Pesquisadores afirmam que opção política do governo
Temer para os preços dos combustível é equivocada
Complexo da
Petrobras no Rio de Janeiro; refinarias operam com dois terços de sua
capacidade / Divulgação
A política adotada
pelo governo Temer (MDB) para a Petrobras aumentou o preço da gasolina em
52,4% no último ano. Já a alta acumulada do diesel atingiu 49,9% no mesmo
período.
Pesquisadores
ouvidos pelo Brasil de Fato atrelam
a alta com a política de vinculação dos preços ao mercado internacional e
defendem que a Petrobras poderia diminuir o valor dos combustíveis e, ainda
assim, manter lucratividade da empresa.
Entre
abril a maio deste ano, o preço da gasolina aumentou 20% e do diesel,
18%. nas refinarias. Para o consumidor final, o impacto foi ainda maior:
nos postos, a gasolina subiu 47% e o diesel teve uma alta de 38% no mesmo
período.
O
economista e pesquisador do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese), Iderley Colombini, explica que a medida
prejudicou tanto os consumidores finais quanto a Petrobras, que perdeu mercado
para os importados e, consequentemente, geração de caixa.
"Ela
poderia aumentar a sua produção interna, diminuir a importação de combustíveis
e derivados e, aumenta o volume de combustíveis, com uma margem lucro talvez
menor, só que uma quantidade maior não tendo que importar. O que também
elevaria o lucro [total da empresa]", pontua o economista do Dieese.
Com a
medida adotada em outubro de 2016, o número de importações disparou no país. Em
2017, o volume de compras externas de gasolina e diesel subiram 82% e 67%,
respectivamente.
E a
estatal brasileira optou por reduzir a capacidade de operação das suas
13 refinarias. Segundo levantamento do Dieese, elas operam com dois terços
da sua capacidade, que é de 2,4 milhões de barris de petróleo por
dia.
O
contingente supre a demanda interna do país de 2,2 milhões barris por dia — e
poderia exportar 200 mil barris por dia. Mas, em abril deste ano, as refinarias
processaram apenas 1,6 milhão de barris por dia.
O
petróleo brasileiro é um petróleo pesado. Por sua vez, as refinarias,
normalmente, utilizam o petróleo leve. Por isso, a necessidade de importação de
petróleo leve, para mesclar com o produto pesado nacional e produzir o derivado
que é a gasolina. Porém, nos últimos anos, o governo Temer diminuiu a
importação do petróleo leve, diminuindo o nosso refino, e aumentou a importação
do derivado.
"Se
ele aumentasse a produção interna e aumentasse um pouco a importação do
petróleo leve para
conseguir juntar com nosso petróleo e produzir autonomamente, você conseguiria
ter lucro e, ao mesmo tempo, abastecer o mercado nacional com a produção
interna", explica Colombini.
Para o
presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), Felipe Coutinho,
não há contradição entre o interesse da Petrobras e o do consumidor.
"Muitos
argumentos do mercado financeiro referem-se ao petróleo brasileiro como sendo
petróleo pesado e que as refinarias funcionam com petróleo leve e, por isso,
haveria necessidade de importações de petróleo leve para conseguir fazer o
derivado da gasolina", afirma.
"Mas,
se a Petrobras aumentasse a produção interna e aumentasse um pouco a importação
do petróleo eleve para conseguir juntar com nosso petróleo e produzir
autonomamente, você conseguiria ter lucro e, ao mesmo tempo, abastecer o
mercado nacional com a produção interna."
O
coordenador do Sindicato Único dos Petroleiros da Bahia, Deyvid Bacelar,
afirma que a decisão do país é política. Ele lembra que Brasil aumentou as
importações mesmo em um cenário de retração do PIB e baixa na demanda interna
pelo produto.
"Com essa
política de preços que varia no mercado internacional, ou seja, em cima do
preço do barril de petróleo e do dólar, qualquer importador hoje vai ter
interesse em pegar petróleo lá mais barato — e aqui falamos dos EUA, que tem
refinarias com custo baixo de produção. Então, estão trazendo para cá com
um preço mais baixo e vendendo por um preço marcado do mercado
internacional", afirma o sindicalista.
No
mesmo sentido, Colombini afirma que o objetivo dos altos preços e redução da
capacidade das refinarias é responder a um jogo de interesses.
"Isso
está dentro da estratégia do governo de privatização das empresas. Grande parte
das refinarias estão à venda, estão em processo de serem privatizadas. O que o
governo tem tentado fazer é reduzir a capacidade de produção, dispensando parte
do efetivo de trabalhadores e colocando as empresas para serem vendidas e
atrelando a Petrobras ao mercado financeiro", finalizou.
Fonte:
Brasil de Fato