Representando oito estados do País, os médicos
participarão da Vigília e tentarão entregar carta ao Lula
Profissionais
de Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo,
Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Ceará estarão na mobilização / RNMMP
Quarenta médicos
de oito estados do Brasil chegam a Curitiba a partir desta quarta-feira (8)
para se somar à Vigília Lula Livre. Os profissionais integram a Rede Nacional
de Médicas e Médicos Populares (RNMMP) e os Médicos pela Democracia, e estarão
na mobilização pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
detido desde o dia 7 de abril na Superintendência da Polícia Federal.
Após a
chegada dos médicos, na parte da manhã, acontece uma roda de conversa sobre a
saúde da população negra. À tarde, os ativistas irão se integrar no apoio da
Vigília Lula Livre.
A comitiva
de médicas e médicos tem o objetivo de entregar, na quinta-feira (9), uma carta
a Lula e realizar uma visita de caráter humanitário ao ex-presidente. A médica
pernambucana Andreia Campigotto falou sobre a mobilização. “A ideia é a
gente se concentrar às 8h30. Participar do Bom dia, Presidente. Vamos
fazer uma roda de conversa sobre o desmonte do SUS pelo golpe”.
No
período da tarde, estarão integrados nas atividades da Vigília, e no final da
tarde farão uma concentração em frente a sede da PF. “Fazer uma conversa com o
delegado de plantão, para ver se conseguimos uma visita com um caráter de
missão médica, humanitária mesmo”, explicou a médica.
Andreia
acrescenta que, se viabilizada a visita, avaliarão “as
condições físicas, psíquicas, que ele se encontra nesse processo de
encarceramento”.
Os
profissionais oriundos de Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo,
Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Ceará, das duas organizações, pretendem ainda
denunciar as medidas antidemocráticas que o atual governo Michel Temer (MDB)
“tem adotado contra o povo brasileiro”. Campigotto cita, como exemplo, o
desmonte das políticas públicas e a Emenda Constitucional 95.
Segundo
ela, a iniciativa assume um caráter simbólico também, por se tratar de uma
categoria [médica] historicamente hegemonizada por um pensamento conservador.
Campigotto,
representando a Rede, e Vitor Rocha, representando os Médicos pela Democracia,
tentarão a visita a Lula nesta quinta-feira (9). “Entregar pessoalmente essa
carta dirigida ao presidente Lula e ao povo brasileiro. Uma carta que foi
redigida pelas duas organizações”.
O
documento, dirigido também ao povo brasileiro, faz críticas ao projeto golpista,
que vem promovendo ataques às políticas públicas e à democracia.
De
Curitiba, a médica, assim como outros profissionais, seguirá para a Marcha do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Brasília.
Militantes
da RNMMP estão engajados no Setor de Saúde do MST, que acompanhará entre 10 e
15 agosto a Marcha a Brasília. Há também alguns ativistas da Rede monitorando a
saúde dos militantes em greve de fome.
Confira abaixo a íntegra do
documento:
Carta
Aberta a Luiz Inácio Lula da Silva e à população brasileira
Nós, médicas e médicos
participantes de movimentos e entidades que lutam em defesa da democracia e da
saúde pública universal, gratuita, integral e de qualidade, em diversos estados
da República Federativa do Brasil, iremos em comitiva à Curitiba, com o
objetivo de realizar uma visita de caráter médico ao cidadão Luís Inácio Lula
da Silva, além de nos somarmos à vigília por sua liberdade, no contexto de uma
detenção arbitrária, sem provas e de clara motivação política, que se arrasta desde
7 de abril de 2018.
Primeiramente, a visita a Lula
cumpre um caráter humanitário, uma vez que o encarceramento e isolamento o
deixam exposto ao risco de diversas doenças físicas e, em especial, psíquicas,
de graves repercussões médicas, risco este agravado pelas circunstâncias de sua
prisão em flagrante desrespeito à Constituição Federal e de cerceamento ao
direito de defesa amplo e irrestrito, com evidente propósito de impedir sua
vida política e o seu contato com o povo brasileiro.
Compreendemos, portanto, ser
Lula, em pleno século XXI, um preso político no Brasil. Por esse motivo, nossa
visita tem também como objetivo a defesa das liberdades democráticas a um
cidadão brasileiro, como parte de nossa luta pela democracia no Brasil,
atingida violentamente pela destituição de uma presidenta legitimamente eleita,
seguida da imposição de um projeto de governo antipopular e antidemocrático ao
povo brasileiro.
Este projeto, não legitimado
nas urnas, inclui a Emenda Constitucional 95, a PEC DA MORTE, aprovada logo
após o golpe, por uma maioria parlamentar sem compromisso com a população
brasileira. A EC 95 congela por 20 anos os investimentos sociais,
impossibilitando o desenvolvimento de políticas públicas essenciais e
inviabilizando a democracia.
Além da PEC DA MORTE, os
partícipes do golpe jurídico-parlamentar-midiático dão sequência a um desmonte
avassalador do Estado brasileiro, com impacto na soberania nacional e
inaceitáveis retrocessos nas políticas de Saúde, Assistência Social e
Previdência Social.
Na condição de profissionais da
saúde, vemos com imensa preocupação o desmonte sistemático do Sistema Único de
Saúde (SUS), maior política pública do país, que universaliza o acesso do povo
brasileiro aos serviços de saúde.
Hoje, sob sucessivos ataques
dos golpistas, o SUS padece pelo: 1) subfinanciamento orçamentário; 2)
fragilização da política de Atenção Primária; 3) redução do Programa Mais
Médicos; 4) retrocesso na atenção à saúde de pessoas com sofrimento mental, com
retomada de comunidades terapêuticas e leitos psiquiátricos em detrimento dos
CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e demais serviços substitutivos; 5)
privatização da saúde através de “planos populares” e sua exploração pelo
capital estrangeiro.
Portanto, muitos motivos nos
trazem nessa visita a LULA: nossa solidariedade a um cidadão injusta e
ilegalmente detido há meses e nosso compromisso na defesa do Estado Democrático
de Direito e do Estado de Bem-Estar Social para todas as brasileiras e
brasileiros, o que necessariamente exige uma política de saúde universal,
gratuita, integral e de qualidade.
Ousar
lutar, ousar vencer!
Movimento
de Médicos pela Democracia
Rede
Nacional de Médicas e Médicos Populares
Fonte: Brasil de Fato