"A pretexto de se combater a corrupção, que todos
combatemos, desmontou-se a capacidade gerencial e tecnológica da nossa
engenharia, acumulada nas seis últimas décadas, para que o nosso mercado seja
ocupado por empresas estrangeiras, quando há mais de 60 mil engenheiros
desempregados. A nossa engenharia estava presente em 41 países, não tinha medo
de competir, ao contrário, conquistava mais e mais mercados. Hoje, luta para se
manter à tona", diz Pedro Celestino
Do portal
Vermelho – "Impõe-se resistir ao desmonte
e lutar por uma proposta de desenvolvimento que assegure empregos para o nosso
povo", declarou Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia ao
jornal O Metalúrgico. Diante da onda de retirada de direitos imposta pelo governo
de Michel Temer, o dirigente afirma: "Democracia não é uma palavra vazia;
direitos trabalhistas, sociais e previdenciários da classe trabalhadora são
parte da democracia, e contam com o nosso irrestrito apoio".
Confira a entrevista na íntegra:
O Metalúrgico: Para o Brasil sair da crise, os metalúrgicos
defendem a retomada do desenvolvimento econômico com forte apoio à
industrialização do país. Qual a posição dos engenheiros com relação a esta
proposta desenvolvimentista?
Pedro Celestino: Não há como assegurar a paz social
sem uma proposta de desenvolvimento. Nas últimas oito décadas, passamos da
condição de simples exportadores de café, cacau, açúcar e borracha para de uma
das maiores economias do mundo. Hoje, estamos submetidos ao desmonte das
conquistas econômicas e sociais que tivemos, para voltarmos à condição de
colônia. A Petrobras, por exemplo, era responsável por uma cadeia de cinco mil
fornecedores, nacionais e estrangeiros, responsáveis por cerca de 800 mil
empregos especializados. Está sendo dilapidada, para que seja uma pequena
produtora de petróleo bruto, e passe a importar o que é produzido aqui.
Impõe-se resistir ao desmonte e lutar por uma proposta de desenvolvimento que
assegure empregos para o nosso povo.
Quais as principais propostas de sua categoria para que o país se
desenvolva com geração de empregos de qualidade, distribuição de renda, justiça
e inclusão social?
São
cinco os eixos principais da nossa proposta. O desenvolvimento industrial de
ponta, que emprega mão de obra altamente qualificada, contempla o
fortalecimento da Petrobras, da Embraer e da indústria nuclear. Por outro lado,
o Brasil hoje tem 80% da sua população vivendo em cidades, que demandam
investimentos em habitação, saneamento, mobilidade, etc., que empregam muita
mão de obra de menor qualificação. Igualmente, investimentos em infraestrutura
em um país de área continental, serão necessários por muitas décadas ainda. Por
exemplo, passamos de 800 km de rodovias pavimentadas em 1955 para os atuais 220
mil km, quando os Estados Unidos e a China já têm quatro milhões de km. No
campo, o agronegócio é cada vez mais tecnificado, empregando mão de obra
qualificada a utilizar equipamentos produzidos pela nossa indústria, enquanto a
agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos que chegam à nossa
mesa, emprega muita mão de obra de menor qualificação.
Nosso atual lema é a Luta faz a Lei, que serve para impulsionar as
lutas contra a aplicação da lei da reforma trabalhista na base metalúrgica e em
defesa das conquistas da convenção coletiva. Qual a sua opinião sobre a reforma
trabalhista? Ela deve ser revogada?
Reformas
de legislação que afetem direitos sociais devem ser precedidas de amplo debate,
para que se preserve o que foi conquistado em lutas anteriores. A "reforma"
vigente precariza o trabalho e enfraquece o sindicato, principal instrumento de
luta organizada dos trabalhadores, pelo que a luta pela sua revogação é
prioritária.
Nós defendemos o voto em candidatos aos governos e parlamentos que
assumam o compromisso de defender os direitos trabalhistas, sociais e
previdenciários da classe trabalhadora. Temos, porém, um descrédito grande da
sociedade com a política. E o reflexo disto está em pesquisas que indicam
grande intenção de votos brancos e nulos. De que modo o Clube de Engenharia
pretende se posicionar nas eleições gerais de 2018?
O Clube
de Engenharia pauta a sua atuação pela defesa da democracia, da soberania
nacional e da engenharia, sem envolvimento político-partidário. Democracia não
é uma palavra vazia; direitos trabalhistas, sociais e previdenciários da classe
trabalhadora são parte da democracia, e contam com o nosso irrestrito apoio.
Há uma forte onda conservadora no país, com ataques ao movimento
sindical e criminalização de movimentos sociais. Ao mesmo tempo, temos a
necessidade de ampliarmos a sindicalização e a participação dos trabalhadores
em nossas ações coletivas. Como equacionar estas questões?
A força
do sindicato depende da capacidade da sua direção encaminhar as reivindicações
concretas da base. Hoje, por exemplo, a luta contra o desemprego e a campanha
com o mote "nenhum direito a menos" são as que mais mobilizam. Por
outro lado, a unidade de ação se impõe para enfrentar a ofensiva em curso
contra direitos históricos dos trabalhadores.
No cenário político atual, com recente greve dos caminhoneiros,
como o Clube de Engenharia se posiciona com relação à Petrobras, política de
preços e suas consequências para o Brasil?
O Clube
de Engenharia se posiciona contra o desmonte da Petrobras e pelo restabelecimento
do seu papel como âncora do desenvolvimento industrial do nosso país. A
política de preços da Petrobras deve voltar a ser a que sempre praticou ao
longo da sua história: preços suficientes para assegurar à empresa a margem de
lucro indispensável para garantir o seu programa de investimentos, e não
atualmente praticados, especulativos, que levaram os caminhoneiros à loucura, e
prejudicam, pela sua imprevisibilidade, todas as atividades da economia.