O filósofo participou de um encontro com
jornalistas da mídia alternativa, nesta segunda-feira (17), em São Paulo
Filósofo Noam Chomsky participa de
encontro com jornalistas independentes em São Paulo / Júlia Dolce
Noam Chomsky,
linguista, filósofo e um dos mais importantes pensadores e ativistas
anticapitalistas da atualidade, compareceu a um encontro com jornalistas da
mídia alternativa, na noite desta segunda-feira (17), na sede do Centro de
Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo.
Em uma
fala de trinta minutos, Chomsky comentou o poder de manipulação da opinião
pública dos meios de comunicação hegemônicos e opinou que a grande
mídia latino-americana tem um conhecido histórico golpista. O filósofo deu
inicio à sua fala apresentando a introdução do livro “Revolução dos Bichos”, do
escritor George Orwell, originalmente censurada. O texto afirma que na
Inglaterra não era preciso violência para haver opressão e totalitarismo e
destaca o papel da grande mídia nesse processo.
“Quando
você olha para a estrutura institucional da mídia, pertencentes a grandes empresas,
o produto somos nós. A estrutura da mídia são grandes corporações vendendo as
pessoas para outras corporações e anunciantes”.
Chomsky ressaltou
exemplos de veículos de comunicação latino-americanos que abertamente se
posicionaram pela derrubada de governos de esquerda nas últimas décadas,
como o jornal La Prensa, na Nicarágua, e a RCTV, na
Venezuela. “Governos de esquerda na América Latina sempre permitiram que
as mídias funcionassem e ela é, frequentemente, muito hostil a esses
governos. Isso é um problema, porque esses governos estiveram e estão sob
um ataque amargo. Em um país livre, isso seria inconcebível”, afirmou.
O
filósofo destacou que o governo Lula é um dos principais exemplos
de condescendência com a mídia, mesmo sendo completamente atacado por
ela.
“O
Brasil se tornou o país com melhor perspectiva do mundo durante os governos de
Lula. Em uma forma que nunca tinha acontecido antes. Isso durou até o
colapso do governo do PT. Mas isso pode ser alcançado novamente, não há razão
para o país não voltar a essa posição”, disse.
Nos
últimos meses, Chomsky se engajou na campanha pela libertação do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, defendendo o ex-presidente do que chama
de perseguição política e ressaltando que, por direito, ele
seria eleito presidente. Sobre a recente decisão do Comitê de Direitos
Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), que determina que Lula deve ter
o direito de ser candidato à presidente, o filósofo destacou a dependência que
a organização tem dos estados poderosos.
“Os
Estados Unidos não prestam nenhuma atenção ao Comitê de Direitos Humanos da
ONU. A ONU não é uma força independente, então, atua até onde os países
poderosos permitem”, opinou. No entanto, Chomsky destaca que os EUA já não
possui o mesmo poder sobre os países latino-americanos. “A América Latina já
conseguiu se livrar, no passado, do controle direto dos Estados Unidos”,
afirmou.
Questionado
sobre o fenômeno de estudantes e profissionais latino-americanos que, após
intercâmbio nos Estados Unidos, exportam conhecimentos liberais para seus
países, Chomsky ressaltou o fenômeno dos "Chicago Boys", economistas
chilenos que estudaram na cidade estadunidense de Chicago e, posteriormente,
formularam a política econômica da ditadura do general Augusto Pinochet, no
Chile. Em um alerta, o filósofo ressaltou que o economista do candidato Jair
Bolsonaro e nome para o Ministério da Fazenda caso ele seja eleito, Paulo
Guedes, representa o mesmo fenômeno. Guedes é doutor em economia pela
Universidade de Chicago, instituição referência no pensamento econômico
liberal.
Fonte: Brasil de Fato