falei isso.
Qualquer juiz sabe disso. Só não agiram antes porque não queriam fazer
interferência no processo eleitoral.
Sérgio Moro pode ocupar o cargo de ministro da Justiça no governo
Bolsonaro (o que foi confirmado na quinta-feira um dia após a entrevista). Como
o senhor recebe essa notícia?
Essa
notícia é apenas a confirmação de tudo que nós tínhamos falado. Há um processo
de um Judiciário que se tornou acusador. Um Judiciário que perdeu a
imparcialidade e se tornou parte de um processo de destruição de um projeto. É
só isso. Ele aceitando ou não, para mim não importa muito. O fato de o
Bolsonaro convidá-lo é apenas a consolidação de que ele tem parte no processo e
que eles conseguiram tirar (Lula da eleição), nos derrotaram desse ponto de
vista.
Moro e uma parte
importante do Judiciário, aí incluída a segunda instância, estão afundados até
as botas nessa ação de destruir o nosso projeto, e não é pelos nossos erros, é
pelos nossos acertos: em função de nossa autonomia em relação aos Estados
Unidos, o ferimento dos interesses das petroleiras no pré-sal, o ferimento de
interesses do sistema financeiro com as medidas que a Dilma tomou sobretudo (de
tentar reduzir os spreads bancários). O resto foram argumentos que foram se
acoplando para justificar perante a opinião pública uma ação criminosa, que, ao
meu juízo, ao tentar destruir o PT, acabou destruindo o Brasil.