As principais centrais sindicais brasileiras formalizaram
apoio ao candidato do campo democrático à Presidência da República, Fernando
Haddad, no segundo turno; de Haddad, eles esperam compromisso com a manutenção
de direitos e um programa que contemple desenvolvimento com distribuição de
renda; segundo o documento, a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL),
"privilegia o mercado financeiro sobre qualquer outro setor da
sociedade" e tem "flagrante" intenção de suprimir direitos"
Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual - As principais
centrais sindicais brasileiras formalizaram nesta quarta-feira (10) apoio ao
candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, juntando no mesmo
campo dirigentes que apoiaram pelo menos três outros nomes no primeiro turno
das eleições 2018. Do petista, eles esperam compromisso com a manutenção de
direitos, incluindo a revogação da "reforma" trabalhista e da Emenda
Constitucional 95 (de congelamento de gastos públicos), e um programa que
contemple desenvolvimento com distribuição de renda.
Segundo
documento assinado por sete centrais e entregue a Haddad (confira no final)
durante reunião em São Paulo, o outro candidato, Jair Bolsonaro (PSL),
"privilegia o mercado financeiro sobre qualquer outro setor da
sociedade" e tem "flagrante" intenção de suprimir direitos.
"É
o candidato dos patrões, da Fiesp, de Temer, porque ele votou em todas as
propostas de retirada de direitos. É contra a existência de sindicatos e de
movimento sindical representativo e é defendido por toda a classe patronal do
Brasil. É o candidato do capital financeiro, do agronegócio", disse o
presidente da CUT, Vagner Freitas.
O
dirigente afirmou que, com Haddad, haverá garantia de interlocução com o
movimento sindical, além de manutenção de políticas como a da valorização do
salário mínimo. "A agenda do segundo turno é dos direitos sociais, civis.
É a eleição de nossas vidas."
Haddad
afirmou que o país vive retrocessos trabalhistas e sociais há dois anos, desde
o impeachment, com a posse de Michel Temer. "É uma contradição nosso
adversário dizer que vai manter todas as medidas do governo Temer e vai
oferecer mais. Não é cortando direitos históricos da classe trabalhadora que
vamos contribuir para o crescimento", acrescentando, repetindo frase que
tem se tornando bordão da campanha: "Nossa solução não é uma arma numa mão
e uma arma na outra. É uma carteira de trabalho numa mão e um livro na
outra".
Segundo
ele, não são apenas esses direitos que estão sendo ameaçados, mas também os
civis. O petista citou casos recentes de violência. "É uma escalada que
nós temos de interromper. Estamos falando de fundamentos de uma sociedade
civilizada", afirmou. Após o encontro com os sindicalistas, Haddad revelou
a jornalistas ter sido procurado hoje por tucanos, também preocupados com o
momento político.
"O
compromisso central é que só há desenvolvimento com valorização do
trabalho", reforçou. Ela acrescentou que as mulheres são as principais
prejudicadas com a lei de "reforma" trabalhista, citando o trabalho
intermitente e a possibilidade de atividades em ambientes insalubres.
Progresso e democracia
O
presidente interino da Força Sindical, Miguel Torres, afirmou que os dirigentes
da central estão do "lado do progresso, da democracia, do desenvolvimento,
do futuro do país". O presidente licenciado da central, deputado reeleito
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, também líder do SD, apoiou Geraldo Alckmin
(PSDB) no primeiro turno. "Estamos de corpo e alma na campanha
Haddad/Manuela", disse Miguel. A candidata a vice na chapa, Manuela
D´Ávila (PCdoB), também participou da reunião.
Os
presidentes da UGT e da CSB não puderam comparecer, mas endossaram o documento.
Estiveram ainda no encontro a presidenta nacional do PT, senadora Gleisi
Hoffmann (PR), e os presidentes dos sindicatos dos Bancários de São Paulo,
Ivone Silva, e dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão.
Miguel
afirmou ainda que o movimento sindical já tem sofrido ataques "de uma
política reacionária do atual governo", acrescentando que isso tende a
piorar com uma vitória de Bolsonaro, citando ideias como a da criação de uma
carteira profissional verde e amarela para trabalhadores com menos direitos e
extinção do 13º salário. E lembrou que mesmo antes da definição das
candidaturas, as centrais, independentemente de nomes, já haviam aprovado uma
"agenda prioritária" dos trabalhadores, com 22 itens.
"Construímos a unidade em torno de objetivos estratégicos."
Agora,
segundo ele, é preciso que o próximo governo apresente um programa nacional de
desenvolvimento, que contemple emprego, tecnologia e aumento da massa salarial.
"Temos a obrigação de abrir o olho do trabalhador." O documento
menciona que muitos trabalhadores, "desempregados e desalentados",
podem estar sendo iludidos por um "canto da sereia", por meio de
divulgação "notícias falsas e disseminação do ódio".
O
secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, lembrou que no
primeiro turno a central se engajou na campanha de Guilherme Boulos (Psol).
Agora, as entidades estão unidas "contra o retrocesso, contra o ódio, a
violência e o fim dos nossos direitos, pelo futuro do povo brasileiro, da nossa
frágil democracia", comparou. "A disputa aqui é entre a civilização e
a barbárie."
Presidente
da Nova Central em São Paulo, Luiz Gonçalves, o Luizinho, acredita em
"dias muitos nebulosos" em caso de vitória de Bolsonaro, com um
ministério "só de generais". "Ele já disse que não vai aceitar
nenhum tipo de ativismo", afirmou o dirigente, prevendo intensificação de
medidas de repressão contra os movimentos sociais. "A criminalização da
política é para tirar a gente do jogo", emendou o presidente da CTB,
Adilson Araújo.
Em nome
das mulheres, a deputada estadual eleita Maria Izabel de Azevedo Noronha, a
Bebel, presidenta licenciada da Apeoesp (sindicato dos professores da rede
pública paulista), disse que a "onda conservadora jogou pesado contra
qualquer avanço que pudéssemos ter", o que prejudica, principalmente, as
trabalhadoras. Segundo ela, o projeto da chapa liderada por Haddad "é o
único que vai resgatar os direitos que havíamos conquistado". Bebel também
defendeu a revogação da EC 95 e da "reforma" do ensino médio.
Candidato
do PT ao governo de São Paulo, o ex-prefeito e ex-ministro Luiz Marinho
ressaltou as diferenças de propostas. "Não representamos apenas um
projeto, mas enfrentamento ao atraso", afirmou. "Nós sabemos o
significado do desmonte de direitos", acrescentando que a candidatura
adversária faz sinaliza com um "projeto ditatorial".
Confira
o documento das centrais entregue a Haddad:
MOVIMENTO SINDICAL EM DEFESA DOS DIREITOS TRABALHISTAS E DA
DEMOCRACIA
POR QUE A CLASSE TRABALHADORA DEVE ELEGER HADDAD
Em 28
de outubro teremos uma eleição decisiva para o futuro da classe trabalhadora
brasileira. De um lado, Fernando Haddad, um candidato comprometido com a
democracia, os direitos sociais e a soberania nacional. Do outro, um candidato
que encarna o autoritarismo, a desnacionalização da economia e a extinção dos
direitos sociais e trabalhistas, com consequências diretas na vida dos
trabalhadores e das trabalhadoras, como desemprego, a precarização do trabalho,
redução dos direitos e da qualidade de vida.
Jair
Bolsonaro defende os interesses de grandes corporações nacionais e
estrangeiras, seu projeto privilegia o mercado financeiro sobre qualquer outro
setor da sociedade. Sua intenção de supressão dos direitos dos trabalhadores é
tão flagrante que o candidato afirmou que, se eleito, vai criar uma
"nova" carteira de trabalho em contraposição à atual. Com esta
fantasiosa carteira, o empregado não terá nenhum dos direitos previstos na CLT
como férias, 13º salário e licença maternidade.
O
programa de governo de Haddad está em sintonia com os interesses da Nação e do
nosso povo. Propõe a revogação da reforma trabalhista e da Emenda
Constitucional 95, que congelou os investimentos públicos por 20 anos. Propõe a
retomada do desenvolvimento e crescimento econômico, com distribuição de renda,
inclusão e justiça social e redução do desemprego. Defende o fortalecimento e a
valorização da agricultura familiar e do salário mínimo, o combate da
precarização do mercado de trabalho, a democratização dos meios de comunicação
e uma política externa soberana.
Haddad
está comprometido com a valorização das estatais, das empresas e bancos
públicos, redução dos juros, isenção do imposto de renda para trabalhadores e
trabalhadoras que ganham até cinco salários mínimos e de impostos para os mais
pobres, manutenção da Previdência Social como política pública e a valorização
das aposentadorias. O fim das privatizações e a valorização de todo setor
energético, com a consequente redução das tarifas de combustíveis, luz e gás,
também são compromissos já firmados.
Há uma
massa de trabalhadores, desempregados e desalentados, sendo iludida pelo canto
de sereia, desorientada pela profusão de notícias falsas e disseminação do
ódio. Por isso, conclamamos uma reflexão pela democracia e por um futuro melhor
para todos e todas.
Fernando
Haddad personifica a democracia e a possibilidade de lutarmos por mudanças que
o povo reclama e anseia: educação e saúde públicas de qualidade para toda a
população, moradia, segurança, democracia, soberania e bem-estar social. Haddad
colocará o povo brasileiro em primeiro lugar.
Por
todas essas razões, as centrais sindicais brasileiras estão unidas neste
segundo turno com Fernando Haddad. E, com a certeza de que Haddad é o melhor
candidato, conclama a classe trabalhadora e o povo brasileiro a participar da
campanha e votar para eleger Haddad o próximo presidente do Brasil.
Somente
juntos conseguiremos defender a democracia, a soberania nacional e a
valorização do trabalho e da classe trabalhadora.
São
Paulo, 10 de outubro de 2018.
Vagner
Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores - CUT
Miguel
Torres, presidente da Força Sindical
Ricardo
Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores - UGT
Adilson
Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - CTB
José
Avelino Pereira (Chinelo), presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros -
CSB
José
Calixto Ramos, presidente Nova Central Sindical dos Trabalhadores - NCST
Edson
Índio, secretário-geral da Intersindical