Em entrevista ao Estadão, chefe da PF revela pressões que sofreu para
desobedecer decisão judicial que concedeu habeas corpus ao ex-presidente
PT quer que PGR dê
satisfação ao Senado e que CNJ puna "ativismo judicial administrativo"
de juízes do TRF-4
|
São Paulo – O
diretor-geral da Polícia Federal (PF), Rogério Galloro, revelou em entrevista
ao jornal O Estado de S. Paulo neste
domingo (12) que sofreu e aceitou pressões da procuradora-geral da
República, Raquel Dodge, e do presidente do TRF-4, Thompson Flores, para
desobedecer decisão judicial de soltar o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva tomada pelo desembargador Rogério Favreto há
pouco mais de um mês.
O diretor da PF relata que informou ao
ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, – a quem a PF é subordinada – que
cumpriria a decisão de Favreto de libertar Lula por conta da concessão de um
habeas corpus. "Em seguida, a (procuradora-geral da República) Raquel
Dodge me ligou e disse que estava protocolando no STJ (Superior Tribunal de
Justiça) contra a soltura. ‘E agora?’ Depois foi o (presidente do TRF-4)
Thompson (Flores) quem nos ligou. ‘Eu estou determinando, não soltem’. O
telefonema dele veio antes de expirar uma hora. Valeu o telefonema."
Às revelações de Galloro, soma-se também
nota da revista Veja afirmando
que o desembargador João Gebran Neto, relator do processo contra Lula no TRF-4,
teria assumido a amigos que "que ignorou a letra fria da lei ao dar
decisão contrária à soltura de Lula, desconsiderando a competência do juiz de
plantão", para impedir a libertação do ex-presidente.
Em nota, o PT afirma que a
sequência de ações narradas por Galloro expõe "as entranhas do abuso
de autoridade, da violência jurídica,
da desfaçatez de quem tem de observar leis e regras e age por conveniência
política". A presidenta da legenda, senadora Gleisi Hoffmann (RS),
declarou que vai apresentar pedido de convocação para que Raquel Dodge se
explique ao Senado sobre a intromissão indevida. Ela cobrou também medidas do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a respeito do que chamou de
"ativismo judicial administrativo" dos desembargadores Flores e
Gebran.
"O Brasil não pode mais conviver com
a exceção, a ilegalidade e a injustiça. Não vamos aceitar passivamente a perseguição política e
injusta ao presidente Lula, que envergonha o país aos olhos da comunidade
internacional. Vamos exigir de todas as formas que seja respeitado o direito do
povo votar em quem melhor o representa", diz a nota do PT, assinada por
Gleisi, e pelos líderes do partido no Senado – Lindbergh Farias – e na Câmara –
deputado Paulo Pimento.
Para o professor de Direito Processual
Penal da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Afrânio Silva Jardim,
um dos mais renomados juristas do país, diz que o caso precisa
ser devidamente apurado, via inquérito policial e também através da
instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional.
"Se tudo isso for verídico, será uma desmoralização total para os
magistrados envolvidos e (para) a procuradora-geral da República", afirmou
o jurista pelas redes sociais.
Fonte:
RBA